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China é "mina de ouro", vêem especialistas
Secretário do Tesouro dos EUA vê desrespeito à propriedade intelectual como problema, mas diz que país está no caminho certo
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
A China, comunista e totalitária, foi alçada ontem ao altar em
Davos, a cidadezinha suíça que,
todo janeiro, reúne a nata do empresariado global, além de governantes e acadêmicos, no encontro
anual do Fórum Econômico
Mundial, tido como o banquete
do neoliberalismo.
A sessão matinal perguntava se
a China era "uma mina de ouro"
ou "um campo minado" para o
investimento externo, mas todas
as tentativas de falar em "campo
minado" foram rapidamente deixadas de lado para um formidável
exercício de exaltação à "mina de
ouro".
O fato de a China ser "ainda um
país totalitário", no dizer de Victor Chu, presidente de um grupo
de investimentos de Hong Kong
que se orgulha de obter bons lucros na China, nem foi considerado pelo secretário norte-americano do Tesouro, Donald Evans.
"A China está no caminho certo
e em boas mãos. O relacionamento com os EUA é muito, muito
bom. O presidente (George W.)
Bush visitou a China duas vezes,
pela primeira vez na história."
É verdade que Evans lembrou
um problema, o desrespeito à
propriedade intelectual, chegando a citar o fato de que 95% dos
DVDs e CDs comercializados na
China serem piratas.
Rebateu Ulrich Schumacher,
presidente da Infineon Technologies (Alemanha): "Não tive problemas com propriedade intelectual. O ritmo de inovação na China é muito rápido. Tenho tido
mais dificuldades para explorar
investimentos em pesquisa e desenvolvimento na Alemanha".
É igualmente verdade que "o
sistema bancário não funciona
como tal, e que os juros são fixados pelo governo, não pelas regras de mercado", como ressalvou também Evans. De novo,
Schumacher: "É mais fácil obter
dinheiro dos mesmos bancos na
China do que na Europa".
Razão do entusiasmo: o formidável crescimento chinês (20 anos
consecutivos à média de 8% ao
ano, marca que chegou a 9% no
ano passado) é também uma fábrica de lucros.
"Oitenta por cento das empresas estrangeiras instaladas na China são muito lucrativas", depõe
Dinesh Paliwal, vice-presidente
da suíça ABB. Reforça o brasileiro
Carlos Ghosn, presidente da Nissan japonesa: "A maior lucratividade é nos Estados Unidos, mas a
China vem imediatamente depois, oferecendo maiores lucros
que o Japão ou a Europa".
Nem mesmo a advertência de
que todos os países sofrem ciclos
econômicos em que se alternam
altos e baixos ou a perspectiva de
uma valorização da moeda fez
baixar o entusiasmo dos expositores. Tanto que Victor Chu aproveitou o início do "ano do macaco" no calendário chinês para garantir que "é o melhor momento
para investir na China".
(CLÓVIS ROSSI)
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