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São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

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CIRANDA FINANCEIRA

Controle no reajuste dos preços torna aplicações menos atraentes, e carteiras perdem recursos

Investidor foge de fundo indexado à inflação

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A alta dos preços perdeu força, e os investidores correram para sacar seus recursos aplicados nos fundos de investimento atrelados à inflação. Desde o início do ano, o resgate de alguns desses fundos chegou a superar 90% do patrimônio.
Em meados de outubro do ano passado, quando a inflação ameaçava explodir, instituições financeiras lançaram vários fundos de investimentos que prometiam rentabilidade igual ou mesmo superior aos índices de preços. Atraídos pela perspectiva de ganho rápido, muita gente aplicou recursos nesses produtos. Quanto mais a inflação sobe, maiores são os ganhos com esse tipo de investimento.
Um exemplo é o fundo IGP da Votorantim Asset Management, lançado em outubro de 2002. O fundo começou com patrimônio líquido de pouco mais de R$ 445 mil. No fim de novembro, o fundo contava com patrimônio de R$ 95 milhões.
Mês a mês, com a inflação não saindo fora de controle como esperavam alguns, o patrimônio do fundo de investimento foi evaporando, até chegar ao último dia 12 com apenas R$ 630 mil, quase o mesmo volume de quando foi lançado. Os dados são do site Fortuna.
"A entrada forte de recursos [no fim do ano passado] estava ligada à perspectiva de que a inflação sairia de controle. A atual saída marca a reversão dessa perspectiva", afirma Marco Antonio Fichtner, diretor-executivo da Votorantim Asset Management.
A rentabilidade desses fundos no ano ainda é alta, mas vai perder ritmo se a desaceleração da inflação seguir daqui para a frente. A segunda prévia do IGP-M deste mês apresentou uma deflação (queda de preços) de 0,66%.

Retorno
Enquanto no ano, até maio, o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) tinha alta de 6,97%, o fundo de inflação da Santos Asset Management, por exemplo, dava ganho de quase 10%. É que, além de repassar a alta dos índices de preços, essas aplicações pagam uma taxa de juros.
Para Alexandre Graever, gestor de renda fixa da Santos Asset Management, quem ainda está nesse tipo de fundo é o grande investidor que está em busca de "hedge" (proteção) contra a disparada dos preços.
"O investidor de última hora, aquele que queria apenas aproveitar o momento para conseguir um ganho rápido, já foi embora", afirma Graever.
No fundo da Santos, que chegou a ter patrimônio de R$ 2,3 milhões, restam atualmente cerca de R$ 700 mil. Esse tipo de fundo é formado basicamente por títulos públicos atrelados ao IGP-M, as NTN-C (Notas do Tesouro Nacional série C). Os papéis pagam juros além da variação do índice.
A crescente demanda fez o Tesouro chegar a realizar leilões extraordinários no ano passado para ofertar NTN-C.
Outro fundo que perdeu muitos recursos é o Citi Price IGP-M, do Citibank. O fundo chegou a ter patrimônio superior a R$ 105 milhões em dezembro. Hoje restam pouco mais de R$ 6 milhões.

Medo de corrida
No fim do ano passado, pouco depois de os fundos de inflação se tornarem a coqueluche do mercado financeiro, muitas instituições financeiras passaram a vetar ou limitar a entrada de recursos nesse tipo de aplicação.
O temor era de que os saques acontecessem de forma tão acelerada como foi a entrada de recursos nesses fundos. Um movimento desse tipo poderia gerar prejuízos para as instituições financeiras, pois as obrigaria a vender os títulos que compõem os fundos rapidamente no mercado. Quanto maior a oferta, menores os preços dos papéis.
De um modo geral, o banco pega os recursos do cliente interessado em aplicar em um desses fundos e compra um papel indexado à inflação. Na hora que o investidor quer sacar, a instituição tem de vender o papel para devolver os recursos ao cliente. Se todos fizessem isso em um prazo muito curto de tempo, não haveria compradores no mercado.
Se o desmonte desses fundos não aconteceu de forma tão rápida como os bancos temiam, o sucesso do produto suportou apenas alguns poucos meses.
Gestores de fundos consultados afirmam que não têm a intenção de fechar os produtos nesse momento, mesmo com a saída forte de recursos. "Mesmo em queda, a inflação ainda preocupa. Isso faz com que ainda hajam alguns investidores preocupados em buscar hedge nesse tipo de aplicação", diz Graever.


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