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Empresário vê falta de confiança
DA REPORTAGEM LOCAL
A decisão do Copom (Comitê
de Política Monetária) de manter
inalterada a taxa básica de juros (a
Selic) revela que o governo não
tem confiança no crescimento da
economia brasileira, na avaliação
de empresários e economistas ouvidos pela Folha.
A CNI (Confederação Nacional
da Indústria) entende que a decisão "transmite a desconfiança do
Banco Central em relação à capacidade de crescimento do país
com inflação reduzida. A taxa de
16% ao ano é extremamente elevada considerando os fundamentos fiscais e externos da economia
brasileira", cita nota técnica distribuída pela CNI.
Para a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo),
no entanto, a decisão do BC, esperada, foi compreensível devido ao
atual cenário macroeconômico.
"A lógica da autoridade monetária não permite que a Selic seja
reduzida neste momento. O surgimento de pressões inflacionárias faz com que as expectativas
para o IPCA caminhem perigosamente para perto do teto de 8%, e
há uma meta de inflação ainda
menor do que a deste ano para ser
cumprida em 2005", cita nota da
Fiesp assinada por Horacio Lafer
Piva, presidente da federação.
Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento
Industrial), diz que o país já tem
condições de ter uma taxa básica
de juros mais baixa. "Os juros poderiam ser menores sem perigo
de inflação", afirma Almeida.
Segundo Emílio Alfieri, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), "criou-se
uma espécie de jurisprudência a
respeito da taxa básica de juros.
Esses 16% ao ano vão praticamente até o final do ano".
Para ele, o objetivo a ser perseguido é a redução do "spread"
bancário (diferença o custo de
captação para os bancos a taxa
efetiva cobrada dos clientes).
A Fecomercio (Federação do
Comércio do Estado de São Paulo) avalia que o Copom foi mais
uma vez conservador ao manter
inalterada a taxa básica de juros.
"Para que se confirme a recuperação da economia [...] as autoridades econômicas devem dar sinais claros de que vão perseguir
esse objetivo. Definitivamente a
manutenção da Selic em 16% pelo
quarto mês consecutivo não ajuda neste processo", afirma, em
nota, o presidente da Fecomercio
SP, Abram Szajman.
A decisão do BC foi recebida
sem surpresa no meio político de
Brasília, mas mesmo governistas
sinalizaram discordar da política
do Banco Central. "Os juros continuam altos. Não vou opinar sobre uma decisão técnica, só digo
que os juros continuam altos",
afirmou o presidente nacional do
PT, José Genoino. Segundo ele, o
governo continuará lutando para,
"com responsabilidade", diminuir a taxa.
"A decisão tomada demonstrou
mais uma vez a insensibilidade do
Copom diante da urgência de estimular as atividades produtivas
e, por conseqüência, o crescimento do nível de emprego", afirmou
o presidente da CUT, Luiz Marinho, em nota oficial. Para a central, "prossegue a lógica perversa
de transferir recursos do setor
produtivo para o setor financeiro,
elevando a dívida pública, inibindo os investimentos e o crédito".
"O governo Lula optou novamente por privilegiar banqueiros
e especuladores estrangeiros",
disse o presidente interino da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna.
(MP, FF, FV e CR)
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