São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2004

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Empresário vê falta de confiança

DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de manter inalterada a taxa básica de juros (a Selic) revela que o governo não tem confiança no crescimento da economia brasileira, na avaliação de empresários e economistas ouvidos pela Folha.
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) entende que a decisão "transmite a desconfiança do Banco Central em relação à capacidade de crescimento do país com inflação reduzida. A taxa de 16% ao ano é extremamente elevada considerando os fundamentos fiscais e externos da economia brasileira", cita nota técnica distribuída pela CNI.
Para a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), no entanto, a decisão do BC, esperada, foi compreensível devido ao atual cenário macroeconômico.
"A lógica da autoridade monetária não permite que a Selic seja reduzida neste momento. O surgimento de pressões inflacionárias faz com que as expectativas para o IPCA caminhem perigosamente para perto do teto de 8%, e há uma meta de inflação ainda menor do que a deste ano para ser cumprida em 2005", cita nota da Fiesp assinada por Horacio Lafer Piva, presidente da federação.
Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), diz que o país já tem condições de ter uma taxa básica de juros mais baixa. "Os juros poderiam ser menores sem perigo de inflação", afirma Almeida.
Segundo Emílio Alfieri, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), "criou-se uma espécie de jurisprudência a respeito da taxa básica de juros. Esses 16% ao ano vão praticamente até o final do ano".
Para ele, o objetivo a ser perseguido é a redução do "spread" bancário (diferença o custo de captação para os bancos a taxa efetiva cobrada dos clientes).
A Fecomercio (Federação do Comércio do Estado de São Paulo) avalia que o Copom foi mais uma vez conservador ao manter inalterada a taxa básica de juros.
"Para que se confirme a recuperação da economia [...] as autoridades econômicas devem dar sinais claros de que vão perseguir esse objetivo. Definitivamente a manutenção da Selic em 16% pelo quarto mês consecutivo não ajuda neste processo", afirma, em nota, o presidente da Fecomercio SP, Abram Szajman.
A decisão do BC foi recebida sem surpresa no meio político de Brasília, mas mesmo governistas sinalizaram discordar da política do Banco Central. "Os juros continuam altos. Não vou opinar sobre uma decisão técnica, só digo que os juros continuam altos", afirmou o presidente nacional do PT, José Genoino. Segundo ele, o governo continuará lutando para, "com responsabilidade", diminuir a taxa.
"A decisão tomada demonstrou mais uma vez a insensibilidade do Copom diante da urgência de estimular as atividades produtivas e, por conseqüência, o crescimento do nível de emprego", afirmou o presidente da CUT, Luiz Marinho, em nota oficial. Para a central, "prossegue a lógica perversa de transferir recursos do setor produtivo para o setor financeiro, elevando a dívida pública, inibindo os investimentos e o crédito".
"O governo Lula optou novamente por privilegiar banqueiros e especuladores estrangeiros", disse o presidente interino da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna. (MP, FF, FV e CR)


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