São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2000

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NEGÓCIOS
Falta de estatísticas sobre consumidores gays, lésbicas e simpatizantes prejudica a publicidade em veículos especializados
Público gay é mistério para anunciantes

DA REPORTAGEM LOCAL

A opção por manter-se no anonimato adotada por empresários que têm produtos e serviços voltados para o público GLS incomoda os militantes engajados na luta contra a discriminação sexual.
"É uma pena as pessoas adotarem esse tipo de atitude e não se mostrarem, pois não ajuda em nada a acabar com o preconceito", lamenta Elias Lilikan, diretor do Caehusp (Centro Acadêmico de Estudos do Homoerotismo da Universidade de São Paulo) e militante do movimento de defesa dos direitos dos homossexuais.
Lilikan, que administra no centro um cursinho especialmente voltado para estudantes carentes GLS, acredita que essa mentalidade vai mudar aos poucos.
A invisibilidade da economia GLS afeta inclusive o potencial de crescimento do segmento consumidor. "É difícil explicar a um cliente que deve anunciar em veículos sobre cujo perfil de consumo não se sabe quase nada preciso", afirma o publicitário Celso Loducca, da agência Loducca.
Para o vice-presidente da DM9DDB Sérgio Valente, o preconceito não é do anunciante. "Produto não tem sexo, e o cliente quer vender", diz. Ele acredita que a dificuldade é encontrar meios de comunicação que "não falem só a um tipo de consumidor".
"Não podemos falar só para os homossexuais, mas para todo o universo GLS, que não é uma questão de opção sexual, apenas, mas comportamental", define.
A própria DM9DDB, lembra Valente, já foi premiada no Festival Internacional da Propaganda, em Cannes, com um banner criado para o UOL, para divulgar as salas de chats destinadas ao internauta GLS.
A Internet parece ser o lugar ideal para que negócios direcionados ao público GLS prosperem.
De fato, a maioria dos portais tem uma área dirigida a esse público, mas o interesse dos anunciantes ainda é pequeno.
Sediado no UOL, por exemplo, está o maior portal direcionado ao público GLS no Brasil, o MixBrasil (www.mixbrasil.com.br). Ao contrário da maioria, o portal já tem receitas.
Com faturamento de R$ 700 mil anuais, já veiculou propaganda de grandes anunciantes, como a Canadian Airlines e a Sony. Hoje, no entanto, os pequenos são maioria.
O Interligaynews (www.interligaynews.com.br), portal que consumiu R$ 200 mil em investimentos da Editora Setorial e que deve ser lançado nas próximas semanas, já conta com anunciantes. Como no caso do MixBrasil, a maior parte dos anúncios é veiculada por pequenas empresas.
A expectativa de Emerson Borges, um dos sócios do portal é, no entanto, que os grandes anunciantes comecem a perceber o potencial de mercado do público homossexual aos poucos.
O Supersite (www.supersite.com.br), hospedado nas páginas do Zip.net, ainda não tem nenhum anunciante.
Segundo Mauro Rabello, diretor de marketing do Zip.net, não houve tempo para criar uma estratégia de marketing para o portal, criado há poucos meses. "Mas sabemos que o potencial é grande", diz Rabello.
Quem já está no mercado garante que pode comprovar parte desse potencial. A Futuro Infinito, livraria especializada em sexualidade que vende também CDs e vídeos, lançou uma loja virtual há menos de um mês.
A iniciativa pode ajudar a aumentar o faturamento da empresa e a atingir um público que ainda tem medo do preconceito. "Os primeiros pedidos feitos pela rede vieram de clientes que moram quase ao lado da nossa loja", diz Sérgio Miguez, da Futuro Infinito.
(LUIZA PASTOR E MARCELO BILLI)


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