|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ex-diretor elogia Banco Central e cobra superávit primário maior
Nelson Perez - 21.jun.01/Valor
|
Sérgio Werlang, diretor do Banco Itaú e ex-Banco Central |
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Banco Central tem sido ambicioso e surpreendente nas suas
decisões. A opinião é de Sérgio
Werlang, diretor do Banco Itaú.
Werlang -que já foi diretor do
BC e é considerado o formulador
do sistema de metas de inflação
brasileiro- disse que a elevação
de juros ontem "era necessária".
Na opinião de Werlang, além desse aumento, será fundamental um
superávit primário maior e um
recuo nas expectativas do mercado para que a nova meta de inflação de 8,5% possa ser cumprida.
Folha - A decisão do Copom era
esperada?
Sérgio Werlang - Eu achei a decisão inesperada. Mas necessária.
Folha - Juros anuais de 25,5% serão suficientes para que a meta de
inflação de 8,5% seja atingida?
Werlang - Não. Será necessário
também um superávit primário
maior e a manutenção dessa taxa
de juros por algum tempo. Além
disso, as expectativas do mercado
terão de recuar.
Folha - O que o senhor achou da
nova meta ajustada de 8,5%?
Werlang - Esperava um número
um pouco maior porque não
acreditava que o Banco Central
quisesse subir os juros agora.
Eles escolheram a alternativa
mais ambiciosa. Decidiram colocar a meta um pouco mais apertada e subir os juros e o superávit
primário para atingi-la.
Folha - O fato de a meta ajustada
ser móvel é ruim?
Werlang - Eu particularmente
não gosto. Acho que a meta deveria ser de 8,5% por todo o ano. Isso é menos trabalhoso. Além disso, uma meta única contribuiria
para a redução das expectativas.
Mas, se as eventuais mudanças
forem sempre claras, se o BC
mostrar que está realmente trabalhando para cumprir a meta, isso
não será muito prejudicial.
Folha - Por que tem sido tão difícil atingir as metas de inflação? É
uma falha do modelo ou de gestão?
Werlang - O modelo trabalha
dentro de parâmetros razoavelmente normais. Quando temos
períodos extraordinários de desvalorização, você acaba entrando
com o sistema de metas em terrenos que não tinham sido esperados antes. Não dá também para
ter um sistema totalmente rígido.
Se fosse assim, o país teria sido colocado em recessão em 2002.
Será que vale a pena trabalhar
no curto prazo com meta de 6,5%
em vez de 8,5% e ter recessão? Dá
para atingir a meta, o sistema de
meta funciona, mas é preferível
não jogar nessa seara [de retração
da economia". As mudanças no
sistema fazem parte de um ajuste
natural. Vamos ter de conviver
com esse sistema em um país sujeito a choques econômicos. Por
isso, o caminho é tentar atingir a
meta em um prazo mais longo. Isso tem sido feito desde 2001.
Texto Anterior: Decisão só ajuda instituições, diz professor da USP Próximo Texto: Economista do Ipea concorda com medida devido ao nível da inflação Índice
|