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São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 2003

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Economista do Ipea concorda com medida devido ao nível da inflação

Nelson Perez/Valor
O economista Paulo Levy, do Ipea, que concordou com a medida


DA REPORTAGEM LOCAL

O economista Paulo Levy, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), afirma que o BC agiu de forma correta ao aumentar os juros. Seu argumento é que a inflação mantém-se em ""níveis relativamente complicados" e que, dada essa circunstância, era necessária uma ação mais ""incisiva" do BC para inverter as expectativas (de inflação).
Para o economista, o aumento de meio ponto serviria como uma mensagem ao mercado e os setores produtivos de que o BC não ""será frouxo com a inflação". (JOSÉ ALAN DIAS)

Folha - Que avaliação o sr. faz deste aumento dos juros?
Paulo Levy -
Como permanecemos com inflação em um nível relativamente complicado, era necessária uma ação mais incisiva do BC no sentido de inverter principalmente as expectativas [de inflação". O aumento dos juros terá impacto muito mais importante nesse aspecto do que sobre o lado real da economia. Foi positivo.

Folha - Um aumento de meio ponto basta para inverter essas expectativas?
Levy -
O BC sinalizou que aumenta os juros quando for preciso. E era preciso aumentar. Estamos com uma perspectiva de inflação em que mesmo a meta ajustada [de 8,5% para este ano" será difícil de ser cumprida, dada a pressão inflacionária que temos que carregar. O choque inicial veio do câmbio. Mas a propagação não ocorre de uma vez, há efeitos secundários: uma empresa cujos insumos aumentam por conta do dólar só vai repassar depois de um período e assim de forma sucessiva dentro de uma cadeia. Não se sabe ainda se todo o efeito do câmbio do ano passado já se manifestou.

Ao rever [anteontem" a meta de inflação, o BC não permitiu ao mercado alimentar expectativa de que a inflação de 2003 será maior que os 8,5% de meta oficial ou os 13% estimados pelo próprio mercado?
Levy -
O BC simplesmente reconheceu um fato: de que seria muito difícil manter a inflação no teto de 6,5%. A inflação de janeiro será em torno de 2%. Será muito difícil que o acumulado dos primeiros quatro ou cinco meses do ano fique abaixo de 5%. Você não consegue desvincular a inflação de hoje da passada. Como o que interessa não é inflação de um mês ou mesmo de um ano, mas a tendência, ele aceita o impacto primário em um determinado período e trabalha para impedir que o efeito se propague. O que o BC deixou claro foi sua disposição de aumentar os juros, de combater a inflação. ""Aumento os juros um pouco hoje, mas, se precisar, aumento mais", foi esse o recado. Se as pessoas acreditarem que o BC será frouxo com a inflação, elas fazem reajustes preventivos.


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