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São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

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RECEITA EXTRA

A custo zero, instituições financeiras engordam caixa ao empregar recursos de clientes em operações de crédito

Banco lucra com dinheiro parado na conta

DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto o dinheiro dos correntistas fica parado nas contas, os bancos aproveitam para lucrar alguns milhões de reais.
Mesmo com a alta alíquota do compulsório, que obriga as instituições financeiras a manterem 60% dos depósitos à vista -basicamente contas correntes- presos no Banco Central, os bancos ainda têm alguns bilhões para girarem no mercado financeiro e engordarem um pouco mais seus ganhos.
Além do compulsório -recursos que os bancos têm de recolher em uma conta no BC-, os bancos são obrigados a destinar 25% dos depósitos à vista para financiar a agricultura. Mesmo assim, resta um volume alto de recursos disponíveis para giros financeiros: em abril, esse montante chegava a R$ 8 bilhões.
Estudo realizado pela ABM Consulting, com base em dados do Banco Central, mostra o quanto os bancos podem lucrar aplicando o dinheiro livre do correntista em diferentes modalidades de crédito.
Para as instituições financeiras, pelas modalidades analisadas pela consultoria, o mais rentável seria direcionar esses recursos para as operações de cheque especial. Segundo o estudo da ABM, os bancos poderiam ganhar algo em torno de R$ 713 milhões apenas em abril com o que havia nas contas correntes naquele mês (já descontado o compulsório e o crédito rural obrigatório) em operações desse tipo.
Não é possível saber com exatidão onde cada instituição coloca esses recursos, pois nos balanços as operações não aparecem de forma diferenciada.
"Os recursos da conta corrente são livres de taxa de captação, ou seja, não custam nada para os bancos. Por isso, qualquer operação que fizerem com esse dinheiro é altamente rentável", afirma Alan Marinovic, analista financeiro da ABM Consulting.

Segurança
Emprestar para o governo, por meio da compra de títulos públicos, é a operação que renderia menos às instituições. Mas a vantagem em aplicar em títulos públicos é o baixo grau de risco de calote -em comparação à pessoa física e à jurídica.
Na aplicação em um título público que segue a Selic (taxa básica de juros), por exemplo, o retorno das contas correntes em abril para o sistema bancário seria algo em torno de R$ 157 milhões. Já um papel do governo atrelado a um índice de preços, como as NTN-C (Notas do Tesouro Nacional série C), daria retorno no mês analisado de algo em torno de R$ 178 milhões.
Para Clive Botelho, diretor financeiro do banco Santos, o que os bancos ganham com o dinheiro parado na conta corrente já não é tão importante para o resultado final das instituições como foi no passado.
"O montante de 15% dos depósitos à vista que sobra para os bancos movimentarem não é mais tão relevante. Se pensarmos em alguns anos atrás, aí sim, a movimentação desses recursos era importantíssima para o ganho dos bancos", diz Botelho.

Oscilação
Os possíveis ganhos dos bancos com os recursos livres das contas correntes podem oscilar muito, dependendo das taxas de juros vigentes no período das aplicações ou do volume de dinheiro depositado nas instituições. Também há as mudanças nas alíquotas dos depósitos compulsórios. O mercado espera que o BC anuncie em breve uma redução das alíquotas, o que aumentaria o volume de recursos disponível para crédito. O BC aumentou pela última vez o compulsório em fevereiro, como parte das medidas tomadas para enxugar a liquidez e diminuir a pressão sobre os preços.
"Além do tamanho do compulsório e das taxas de juros, há meses que são melhores para os bancos ganharem dinheiro com os recursos das contas. Nos meses de dezembro, por exemplo, as contas engordam com a chegada do 13º salário", diz Marinovic.
Mesmo com a elevação da alíquota do depósito compulsório entre dezembro de 2001 e dezembro de 2002, o ganho possível com os depósitos à vista aumentou em algumas operações entre os dois períodos. É que os juros subiram consideravelmente de um ano para o outro. A Selic sofreu elevação de 19% no fim de 2001 para 25% anuais em dezembro do ano passado.
Pela média das taxas cobradas nas operações de empréstimos destinados para pessoa física, os recursos das contas correntes renderiam R$ 668 milhões no último mês de 2001 e R$ 707 milhões no mesmo período de 2002.
(FABRICIO VIEIRA)


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