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DIAGNÓSTICO & RECEITA
Macunaíma tributário
OSIRIS LOPES FILHO
Diz o poeta popular que "não
há pecado do lado de baixo do
Equador".
Essa afirmação tem empolgado a turma que domina o Palácio do Planalto. A sua ação é
desenvolta, em persistente superação dos limites socialmente aceitos da decência e da moralidade.
Na área tributária, o governo
Fernando Henrique Cardoso
segue literalmente a afirmativa. Não há obstáculos, constitucionais ou éticos, à volúpia
insaciável de capturar o dinheiro dos bolsos dos cidadãos
e dos caixas das empresas.
É a prática do pecado, sem
culpa ou remorso. Tem-se alterado de tal forma os tributos
desse país que, entre a clássica
classificação de sistemas tributários históricos (os que são
produto da tradição) e os lógicos ou racionais (os que são
produto da reforma), surgiu,
por obra governamental, uma
nova modalidade "sui generis".
Trata-se do sistema tributário Macunaíma, o que não tem
nenhum caráter.
Anárquico e sacana, tem por
finalidade extorquir recursos
do contribuinte da forma mais
fácil e, portanto, menos trabalhosa.
A ação governamental na
área tributária tem a influência marcante da preguiça e da
malandragem do personagem
traçado pelo escritor Mario de
Andrade.
Os exemplos recentes são numerosos: elevação em 50% da
Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade
Social); aumento em 90% da
alíquota da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), de 0,20%
para 0,38% sobre débitos em
conta corrente; acréscimo em
90% da contribuição previdenciária dos servidores ativos da
União; criação do imposto confiscatório sobre os aposentados
do serviço público federal e a
badalada instituição do cínico
"imposto verde", a alcançar os
combustíveis, já submetidos à
incidência na importação do
imposto de importação e, no
mercado interno, do ICMS
(Imposto sobre a Circulação de
Mercadorias e Serviços).
A poluição do nosso sistema
tributário tem acrescido, sob a
influência de doses maciças de
Viagra, para facilitar o estupro
tributário da população.
O bonapartismo governamental alimentado por medidas provisórias vai encontrar o
seu Waterloo. É que a carga tributária está tão indecorosa e
indecente e a evasão adquirirá
tal volume que, em breve, o
país será hipercampeão da
evasão, que também vai aumentar, para garantir a sobrevivência da gente e das empresas do país. Será a luta selvagem de resistência à opressão
tributária.
Osiris de Azevedo Lopes Filho, 59, advogado, é professor de Direito Tributário da
Universidade de Brasília (UnB) e ex-secretário da Receita Federal.
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