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A BATALHA DE GÊNOVA
Idéia original de "conversa íntima de líderes" é passado
Burocracia e mídia dominam encontros
QUENTIN PEEL e ALAN BEATTIE
DO "FINANCIAL TIMES"
As conferências dos líderes
mundiais se tornaram complicadas e burocráticas. O sangue, a
confusão e o tumulto nas ruas de
Gênova anteontem estavam muito distantes da visão de Valery
Giscard d'Estaing, antigo presidente da França, quando ele sonhou com a idéia de convidar alguns poucos líderes mundiais para uma conversa ao pé da lareira.
"Temos problemas comuns de
inflação e desemprego", disse ele
em 1975, mas "o espírito de cooperação está desaparecendo e jamais conversamos seriamente,
entre os grandes líderes capitalistas, para descobrir o que fazer".
Daqueles dias em diante, as
conferências de cúpula do Grupo
dos 5, depois Grupo dos 7 e agora
Grupo dos 8 (G-8) sempre se viram divididas entre as metas conflitantes de preservar a privacidade, o conforto e atrair o máximo
de atração da mídia. Tanto os participantes quanto os observadores começam a questionar o valor
de uma instituição informal que
cresceu inexoravelmente em termos de tamanho e complexidade,
criando uma burocracia própria e
deixando a inspiração para trás.
Estima-se que a conferência de
cúpula de Gênova esteja custando
ao governo italiano cerca de US$
110 milhões, US$ 19 milhões dos
quais destinados à segurança e organização e outros US$ 90 milhões para reformas na cidade e
em seus antigos edifícios.
No entanto, graças às medidas
severas de segurança adotadas, o
lugar está meio deserto, exceto
pelos participantes da conferência de cúpula e manifestantes.
Os seres humanos comuns optaram por ficar em casa.
Às vezes, os líderes geram ímpeto considerável para resolver conflitos imediatos ou criar uma
coordenação mais estreita. Ocasionalmente, ajudam no processo
de compreensão mútua. Mais frequentemente, os encontros resultaram simplesmente na confirmação de longas declarações de
compromisso preparadas pelos
"sherpas", os guias políticos, importantes funcionários civis em
cada gabinete presidencial ou de
primeiro-ministro que passam
meses preparando cada uma das
conferência.
O que Giscard d'Estaing disse
que queria no final de 1975, em
um plano que contava com o
apoio de seu bom amigo, o primeiro-ministro alemão Helmut
Schmidt, era "uma conversa entre
algumas poucas pessoas, quase
no nível privado". Foi essa a inspiração da primeira conferência, no
castelo francês Rambouillet. Os líderes do então Grupo dos 5
-Reino Unido, França, Alemanha, Japão e Estados Unidos-
convidaram a Itália para participar do grupo e se preocupar com
a crise mundial do petróleo.
Produziram uma declaração
com uma série de boas intenções
de futura cooperação econômica.
As boas intenções seguem, mas,
quanto à maioria dos demais aspectos, o aconchegante grupo se
transformou completamente.
A segurança é a questão primordial, e os líderes mundiais recuaram para trás de barreiras de
aço e concreto, tentando manter
suas privacidade e dignidade.
Os seis líderes originais logo se
tornaram sete, com a adesão do
Canadá em 1976. Uma década
mais tarde, Jacques Delors, presidente da Comissão Européia,
conquistou um assento à mesa e,
em 1991, o líder soviético Mikhail
Gorbatchov também foi integrado ao grupo.
Sir Nicholas Bayne, antigo diplomata britânico e um dos
"sherpas" nas conferências de cúpula, hoje o principal historiador
dos encontros, identifica quatro
fases de desenvolvimento. Na primeira, as conferências se concentravam quase que inteiramente
em questões econômicas e monetárias e enfatizavam a necessidade
de cooperação entre as grandes
economias capitalistas. Nos anos
do governo Ronald Reagan, elas
se tornaram menos ambiciosas
em termos de cooperação econômica e passaram a prestar mais
atenção a questões políticas.
Com o final da Guerra Fria, elas
se voltaram às questões de encorajamento às novas democracias
e economias nos países ex-comunistas. E, depois de 1994, elas se
concentraram cada vez mais no
avanço da "globalização" e na
busca de novos tópicos nos quais
pudessem ganhar relevância.
Enquanto isso, o conceito da
conversa ao pé do fogo desapareceu completamente. A conversa
íntima de anteontem sobre a economia mundial durou apenas 90
minutos. Ela passou a ser substituída, cada vez mais, por exibições cuidadosamente coreografadas de unidade e uma preparação
"temática" das reuniões, o que gera cinismo nos observadores. O
fundo para a saúde mundial
anunciado em Gênova anteontem já foi criticado e, em alguns
casos, condenado como inútil pelos especialistas.
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