São Paulo, domingo, 22 de novembro de 1998

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POLÍTICA CAMBIAL Próximo ano deverá ser o último de forte desvalorização do real em relação ao dólar, segundo a estratégia traçada pelo Banco Central
BC vai mudar bandas cambiais até fevereiro

GUSTAVO PATÚ
Coordenador de Economia
da Sucursal de Brasília


ALEX RIBEIRO
da Sucursal de Brasília

O Banco Central vai fixar, até fevereiro, novos limites para a variação das cotações do dólar. Os novos piso e teto das cotações vão sinalizar a variação do dólar em 99, que deve ser o último ano de desvalorização acentuada do real.
Essa avaliação já é comum na área econômica do governo e entre analistas e operadores do mercado. Hoje, os limites para a variação das cotações do dólar -as bandas cambiais- são R$ 1,12 (piso) e R$ 1,22 (teto), definidos em janeiro último.
O objetivo do governo é o mesmo desde 1995: desvalorizar gradualmente o real para, sem trazer de volta a inflação, estimular as exportações, equilibrar a balança comercial, depender menos de capital externo, reduzir os juros e fazer o país voltar a crescer.
Na atual taxa de desvalorização do real, a cotação do dólar, hoje na casa de R$ 1,19, chegará ao teto da banda até fevereiro. É provável, como foi tradição nos últimos anos, que um novo teto seja fixado antes de isso acontecer.
O novo teto deverá mostrar em que patamares as cotações estarão no início do ano 2000.

Correção
Pelos cálculos feitos em caráter reservado no Ministério da Fazenda e no BC, o processo de correção do real está chegando ao fim. Mais um ano de desvalorização no ritmo adotado desde 1997 e a taxa de câmbio estará muito próxima dos níveis desejados.
Neste ano, como no ano passado, o BC promoverá uma desvalorização do real próxima a 7,4% em relação ao dólar. Como os preços internos praticamente não têm subido, as exportações brasileiras estão ficando mais baratas quase na mesma proporção.
O BC tem por ofício manter sigilo sobre a condução da política cambial, mas o cenário mais provável é que a nova banda seja fixada em janeiro e sinalize uma desvalorização nos mesmos níveis deste ano.
Essa é, por exemplo, a expectativa do ex-presidente do BC Gustavo Loyola, hoje na empresa de consultoria Tendências.
Outra possibilidade é promover, ao longo do ano que vem, uma desvalorização maior que a dos últimos anos -algo acima de 8%.
Há também quem avalie que o primeiro bimestre seria um bom período para uma desvalorização forte e abrupta do real. É o caso do economista Paulo Nogueira Batista Júnior, da Fundação Getúlio Vargas.
Ele argumenta: as reservas em dólar e a credibilidade do país estarão reforçadas pelo acordo fechado com o FMI (Fundo Monetário Internacional); o Congresso terá aprovado as medidas de ajuste fiscal; e a forte recessão esperada no início do ano impedirá que a mudança no câmbio seja repassada aos preços.
A maxidesvalorização, na hipótese de ser bem-sucedida, teria a vantagem de permitir uma queda mais rápida dos juros.
Desvalorizando gradualmente o real, o BC tem que praticar juros suficientes para cobrir as perdas dos investidores estrangeiros que trazem dólares ao país e os trocam por moeda nacional para suas aplicações.
Eliminada essa necessidade, os juros poderiam cair, o que faria a economia crescer, e o déficit público, cair -a arrecadação seria maior, e os gastos com a dívida pública, menores.
É claro que todo esse raciocínio só faz sentido se a máxi não provocar, como no México (95), em países asiáticos (97) e na Rússia (98), inflação, incerteza no mercado e mais fuga de capitais.

Esforço descomunal
Economistas ouvidos pela Folha defendem o sistema de câmbio administrado como o ideal para o momento em que cessar a política de desvalorização do real.
Para eles, o governo não deve fazer esforços descomunais para garantir uma cotação única para o dólar, como no sistema de câmbio fixo, mas também não deve deixar de agir para evitar oscilações bruscas na cotação da moeda norte-americana, como ocorre no sistema flutuante.
"O melhor é um sistema mais flexível", disse o deputado e ex-ministro do Planejamento Antonio Kandir (PSDB-SP), defendendo o aperfeiçoamento do atual sistema de bandas cambiais.
Paulo Nogueira Batista Júnior também rejeita os sistemas fixo e flutuante, mas defende um sistema de taxas administradas sem o uso de bandas cambiais.
Os dois economistas rejeitam o câmbio fixo porque, nesse sistema, o país é obrigado a abrir mão da liberdade de fixar os juros internos do país para, por exemplo, estimular o crescimento da economia.
O câmbio flutuante é considerado negativo porque, para adotá-lo, o país seria obrigado a impor limites ao livre fluxo de capitais, evitando oscilações excessivas.
"A taxa de câmbio está extremamente sobrevalorizada, prova disso é o déficit em transações correntes", disse o economista e deputado eleito Aloizio Mercadante (PT-SP).



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