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ANÁLISE
País necessita de redução significativa nos "spreads"
JOSÉ DUTRA VIEIRA SOBRINHO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A diferença entre as taxas
de juros cobradas nas operações de empréstimo ou de financiamento e as taxas de juros pagas
para captação de recursos emprestados é chamada de "spread".
E o mínimo que se espera é que
uma eventual queda na taxa de
captação de recursos resulte numa redução equivalente nas taxas
cobradas nas operações de empréstimo.
O "spread" bancário deve cobrir as despesas administrativas,
operacionais, tributárias, o risco
do não-recebimento -medido
pela inadimplência- e ainda
proporcionar o lucro para a instituição que empresta. Desses elementos, os mais importantes e
polêmicos são a inadimplência e o
lucro. O primeiro, pela falta de dados confiáveis. O segundo, pelo
visível exagero em algumas modalidades, como o cheque especial e o cartão de crédito.
As análises feitas sobre comportamento das taxas de juros dos
empréstimos, comparativamente
com as reduções verificadas na taxa Selic, têm sido prejudicadas
pela precariedade das informações disponíveis e pelos diferentes
critérios utilizados para essa finalidade, muitos dos quais equivocados. São três as fontes normalmente citadas: o Banco Central, o
Procon e a Anefac (associação dos
executivos de finanças).
A principal fonte, o BC, com dados mais amplos e mais bem elaborados, divulga as informações
com razoável atraso. O Procon
peca pela falta de regularidade nas
informações prestadas e pela falta
de amplitude nas pesquisas feitas.
Quanto à Anefac, fonte mais citada pela imprensa nos últimos meses, suas informações são aceitas
sem nenhuma contestação quanto a amplitude, obtenção dos dados e critérios de ponderação.
Mesmo considerando essas restrições, todas elas mostram que as
reduções das taxas de juros nos
últimos 12 a 13 meses se efetivaram na mesma proporção. Apenas de dezembro do ano passado
para janeiro deste ano há uma pequena divergência: enquanto o
Procon registra uma pequena
queda nas taxas de juros dos cheques especiais e no crédito pessoal, a Anefac divulga uma pequena alta. E, ainda segundo o Procon, essa queda se repete de janeiro para fevereiro.
No que se refere à comparação
das reduções das taxas de juros
com as reduções da taxa Selic, vários critérios são utilizados, alguns totalmente equivocados. O
mais adequado, no meu entendimento, é a análise do comportamento do "spread". E, neste, os
dados das três fontes citadas mostram claramente que ele vem sendo mantido mais ou menos constante em quase todas as modalidades de operações de empréstimos feitos pelas instituições financeiras, particularmente nas
duas mais divulgadas, o crédito
pessoal e o cheque especial.
Esse fato comprova que as reduções das taxas de juros dos empréstimos têm sido efetivadas na
mesma medida da redução da Selic, permanecendo inalterada a diferença entre essas duas taxas.
Entretanto, para que haja uma
redução significativa dos níveis
das taxas de juros praticadas no
Brasil, há necessidade de redução
também significativa do
"spread", principalmente dos
seus componentes inadimplência
e lucro. Estou convicto de que isso
vai ocorrer nos próximos meses.
José Dutra Vieira Sobrinho é
economista e professor de matemática
financeira.
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