São Paulo, domingo, 22 de julho de 2001

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

Gênova separa código de conduta da violência

THOMAS L. FRIEDMAN
DO "THE NEW YORK TIMES"

Ao longo da história, os movimentos bem-sucedidos de protesto social tinham todos uma coisa em comum -uma mensagem clara, simples e objetiva. Quer se tratasse do movimento pelos direitos da mulher ou do movimento contra a Guerra do Vietnã, bastava anunciar seu nome e saberíamos quem eram os manifestantes e quais eram seus objetivos.
A coisa mais notável sobre os manifestantes na reunião ministerial da OMC, em Seattle, 1999, e na conferência do G-8, que termina hoje, em Gênova, era que eles tendiam a ser chamados simplesmente de "os manifestantes" ou "os manifestantes antiglobalização", descrições que em nenhum dos casos oferece imagens claras. Ser contra a globalização é ser contra tantas coisas -de celulares a Big Mac- que toda conotação se perde. E é por isso que os protestos contra a globalização produziram ruído, mas nada que melhorasse a vida de qualquer pessoa.
O que é mais intrigante sobre a conferência de Gênova, no entanto, é que muitos dos grupos sérios de ativistas que participaram de protestos no passado terminaram por reconhecer que quebrar vidraças de lojas do McDonald's ou simplesmente dizer "não" não constitui um movimento de protesto.
Eles acabaram reconhecendo que, se desejam ter alguma esperança de se beneficiar da atenção que atraíram para os problemas da globalização, terão de decidir exatamente contra o que estão protestando, porque os manifestantes se dividem em duas categorias: 1) os que acreditam que a questão é determinar se devemos nos globalizar e querem impedir que a globalização progrida; 2) aqueles que compreendem que a globalização é em larga medida conduzida pela tecnologia da internet aos satélites e que, portanto, a questão seria determinar de que maneira nos globalizaremos.
Até agora, esses dois grupos se misturam. Anarquistas e rescaldos do marxismo que simplesmente procuram por maneiras de minar o capitalismo sob uma nova bandeira e sindicatos protecionistas se unem nas ruas a ambientalistas que acreditam que o comércio internacional, o crescimento e as causas verdes podem viver juntos; grupos de combate à pobreza, que compreendem que a globalização poderia ser um caminho para que os pobres escapem à miséria; e grupos sérios de serviço social que têm idéias úteis sobre como aliviar a dívida dos países pobres e adotar padrões trabalhistas racionais.
Felizmente, muitos dos grupos mais sérios na ala dos que consideram que o importante é definir como globalizar e muitos líderes governamentais não estão mais dispostos a ceder as posições de vantagem moral aos grupos mais estúpidos de oposição à globalização, e em Gênova viu-se pela primeira vez uma cisão entre os manifestantes.
Alguns dos grupos sérios, como o Friends of the Earth, Christian Aid, Jubilee 2000 e Oxfam, estão-se distanciando das manifestações violentas e insistindo em códigos de conduta. "O espaço político em torno das grandes reuniões internacionais foi tomado à força por aqueles que desejam praticar a violência", disse Justin Forsyth, diretor de política da Oxfam. "Eles roubam a atenção dos grupos que desejam mudança positiva."
A cisão entre as alas é um momento estratégico importante. Os manifestantes sérios já provaram que a maneira pela qual nos globalizamos importa, mas só poderão fazer diferença real se criarem soluções em parceria com os governos e as grandes empresas. O momento é propício para que um líder mundial aproxime os dois setores.


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