São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 2002

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FOLHAINVEST

MERCADO TENSO

Leilão do BC aumenta volume de títulos no mercado e faz preços caírem; novos prejuízos podem ocorrer

Fundos de renda fixa e DI voltam a ter perdas

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os fundos DI e de renda fixa voltaram a ter rentabilidade negativa na segunda e na terça-feira da semana passada. As perdas atingiram, principalmente, os fundos do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e alguns fundos de bancos privados. Analistas temem que novos prejuízos ocorram nesta semana.
Isso porque o que derrubou os fundos naqueles dias, segundo analistas consultados pela Folha, foi o leilão de troca de títulos cambiais (NBC-Es) por LFTs (Letras Financeiras do Tesouro) com vencimento em 2003, realizado pelo Banco Central na sexta-feira, dia 12.
Naquele dia, o BC colocou R$ 10 bilhões em LFTs no mercado. O aumento no volume desses títulos fez cair o seu valor no mercado secundário. O deságio (desconto) desse papel, que no início do mês estava em 1,39%, saltou para 1,86% na segunda e terça-feira, segundo dados da Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto).
Como os fundos marcam os preços dos seus títulos diariamente, a chamada "marcação a mercado", suas cotas refletiram a oscilação dos preços naqueles dias.
Na última sexta, o BC realizou outro megaleilão de troca de papéis cambiais por LFTs. Foram colocados R$ 9,8 bilhões, um terço do valor total ofertado pelo BC.
Teme-se que o deságio das LFTs volte a aumentar nesta semana, podendo deixar, novamente, os fundos com cota negativa.
"O volume de saques nos fundos ainda é alto, apesar de ter recuado em relação a junho. Isso leva os gestores a venderem seus papéis para pagar os cotistas que saem", diz Wilson Risolia, diretor de recursos de terceiros da Caixa Econômica Federal.
"Ao colocarem os papéis à venda, realimentam sua desvalorização e as perdas dos fundos", acrescenta. Segundo ele, esse processo vai retardar a reposição dos prejuízos registrados no início da marcação a mercado. "Na sexta-feira, dia 12, nossos fundos já estavam positivos; na segunda-feira, voltaram ao vermelho", diz ele.

O tamanho da queda
As perdas registradas pelos fundos na semana passada concentraram-se na segunda e terça-feira. Na quarta, as cotas voltaram ao azul em quase todos os fundos. Mas a maioria acumula rendimento negativo em julho, devido às perdas da semana passada.
No caso dos DI, as cotas oscilaram entre -0,64% e -0,83% na segunda-feira, e entre -0,12% e -0,61% na terça-feira. Os fundos de renda fixa renderam entre -0,57% e -0,81% na segunda, e entre -0,52% e -0,78% na terça, segundo dados do site Fortuna.
Além dos fundos do BB, foram atingidos alguns da Caixa Econômica Federal, do ABN Amro, do Banco Cidade, um fundo do Bradesco e um do Itaú.
Marcos de Callis, diretor de investimentos do HSBC Brain, diz que o leilão de troca de títulos cambiais por LFTs foi positivo para o mercado, pois deu liquidez a vários fundos que tinham papéis "swapados".
Os gestores desses fundos adquiriram os títulos cambiais no ano passado e, para trocar o indexador de câmbio para CDI (Certificado de Depósito Interbancário), fizeram operação de "swap" na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros).
Isso tem dois inconvenientes: os papéis ficam presos, não podem ser vendidos no mercado secundário para o fundo fazer caixa e honrar os resgates dos cotistas. Além disso, o gestor tem de fazer um depósito inicial, chamado "margem de garantia", para honrar os ajustes diários de preços da operação. "Com a troca por LFTs, os fundos liberam os depósitos de margem e ganham mais liquidez para honrar os resgates dos cotistas", diz Marcos de Callis.
O lado ruim das megatrocas de títulos feitas nas duas últimas semanas é que elas ocorreram em um momento de turbulência no mercado internacional.
"Isso fez aumentar o deságio das LFTs após o primeiro leilão", diz Alexandre Póvoa, diretor de investimentos do ABN Amro Asset Management.
Segundo ele, o impacto do leilão de sexta-feira sobre os fundos vai depender do comportamento do mercado internacional nesta semana.


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