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São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2003

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APLICAÇÕES

Queda dos juros leva investidores a migrar para a renda mista, com o objetivo de aproveitar a alta da Bolsa

Inflação baixa derruba captação de fundo DI

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A queda dos juros e a menor volatilidade cambial, além de estimular o mercado acionário, desencadearam um processo de migração de investidores dos fundos DI (fundos que têm seu rendimento atrelado à taxa de juros) para as carteiras de renda mista.
Entre o final de julho e os primeiros dez dias deste mês, os fundos de renda mista receberam novas aplicações no total de R$ 12,53 bilhões. No mesmo período, as carteiras de DI sofreram resgates que totalizaram R$ 5,89 bilhões, segundo levantamento da consultoria Thomson Financial. Fundos de renda mista são aqueles que permitem ao gestor aplicar no mercado de câmbio, em juros e na Bolsa de Valores.

Aproveitar momento
"Os investidores que estão migrando tentam se aproveitar de parte dessa subida das Bolsas", afirma Mauro Halfeld, professor de finanças da Universidade Federal do Paraná. "Nesse mercado [de fundos mistos] há de tudo. Desde os mais conservadores, que dividem as carteiras em um terço no câmbio, outro nos juros e outro na Bolsa, até os mais agressivos, em que o gestor tem autorização para mudar de posição [trocar Bolsa por juros, por exemplo] quando quiser", completa.
Para o economista, a continuidade desse movimento de migração dependerá do cenário macroeconômico nos próximos meses. "São carteiras de risco e qualquer reversão de expectativa em relação à economia pode mudar o ânimo da Bolsa e, consequentemente, o interesse por esses fundos", afirma Halfeld.
O Unibanco obteve destaque entre os administradores. Com R$ 1,77 bilhão no período, ocupou a liderança entre os gestores que mais captaram recursos para as carteiras desses fundos. O braço de "asset management" do banco Pactual ficou em segundo, com R$ 990 milhões arrecadados.
O Brasil manteve-se no mês passado como o país da América Latina que mais recursos atraiu para fundos de investimentos.
No total, as carteiras captaram o equivalente a US$ 1,52 bilhão -desse valor, US$ 645 milhões foram para as carteiras de renda fixa (DI) e US$ 550 milhões para as de renda mista (ações e DI). No mês os fundos de renda fixa tiveram crescimento real de 0,68%, contra 1,27% dos de renda fixa.
A despeito de terem acumulado rendimento médio positivo de 8% no mês, os fundos de renda variável (ações) perderam (em resgates) o equivalente a US$ 166,3 milhões de suas carteiras.
Segundo maior mercado de fundos do continente, o México voltou a ter resultado positivo em outubro, com os depósitos superando os resgates em US$ 491 milhões. Parte desse resultado, segundo o economista Guillermo Mazzoni, diretor do departamento de análise da Thomson, é decorrente de um melhor humor dos investidores diante da possibilidade de que a recuperação da economia mexicana -dependente da dos EUA- se confirme nos primeiros meses de 2004.
Sozinho, o Brasil respondia, em outubro, por 79% de toda a indústria de fundos da região. As carteiras de fundos do país administram patrimônio líquido equivalente a US$ 166,9 bilhões -no ano, as captações somam US$ 15,68 bilhões. As do México somam US$ 32,98 bilhões (15,6% do mercado latino-americano).
Com captação de US$ 1,30 bilhão apenas em outubro, os fundos chilenos conseguiram reverter a sangria registrada no primeiro semestre. Desse total, 89,2% (ou US$ 1,16 bilhão) seguiram para carteiras de renda fixa.
Na Argentina, onde os investidores, depois da débâcle de 2001 (e do corralito, a restrição para saques), voltam a manter dinheiro nos bancos, os fundos registraram captação de US$ 159 milhões no mês passado.


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