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LUÍS NASSIF
A morte de um mestre
Morto ontem , de infarto,
Aloysio Biondi foi o mais
importante jornalista econômico brasileiro, desde que a imprensa descobriu o jornalismo
econômico, em meados dos anos
60. Começou a atuar mais firmemente na imprensa nesse período, época em que o jornalismo econômico engatinhava. Na
fase inicial, Biondi trouxe componentes técnicos, de análises de
empresas e de conjuntura, aliados a um espírito altamente polêmico e a uma enorme capacidade de remar na contramão da
maioria, que foi sua característica principal.
Nos anos 70 militou na imprensa nanica e desde então foi
um fecundo formador de jornalistas. Em toda redação por que
passava deixava discípulos.
Era um radical na defesa de
suas idéias, em tudo o que o termo encerra de qualidades e defeitos. Em meados dos anos 80
Biondi atingiu o seu auge, como
jornalista e analista.
No início do ano o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) havia
detectado o movimento de recuperação da economia. A enorme
recessão do início da década
-após a moratória de 1982-
chegava ao fim.
Quando a oposição chegava
ao poder, em 1985, a economia
estava em recuperação. Dos
principais jornalistas de oposição nos anos 70, crítico implacável da política econômica de
Delfim, Biondi resolveu apostar
na intuição e defender com
unhas e dentes a tese da recuperação. Foi o único jornalista a
apostar todas as suas fichas nos
estudos do BNDES.
Os críticos utilizavam os indicadores tradicionais da macroeconomia como se fossem dogmas cristãos, mas com objetivos
claramente políticos; Biondi
deixava a teoria de lado e focava na realidade. Muitas vezes
forçou a barra para comprovar
suas teses. Aliás, sempre foi um
mestre no uso das ênfases em favor de suas teses. Mas por trás de
tudo isso havia o uso criativo da
intuição -algo que pode chocar os tecnicistas, mas que permitia uma visão de conjunto da
economia fundamente calcado
em sinais da realidade.
Nessa época, ele me passou
uma lição inesquecível, aparentemente simples, mas que representava -pelo menos representou para mim- uma profunda
mudança de paradigma na forma de analisar a economia. "A
gente vai vendo notícias boas
daqui e dali", dizia ele, "aí as
boas notícias começam a se avolumar. A economia é assim mesmo, é como uma bola descendo
uma montanha cheia de neve.
Quando ganha velocidade, vai
aumentando, até provocar uma
avalanche". Vale para notícias
boas ou ruins.
Ou seja, o resultado final da
economia é a soma de um conjunto variado de fatores. Em vez
de analisar cada fator por si,
olhe o conjunto. Se não conseguir entender o conjunto, vá
juntando cacos da realidade. Se
muitos cacos indicarem que a
economia está melhorando
-ou piorando-, é porque ela
está melhorando (ou piorando).
Em vez de ficar teorizando e
adaptando a realidade a sua
teoria, constate primeiro qual é
a realidade e só depois vá se
preocupar com as explicações.
Biondi sempre foi um intuitivo brilhante, que abominava as
teorias e não tinha muito respeito pelos números. Como todo
radical, era capaz de sacadas
exemplares ou então de rejeitar
fatos e evidências que pudessem
colocar sua tese em xeque. Manteve até o fim seu estilo de tomar
partido.
Mas, com sua cabeça dura e
seu coração enorme, ajudou
não apenas o jornalismo econômico como toda uma geração de
economistas a pensar a economia de uma forma sistêmica.
Nesse sentido, foi de um pioneirismo exemplar.
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E-mail - lnassif@advivo.com.br
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