São Paulo, segunda, 23 de fevereiro de 1998

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CRIAÇÃO & CONSUMO
O garoto Bom Bril

FRANCESC PETIT


Onde foi aquele garoto simpático, engraçado e talentoso que as donas-de-casa amavam?
É triste ver o meu personagem, criado há tantos anos junto com o Olivetto e descoberto pelo Andres Bukowisky, fazendo anúncios e comerciais que ridicularizam não só o personagem como o próprio ator Carlos Moreno, tentando manter a imagem de garoto, sugando dele a última gota de talento só porque dá "recall" em paródias grosseiras de mau gosto que não beneficiam nem o nome Bom Bril nem a dignidade do ator.
Isto não quer dizer que o personagem Bom Bril não deva continuar. Se de fato as donas-de-casa gostam e ele vende, pode perfeitamente fazer lindos comerciais e anúncios, mas criados de um ponto de vista mais realista, aceitando que os anos passam e marcam as pessoas nos seus traços, na sua atuação, a beleza da idade, o respeito, as têmporas grisalhas do ator, que os criativos da "W/Brasil" levassem em conta. Poderiam fazer campanhas muito mais criativas e que vendessem mais do que essa bobagem, tentando fazer paródias com o personagem, fazendo graças que não têm graça nenhuma. O Woody Allen envelheceu com o tempo; o Marcello Mastroiani, um conquistador canastrão; o genial Sean Connery, que a cada ano que passa a idade o favorece. E assim muitos outros atores devem saber conviver com o avançar da idade. O Washington já tem cabelos brancos e eu nem cabelos tenho, apenas uma bela careca reluzente.
Nem mesmo o formato visual dos filmes e anúncios "layout" com o personagem em plano americano tendo o aval da Bom Bril ao fundo, criado por mim como marca visual das campanhas, os diretores de arte da "W" conseguiram mudar até hoje. Que falta de imaginação.
Isto não é uma crítica gratuita a uma agência concorrente. Isto é um direito que eu tenho de autor, um direito intransferível. A agência "W" ganhou fama, prêmios e dinheiro com o personagem, com algo que ela jamais criou. Assim, reservo o direito de emitir minhas opiniões publicamente enquanto o personagem existir. Aliás, por direito, como autor da idéia eu tenho uma grossa conta a receber, no mínimo 50%.


Francesc Petit, 63, publicitário, é sócio-diretor da DPZ Propaganda.



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