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São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2003

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PRATO INDIGESTO

Credores e especialistas dizem que programa não impõe reformas necessárias ao país

Acordo argentino desgasta imagem do FMI

Associated Press/Folha Imagem
Roberto Lavagna, ministro de Economia da Argentina


DO ENVIADO ESPECIAL A DUBAI

O acordo anunciado anteontem entre o FMI e a Argentina teve uma péssima repercussão entre banqueiros, investidores e institutos de finanças internacionais. A imagem do Fundo acabou ficando desgastada com o episódio.
O descontentamento foi tornado público ontem, durante a reunião anual do FMI em Dubai. "A recuperação argentina vem perdendo ímpeto e não acreditamos que esse programa ofereça fundamentos sólidos para um crescimento sustentado de médio prazo. O acordo ficou muito aquém do necessário", disse Charles Dallara, diretor gerente do IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla em inglês).
O FMI aprovou anteontem um novo acordo de US$ 12,5 bilhões para a Argentina pelos próximos três anos. O novo programa não contém metas específicas, nem mesmo de inflação, e tem apenas datas indicativas para a Argentina fazer mudanças estruturais.
Alguns países europeus, além da Austrália, se posicionaram contra o acordo e o próprio FMI admitiu correr riscos.
O secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, tentou tranquilizar banqueiros e credores ontem em Dubai reafirmando que "confia" na disposição argentina de acelerar mudanças no país.
Snow afirmou também que a Argentina deverá obter um superávit primário (economia para pagar juros) em 2004 e 2005 maior do que os 3% do PIB acertados neste ano com o FMI.
"Vamos monitorar de perto o acordo e o ministro [Roberto] Lavagna [Economia da Argentina] se comprometeu a fazer o que for necessário", disse Snow.
"Acho muito importante que o secretário [Snow] tenha tido essa conversa com o senhor Lavagna, e creio que muita gente nesta sala pensa dessa maneira", foi a resposta de Bill Rhodes, presidente do Citibank, durante reunião com Snow e credores argentinos.
A Argentina precisa reestruturar 152 tipos diferentes de bônus e já demonstrou a intenção de pedir desconto de 70% no valor de face dos papéis. A proposta oficial será apresentada hoje.

Intenções
Na carta de intenções enviada ao Fundo o governo argentino se compromete a reduzir os gastos públicos a partir de 2004 e a aumentar o nível de reservas.
Segundo o Ministério da Economia, em 2003 os investimentos públicos serão equivalente a 18,3% do PIB. Para 2004, a intenção é comprometer 17,9% do PIB.
O país pretende terminar este ano com US$ 14 bilhões em reservas internacionais (e US$ 15,6 bilhões em 2004). Hoje, as reservas estão em US$ 10,8 bilhões.
Para este ano, a Argentina prevê uma inflação de entre 5% e 6%. Em 2004, a projeção é de alta maior dos preços: entre 7% e 11% -o FMI recomenda que não passe de um dígito. (FCz)

Colaborou Elaine Cotta, de Buenos Aires


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