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POLÍTICA CAMBIAL Próximo ano deverá ser o último de forte desvalorização do real em relação ao dólar, segundo a estratégia traçada pelo Banco Central
BC vai mudar bandas cambiais até fevereiro
GUSTAVO PATÚ
Coordenador de Economia
da Sucursal de Brasília
ALEX RIBEIRO
da Sucursal de Brasília
O Banco Central vai fixar, até fevereiro, novos limites para a variação das cotações do dólar. Os novos piso e teto das cotações vão sinalizar a variação do dólar em 99,
que deve ser o último ano de desvalorização acentuada do real.
Essa avaliação já é comum na
área econômica do governo e entre
analistas e operadores do mercado. Hoje, os limites para a variação
das cotações do dólar -as bandas
cambiais- são R$ 1,12 (piso) e R$
1,22 (teto), definidos em janeiro último.
O objetivo do governo é o mesmo
desde 1995: desvalorizar gradualmente o real para, sem trazer de
volta a inflação, estimular as exportações, equilibrar a balança comercial, depender menos de capital externo, reduzir os juros e fazer
o país voltar a crescer.
Na atual taxa de desvalorização
do real, a cotação do dólar, hoje na
casa de R$ 1,19, chegará ao teto da
banda até fevereiro. É provável, como foi tradição nos últimos anos,
que um novo teto seja fixado antes
de isso acontecer.
O novo teto deverá mostrar em
que patamares as cotações estarão
no início do ano 2000.
Correção
Pelos cálculos feitos em caráter
reservado no Ministério da Fazenda e no BC, o processo de correção
do real está chegando ao fim. Mais
um ano de desvalorização no ritmo adotado desde 1997 e a taxa de
câmbio estará muito próxima dos
níveis desejados.
Neste ano, como no ano passado,
o BC promoverá uma desvalorização do real próxima a 7,4% em relação ao dólar. Como os preços internos praticamente não têm subido, as exportações brasileiras estão
ficando mais baratas quase na
mesma proporção.
O BC tem por ofício manter sigilo
sobre a condução da política cambial, mas o cenário mais provável é
que a nova banda seja fixada em janeiro e sinalize uma desvalorização nos mesmos níveis deste ano.
Essa é, por exemplo, a expectativa do ex-presidente do BC Gustavo
Loyola, hoje na empresa de consultoria Tendências.
Outra possibilidade é promover,
ao longo do ano que vem, uma desvalorização maior que a dos últimos anos -algo acima de 8%.
Há também quem avalie que o
primeiro bimestre seria um bom
período para uma desvalorização
forte e abrupta do real. É o caso do
economista Paulo Nogueira Batista Júnior, da Fundação Getúlio
Vargas.
Ele argumenta: as reservas em
dólar e a credibilidade do país estarão reforçadas pelo acordo fechado com o FMI (Fundo Monetário
Internacional); o Congresso terá
aprovado as medidas de ajuste fiscal; e a forte recessão esperada no
início do ano impedirá que a mudança no câmbio seja repassada
aos preços.
A maxidesvalorização, na hipótese de ser bem-sucedida, teria a
vantagem de permitir uma queda
mais rápida dos juros.
Desvalorizando gradualmente o
real, o BC tem que praticar juros
suficientes para cobrir as perdas
dos investidores estrangeiros que
trazem dólares ao país e os trocam
por moeda nacional para suas aplicações.
Eliminada essa necessidade, os
juros poderiam cair, o que faria a
economia crescer, e o déficit público, cair -a arrecadação seria
maior, e os gastos com a dívida pública, menores.
É claro que todo esse raciocínio
só faz sentido se a máxi não provocar, como no México (95), em países asiáticos (97) e na Rússia (98),
inflação, incerteza no mercado e
mais fuga de capitais.
Esforço descomunal
Economistas ouvidos pela Folha
defendem o sistema de câmbio administrado como o ideal para o
momento em que cessar a política
de desvalorização do real.
Para eles, o governo não deve fazer esforços descomunais para garantir uma cotação única para o
dólar, como no sistema de câmbio
fixo, mas também não deve deixar
de agir para evitar oscilações bruscas na cotação da moeda norte-americana, como ocorre no sistema flutuante.
"O melhor é um sistema mais flexível", disse o deputado e ex-ministro do Planejamento Antonio
Kandir (PSDB-SP), defendendo o
aperfeiçoamento do atual sistema
de bandas cambiais.
Paulo Nogueira Batista Júnior
também rejeita os sistemas fixo e
flutuante, mas defende um sistema
de taxas administradas sem o uso
de bandas cambiais.
Os dois economistas rejeitam o
câmbio fixo porque, nesse sistema,
o país é obrigado a abrir mão da liberdade de fixar os juros internos
do país para, por exemplo, estimular o crescimento da economia.
O câmbio flutuante é considerado negativo porque, para adotá-lo,
o país seria obrigado a impor limites ao livre fluxo de capitais, evitando oscilações excessivas.
"A taxa de câmbio está extremamente sobrevalorizada, prova disso é o déficit em transações correntes", disse o economista e deputado eleito Aloizio Mercadante (PT-SP).
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