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RECALL DE EMPRESAS
Relator inclui no parecer 19 pontos que não foram negociados com o Planalto e projeto sai da pauta
Crise adia a votação da Lei de Falências
LEONARDO SOUZA
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um desentendimento de última
hora entre o relator da nova Lei de
Falências, deputado Osvaldo
Biolchi (PMDB-RS), e a liderança
do governo na Câmara adiou
mais uma vez a votação do projeto, que estava prevista para hoje.
A Mesa diretora da Casa confirmou que o projeto foi retirado da
pauta de votação.
Segundo o vice-líder do governo Beto Albuquerque (PSB-RS),
Biolchi incluiu em seu parecer, lido ontem, 19 pontos que não haviam sido negociados com o Palácio do Planalto. Para Albuquerque, o incidente pode abrir uma
crise entre o governo e o PMDB,
um dos partidos da base governista. O vice-líder foi encarregado
pelo Planalto de conduzir a tramitação da proposta.
"Fomos surpreendidos, constatamos que havia algumas coisas
que não tinham sido acordadas.
Vamos apurar isso amanhã [hoje]
com o líder do PMDB [na Câmara, Eunício Oliveira, do Ceará]",
disse ele à Folha.
Entre os pontos que teriam sido
incluídos por Biolchi, está um artigo que impede que empresas
áreas entrem em recuperação judicial -o novo nome para a concordata.
Albuquerque deu a entender
que a finalidade desse artigo seria
atrapalhar o processo de fusão entre a Varig e a TAM, que conta
com o apoio do governo Lula.
Biolchi é do Rio Grande do Sul,
Estado de origem da Varig.
Os pontos conflitantes foram
detectados por técnicos da Casa
Civil no início da noite, quando já
era dada como certa pelos governistas a votação do projeto na sessão de hoje da Câmara.
Procurado pela Folha, Biolchi
disse desconhecer o desentendimento, afirmando que não havia
sido questionado sobre os pontos
supostamente divergentes. Ele
disse que iria ligar para Albuquerque para esclarecer a situação,
mas disse que não abriria mão do
artigo sobre o uso da recuperação
judicial pelas empresas aéreas.
A nova Lei de Falências é tida
pelo governo como uma de suas
reformas prioritárias. Com as
mudanças previstas no projeto,
entre as quais maiores garantias
aos empréstimos bancários, a
equipe econômica acredita que os
juros cobrados dos clientes no sistema financeiro serão reduzidos.
Por isso, o governo tem se esforçado nos últimos meses para levar
a proposta à votação na Câmara,
mas tem tido que lidar com resistências impostas por Biolchi. Os
avanços na votação da lei constam do acordo com o FMI (Fundo
Monetário Internacional).
Reunião com Dirceu
Ontem, o próprio ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, entrou em cena para contornar a situação. Em café da manhã na casa
do presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP),
Dirceu e líderes dos partidos da
base aliada pareciam ter chegado
a um novo acordo com Biolchi,
que manteria em seu parecer os
pontos defendidos pela equipe
econômica.
Os encontros e desencontros
entre o deputado e o governo já
haviam levado o Planalto a cogitar a substituição de Biolchi pelo
deputado Osmar Serraglio
(PMDB-PR), o que só não ocorreu devido à mediação de Eunício, que costurou o acordo que
aparentemente estava de pé até o
início da noite de ontem. Serraglio esteve, inclusive, no café da
manhã de ontem.
Depois de meses de conflito
com Biolchi, o governo achou por
bem ter um projeto substitutivo
ao do relator, como precaução.
Na semana passada, o vice-líder
Albuquerque protocolou a proposta alternativa na Câmara. A
idéia era levá-la a votação ainda
nesta semana caso não houvesse
acordo com o deputado peemedebista.
Projeto
Apesar da confusão, os principais pontos do projeto foram preservados no parecer de Biolchi.
Foi retirada, por exemplo, a limitação de valores ao pagamento de
dívidas trabalhistas e mantida a
preferência dos funcionários no
recebimento de seus direitos, em
detrimento dos demais credores.
Um dos aspectos mais importantes é a substituição da concordata (que será extinta) por planos
de recuperação de empresas em
dificuldades financeiras. Antes da
decretação de falência, as empresas terão duas alternativas.
Na primeira, a empresa poderá
reunir os credores e acordar um
plano de recuperação extrajudicial. Nesse caso, no entanto, a empresa precisa estar em dia com a
folha de pagamentos e com seus
tributos -ou inscrita no Refis
(programa de recuperação de tributos federais em atraso).
Na segunda opção, a empresa
tem de recorrer à Justiça para que
decrete uma recuperação judicial.
No entanto, ao contrário do que
ocorre hoje na concordata, que
pode se arrastar durante anos, a
empresa teria de chegar a um
concordo com os credores, sobre
como as dívidas seriam quitadas,
em até nove meses. Sem um entendimento nesse período, qualquer credor poderá pedir a falência da empresa.
Outro ponto de destaque da nova lei é a maior garantia para credores como bancos, investidores
e factorings (compra de ativos).
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