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São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2003

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MERCADO FINANCEIRO

Média diária de exportações em setembro ultrapassa em 15% a de agosto e surpreende analistas

Dólar baixo não afeta balança comercial

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O saldo da balança comercial volta a surpreender. Diferentemente do que afirmava a maioria dos analistas ao defender a intervenção do governo no câmbio, a queda do dólar abaixo de R$ 3 no primeiro semestre não derrubou as exportações e nem comprometeu o saldo comercial.
"O impacto da valorização do real sobre as exportações deveria estar aparecendo agora e não está, diferentemente do que previam economistas, inclusive eu", diz Hugo Penteado, economista da ABN Asset Management. As exportações subiram em volume e em número de produtos comercializados. As importações também cresceram.
A equipe econômica do HSBC também afirmou em boletim do banco que mais uma vez o saldo comercial surpreendeu analistas.
A média diária de exportações neste mês é 15% superior à de agosto. A projeção é de um superávit de US$ 3 bilhões no mês, 50% a mais do que se esperava.
Para o ano, a expectativa para a balança comercial saltou de US$ 15,5 bilhões, em janeiro, para a atual, de US$ 20,44 bilhões, segundo informa a Pesquisa Focus do Banco Central (junto a profissionais do mercado).
O dólar caiu de R$ 3,53 em 31 de dezembro de 2002 para o patamar de R$ 2,80 e R$ 2,90 no final do primeiro semestre. Há uma defasagem de cerca de seis meses para que surjam efeitos de movimentos no câmbio.
"Estamos no terceiro mês do segundo semestre e não ocorreu a desaceleração esperada", diz o economista da ABN Asset Management.

Fora das previsões
Uma parcela dos analistas também errou ao prever em maio que o dólar tenderia a um auto-ajuste e não se sustentaria abaixo de R$ 3 nos meses seguintes.
A greve dos fiscais da Receita Federal pode ter influenciado os resultados, segundo avaliação de analistas consultados e da Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior).
A fraca atividade econômica e a demora em sua recuperação impulsionam as exportações.
No cenário externo, houve incremento de comércio com Argentina e China, o reaquecimento em alguns setores e a elevação dos preços das commodities.
Nem todos analistas ouvidos pela Folha reconhecem que foram pegos de surpresa com o desempenho das exportações.
"A maior parte dos analistas reviu suas projeções e deveria assumir isso", diz Penteado.
"As exportações vão muito bem, mas, com o dólar a R$ 3,20, haveria superávit de cerca de US$ 3 bilhões a mais", diz Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Segundo Almeida, a alta de 31% nas exportações do primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado não deve se repetir neste semestre.
Um fator estatístico distorce a comparação. À espera da alta do dólar, exportadores seguraram embarques previstos para o primeiro semestre de 2002 e os liberaram no segundo semestre, o que inflou os resultados.

Reservas
"Qualquer alta de exportações é boa. Eu previa isso. Mas o importante é ter um sistema de metas de reservas. O governo precisa intervir no câmbio. Não é com ele que se controla inflação", diz Paulo Guedes, ex-presidente do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) e ex-Banco Pactual.
Para o economista, se o dólar estivesse entre R$ 3,10 e R$ 3,20, o Brasil poderia ter reservas de cerca de US$ 75 bilhões em cinco anos. O país tem US$ 15 bilhões de reservas líquidas.
"O Banco Central anunciaria a compra de US$ 1 bilhão por mês. Experimentaria o câmbio mais adequado para comprar "X" de reservas, como faz com os juros. Bobagem não anunciar compra de dólares para não favorecer a especulação", disse Guedes.


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