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CIRANDA FINANCEIRA
Controle no reajuste dos preços torna aplicações menos atraentes, e carteiras perdem recursos
Investidor foge de fundo indexado à inflação
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A alta dos preços perdeu força, e
os investidores correram para sacar seus recursos aplicados nos
fundos de investimento atrelados
à inflação. Desde o início do ano,
o resgate de alguns desses fundos
chegou a superar 90% do patrimônio.
Em meados de outubro do ano
passado, quando a inflação ameaçava explodir, instituições financeiras lançaram vários fundos de
investimentos que prometiam
rentabilidade igual ou mesmo superior aos índices de preços.
Atraídos pela perspectiva de ganho rápido, muita gente aplicou
recursos nesses produtos. Quanto
mais a inflação sobe, maiores são
os ganhos com esse tipo de investimento.
Um exemplo é o fundo IGP da
Votorantim Asset Management,
lançado em outubro de 2002. O
fundo começou com patrimônio
líquido de pouco mais de R$ 445
mil. No fim de novembro, o fundo
contava com patrimônio de R$ 95
milhões.
Mês a mês, com a inflação não
saindo fora de controle como esperavam alguns, o patrimônio do
fundo de investimento foi evaporando, até chegar ao último dia 12
com apenas R$ 630 mil, quase o
mesmo volume de quando foi
lançado. Os dados são do site Fortuna.
"A entrada forte de recursos [no
fim do ano passado] estava ligada
à perspectiva de que a inflação sairia de controle. A atual saída marca a reversão dessa perspectiva",
afirma Marco Antonio Fichtner,
diretor-executivo da Votorantim
Asset Management.
A rentabilidade desses fundos
no ano ainda é alta, mas vai perder ritmo se a desaceleração da inflação seguir daqui para a frente.
A segunda prévia do IGP-M deste
mês apresentou uma deflação
(queda de preços) de 0,66%.
Retorno
Enquanto no ano, até maio, o
IGP-M (Índice Geral de Preços do
Mercado) tinha alta de 6,97%, o
fundo de inflação da Santos Asset
Management, por exemplo, dava
ganho de quase 10%. É que, além
de repassar a alta dos índices de
preços, essas aplicações pagam
uma taxa de juros.
Para Alexandre Graever, gestor
de renda fixa da Santos Asset Management, quem ainda está nesse
tipo de fundo é o grande investidor que está em busca de "hedge"
(proteção) contra a disparada dos
preços.
"O investidor de última hora,
aquele que queria apenas aproveitar o momento para conseguir
um ganho rápido, já foi embora",
afirma Graever.
No fundo da Santos, que chegou
a ter patrimônio de R$ 2,3 milhões, restam atualmente cerca de
R$ 700 mil. Esse tipo de fundo é
formado basicamente por títulos
públicos atrelados ao IGP-M, as
NTN-C (Notas do Tesouro Nacional série C). Os papéis pagam juros além da variação do índice.
A crescente demanda fez o Tesouro chegar a realizar leilões extraordinários no ano passado para ofertar NTN-C.
Outro fundo que perdeu muitos
recursos é o Citi Price IGP-M, do
Citibank. O fundo chegou a ter
patrimônio superior a R$ 105 milhões em dezembro. Hoje restam
pouco mais de R$ 6 milhões.
Medo de corrida
No fim do ano passado, pouco
depois de os fundos de inflação se
tornarem a coqueluche do mercado financeiro, muitas instituições
financeiras passaram a vetar ou limitar a entrada de recursos nesse
tipo de aplicação.
O temor era de que os saques
acontecessem de forma tão acelerada como foi a entrada de recursos nesses fundos. Um movimento desse tipo poderia gerar prejuízos para as instituições financeiras, pois as obrigaria a vender os
títulos que compõem os fundos
rapidamente no mercado. Quanto maior a oferta, menores os preços dos papéis.
De um modo geral, o banco pega os recursos do cliente interessado em aplicar em um desses
fundos e compra um papel indexado à inflação. Na hora que o investidor quer sacar, a instituição
tem de vender o papel para devolver os recursos ao cliente. Se todos
fizessem isso em um prazo muito
curto de tempo, não haveria compradores no mercado.
Se o desmonte desses fundos
não aconteceu de forma tão rápida como os bancos temiam, o sucesso do produto suportou apenas alguns poucos meses.
Gestores de fundos consultados
afirmam que não têm a intenção
de fechar os produtos nesse momento, mesmo com a saída forte
de recursos. "Mesmo em queda, a
inflação ainda preocupa. Isso faz
com que ainda hajam alguns investidores preocupados em buscar hedge nesse tipo de aplicação", diz Graever.
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