São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2000

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"Governo não irá ajudar companhias aéreas"

DO PAINEL S/A

A seguir, a continuação da entrevista com Canhedo. Ele fala sobre reestruturação do setor, profissionalização e o lucro da Vasp.

Folha - O sr. não acha que existem muitas empresas aéreas no Brasil?
Canhedo -
Qualquer possibilidade de reestruturação para reduzir o número de empresas irá, com certeza, beneficiar o setor. As companhias precisam ganhar força para enfrentar a concorrência internacional. Nós estamos, cada vez mais, perdendo terreno. As empresas brasileiras estão fragilizadas. Eu cheguei a propor a criação de uma holding com o controle dividido entre as quatro. Eu fiz essa proposta para nos tornarmos fortes e assim podermos competir de igual para igual com as megacompanhias aéreas.

Folha - O sr. aceitaria se afastar da Vasp?
Canhedo -
Nós estamos no negócio porque gostamos. Não trabalhamos só para ganhar dinheiro. Nós trabalhamos porque amamos esse negócio. Não penso em sair da Vasp ou deixar o setor. Nós podemos fazer a holding com todo mundo e continuar no setor.

Folha - Mas o senhor não concorda que as empresas do setor precisam se profissionalizar ?
Canhedo -
Se eu estou na frente da empresa hoje é porque ela precisa do meu trabalho.

Folha - Por que o senhor não começa dando o exemplo na sua própria casa? Ou seja, profissionalizando a Vasp.
Canhedo -
Posso. Seria até melhor, para nós, controladores da empresa, ficarmos fora da empresa. Eu ficaria em Brasília, administrando meus negócios, inclusive a Vasp, na presidência do conselho de administração.

Folha - Por que não sai então?
Canhedo -
Posso sair, não vejo nenhum problema nisso. Se isso for bom para a indústria, se for bom para a empresa, eu posso sair sim. Não vejo problema. Mas agora não há razão para isso, até porque um profissional que for gerir a empresa vai apenas seguir as determinações do conselho de administração.

Folha - Mas o senhor não concorda que pelo menos a imagem da empresa melhora com sua profissionalização?
Canhedo -
Não tenho dúvidas. Nós aqui da Vasp não temos nada contra isso. Na hora em que fizermos a reestruturação da indústria, poderemos pensar em colocar profissionais aqui dentro. A orientação que daria a eles é de manter a empresa a mais agressiva possível.

Folha - Por que o senhor não faz isso agora?
Canhedo -
Se ainda existem companhias que pretendem prejudicar a Vasp por uma ou outra razão, o meu papel é não deixar isso acontecer. Eu estou aqui para defender a nossa bandeira.

Folha - O senhor chegou a ver o projeto de desregulamentação da Anac (Associação Nacional de Aviação Civil)?
Canhedo -
Nós precisamos de uma definição para o setor. Nós somos totalmente favoráveis ao projeto da Anac. Com a globalização da economia, não há condições de um setor tão importante como o de transporte aéreo continuar tão regulamentado. Eu sou favorável à abertura do mercado, desde que as companhias brasileiras sejam preservadas. O número de aviões que as companhias aéreas têm é importante para o país. Trata-se de uma questão de segurança nacional. Os aviões das empresas aéreas podem ser requisitados pelo governo na hora que for necessário para uma emergência qualquer. Um país não pode perder sua soberania na questão das companhias aéreas.

Folha - Nos Estados Unidos, quando a Pan Am quebrou, o governo não pensou assim.
Canhedo -
A Pan Am foi mal e o governo norte-americano deixou ela quebrar. No Brasil, aconteceria a mesma coisa. Se alguma companhia aérea for mal, o governo vai deixá-la quebrar.

Folha - As companhias têm conversado sobre reestruturação?
Canhedo -
O governo diz o seguinte: vocês se acertam e depois venham falar comigo. Até agora, não houve acerto. As coisas estão um pouco paradas.

Folha - Como a Vasp conseguiu exibir um lucro de R$ 94,7 milhões no semestre?
Canhedo -
Só no final do ano é que se vai ver o que aconteceu mesmo. Houve a influência da devolução dos aviões. Nós tiramos esse dinheiro do passivo e colocamos no ativo. Ou seja, o nosso passivo diminuiu em mais de R$ 1 bilhão. Além disso, houve também a influência da forma como calculamos a nossa dívida. Nós calculamos com base em TJLP mais os juros normais de 12% ao ano e não consideramos as multas cobradas pelo governo. Nós não achamos justo o governo cobrar juros Selic e mais multas de 50% a 60%. Claro que isso influencia o lucro. Mas a Vasp está no azul e fechará o ano no azul.


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