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RECEITA ORTODOXA
Importação de bens de capital sofre queda de 30,6%, enquanto empréstimos do BNDES recuam 9,4%
Investimentos caem e apontam recessão
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os indicadores de investimentos da indústria e da construção
civil caíram de forma significativa
no começo do ano, o que confirma a trajetória de recessão e deve
comprometer uma recuperação
na segunda metade do ano.
Segundo dados do Banco Central, a produção de insumos da
construção civil recuou 5,15% nos
primeiros quatro meses deste ano
em relação ao mesmo período do
ano passado. A importação de
bens de capital (máquinas e equipamentos) caiu 30,60%.
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) concedeu 9,42% menos
empréstimos do que nos quatro
primeiros meses de 2002. A instituição é a principal fonte de capital de longo prazo do país.
Os números mostram que o setor real da economia tem aplicado
menos recursos. Isso gera dois
efeitos. O primeiro é uma queda
na atividade. O segundo é que a
falta de investimentos pode criar
gargalos em determinados setores da indústria, o que dificultaria
a recuperação da economia.
"O país caminha para uma recessão de proporções significativas no segundo semestre. Eu não
tenho mais dúvidas sobre isso",
diz o economista da Unicamp Ricardo Carneiro, um dos colaboradores do programa de governo do
então candidato Lula
Para Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank, alguns setores não teriam mobilidade para
aumentar rapidamente sua capacidade produtiva, como no caso
da siderurgia. "Pode ocorrer nesses casos alguma pressão inflacionária ou aumento das importações para atender a demanda."
Os investimentos no setor real
da economia vêm caindo desde
2001. Segundo dados do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), a FBCF (formação
bruta de capital fixo) -indicador
de taxa de investimento na economia- em proporção do PIB
(Produto Interno Bruto) naquele
ano foi de 19,45%. No ano passado, ficou em 18,71%.
A expectativa do BC para o primeiro trimestre é que a FBCF (em
termos anualizados) seja ainda
menor. "E vão cair mais [os investimentos]. Não há como não cair.
A indústria não está vendendo, a
apreciação do real tende a reduzir
as exportações de bens manufaturados, o governo está gastando
menos. Por que a indústria iria
aumentar os investimentos para
ampliar a capacidade produtiva?", pergunta Carneiro.
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