São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

China é "mina de ouro", vêem especialistas

Secretário do Tesouro dos EUA vê desrespeito à propriedade intelectual como problema, mas diz que país está no caminho certo

DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

A China, comunista e totalitária, foi alçada ontem ao altar em Davos, a cidadezinha suíça que, todo janeiro, reúne a nata do empresariado global, além de governantes e acadêmicos, no encontro anual do Fórum Econômico Mundial, tido como o banquete do neoliberalismo.
A sessão matinal perguntava se a China era "uma mina de ouro" ou "um campo minado" para o investimento externo, mas todas as tentativas de falar em "campo minado" foram rapidamente deixadas de lado para um formidável exercício de exaltação à "mina de ouro".
O fato de a China ser "ainda um país totalitário", no dizer de Victor Chu, presidente de um grupo de investimentos de Hong Kong que se orgulha de obter bons lucros na China, nem foi considerado pelo secretário norte-americano do Tesouro, Donald Evans.
"A China está no caminho certo e em boas mãos. O relacionamento com os EUA é muito, muito bom. O presidente (George W.) Bush visitou a China duas vezes, pela primeira vez na história."
É verdade que Evans lembrou um problema, o desrespeito à propriedade intelectual, chegando a citar o fato de que 95% dos DVDs e CDs comercializados na China serem piratas.
Rebateu Ulrich Schumacher, presidente da Infineon Technologies (Alemanha): "Não tive problemas com propriedade intelectual. O ritmo de inovação na China é muito rápido. Tenho tido mais dificuldades para explorar investimentos em pesquisa e desenvolvimento na Alemanha".
É igualmente verdade que "o sistema bancário não funciona como tal, e que os juros são fixados pelo governo, não pelas regras de mercado", como ressalvou também Evans. De novo, Schumacher: "É mais fácil obter dinheiro dos mesmos bancos na China do que na Europa".
Razão do entusiasmo: o formidável crescimento chinês (20 anos consecutivos à média de 8% ao ano, marca que chegou a 9% no ano passado) é também uma fábrica de lucros.
"Oitenta por cento das empresas estrangeiras instaladas na China são muito lucrativas", depõe Dinesh Paliwal, vice-presidente da suíça ABB. Reforça o brasileiro Carlos Ghosn, presidente da Nissan japonesa: "A maior lucratividade é nos Estados Unidos, mas a China vem imediatamente depois, oferecendo maiores lucros que o Japão ou a Europa".
Nem mesmo a advertência de que todos os países sofrem ciclos econômicos em que se alternam altos e baixos ou a perspectiva de uma valorização da moeda fez baixar o entusiasmo dos expositores. Tanto que Victor Chu aproveitou o início do "ano do macaco" no calendário chinês para garantir que "é o melhor momento para investir na China".
(CLÓVIS ROSSI)


Texto Anterior: Fórum econômico Mundial: Davos volta a pedir crescimento ao Brasil
Próximo Texto: Furlan inicia ações políticas pelos fármacos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.