São Paulo, sexta-feira, 23 de abril de 2004

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CONTA-GOTAS

Ata divulgada pelo Copom volta a dizer que "ritmo moderado de reduções" não atrapalha recuperação da economia

BC defende opção por corte tímido nos juros

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central sinalizou ontem que não pretende promover cortes muito pronunciados nos juros básicos da economia, atualmente em 16% ao ano. Nas palavras do BC, "um ritmo mais moderado de reduções dos juros" é "um sintoma natural" da "normalização do ambiente macroeconômico" e permitirá a criação de um "cenário duradouro de estabilidade com crescimento".
As afirmações constam da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que, na semana passada, decidiu reduzir os juros em 0,25 ponto percentual. Apesar de reconhecer que indicadores importantes do nível de atividade -como o desemprego e a produção industrial- apresentam comportamento pouco animador, o BC voltou a defender que a maior lentidão na queda dos juros não afeta a recuperação da economia.
"Não faz sentido inferir [...], de forma mecânica, que um ritmo mais moderado de reduções dos juros corresponda a uma avaliação negativa sobre o comportamento futuro da inflação, ou que dele se deva resultar pessimismo a respeito da trajetória futura do nível de atividade", afirma a ata.
Em janeiro, o BC interrompeu seqüência de sete cortes consecutivos na Selic. As reduções só voltaram a ocorrer nos últimos dois meses, com quedas de 0,25 ponto percentual em cada ocasião.
Diante das críticas que recebeu pela relativa demora em reduzir os juros -o que seria um obstáculo ao crescimento-, o BC diz que "a atuação cautelosa da política monetária tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de que a inflação convirja para as trajetórias das metas".
O BC afirma que já há sinais de que a economia está se recuperando. É citado, entre outros fatores, o aumento na produção de papelão -usado em embalagens e visto como um termômetro do nível de atividade- e de automóveis e nas vendas do varejo.
Por outro lado, a ata da reunião do Copom mostra que um corte mais acentuado nos juros aumentaria o risco de um descumprimento da meta de inflação fixada pelo governo para este ano.
Nas contas do BC, se os juros caírem para 14% ao ano e se a cotação do dólar subir até R$ 3,05 até dezembro, a alta da inflação superaria os 5,5% previstos pelo centro da meta, embora ficasse dentro da margem de tolerância de 2,5 pontos para cima ou para baixo. A meta de 2005, de 4,5%, também seria descumprida.
O BC ainda apresentou novas projeções para o reajuste esperado para o gás de cozinha, que caiu de 10% para 6,9%. No caso das tarifas de energia elétrica, a estimativa subiu de 6,9% para 8,5%.
No governo, discute-se a mudança da meta de inflação de 2005, o que, em tese, abriria espaço para cortes maiores nos juros. O documento divulgado ontem pelo BC não toca nesse assunto.
A ata do Copom também minimiza o efeito que uma possível alta nos juros dos EUA teria. Segundo o documento, os investidores já incorporaram essa expectativa às cotações atuais. Além disso, os resultados positivos das contas externas do Brasil deixariam o país menos vulnerável.


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