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São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 2003

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Ex-diretor elogia Banco Central e cobra superávit primário maior

Nelson Perez - 21.jun.01/Valor
Sérgio Werlang, diretor do Banco Itaú e ex-Banco Central


ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central tem sido ambicioso e surpreendente nas suas decisões. A opinião é de Sérgio Werlang, diretor do Banco Itaú.
Werlang -que já foi diretor do BC e é considerado o formulador do sistema de metas de inflação brasileiro- disse que a elevação de juros ontem "era necessária". Na opinião de Werlang, além desse aumento, será fundamental um superávit primário maior e um recuo nas expectativas do mercado para que a nova meta de inflação de 8,5% possa ser cumprida.

Folha - A decisão do Copom era esperada?
Sérgio Werlang -
Eu achei a decisão inesperada. Mas necessária.

Folha - Juros anuais de 25,5% serão suficientes para que a meta de inflação de 8,5% seja atingida?
Werlang -
Não. Será necessário também um superávit primário maior e a manutenção dessa taxa de juros por algum tempo. Além disso, as expectativas do mercado terão de recuar.

Folha - O que o senhor achou da nova meta ajustada de 8,5%?
Werlang -
Esperava um número um pouco maior porque não acreditava que o Banco Central quisesse subir os juros agora.
Eles escolheram a alternativa mais ambiciosa. Decidiram colocar a meta um pouco mais apertada e subir os juros e o superávit primário para atingi-la.

Folha - O fato de a meta ajustada ser móvel é ruim?
Werlang -
Eu particularmente não gosto. Acho que a meta deveria ser de 8,5% por todo o ano. Isso é menos trabalhoso. Além disso, uma meta única contribuiria para a redução das expectativas.
Mas, se as eventuais mudanças forem sempre claras, se o BC mostrar que está realmente trabalhando para cumprir a meta, isso não será muito prejudicial.

Folha - Por que tem sido tão difícil atingir as metas de inflação? É uma falha do modelo ou de gestão?
Werlang -
O modelo trabalha dentro de parâmetros razoavelmente normais. Quando temos períodos extraordinários de desvalorização, você acaba entrando com o sistema de metas em terrenos que não tinham sido esperados antes. Não dá também para ter um sistema totalmente rígido. Se fosse assim, o país teria sido colocado em recessão em 2002.
Será que vale a pena trabalhar no curto prazo com meta de 6,5% em vez de 8,5% e ter recessão? Dá para atingir a meta, o sistema de meta funciona, mas é preferível não jogar nessa seara [de retração da economia". As mudanças no sistema fazem parte de um ajuste natural. Vamos ter de conviver com esse sistema em um país sujeito a choques econômicos. Por isso, o caminho é tentar atingir a meta em um prazo mais longo. Isso tem sido feito desde 2001.


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