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POLÍTICA COMERCIAL
Candidato democrata pode criar mais obstáculos para a implantação do bloco do que George W. Bush
Alca será mais difícil com Kerry, diz estudo
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Nos seus quatro anos de governo, prestes a terminar, George
Walker Bush não conseguiu tirar
do pântano as negociações para a
criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Logo, se ele perder a eleição de
novembro para o democrata John
Kerry, as negociações comerciais
avançarão mais facilmente, certo?
Errado, de acordo com as conclusões a que induz um estudo do
CSIS (sigla em inglês para Centro
de Estudos Estratégicos Internacionais), um instituto de pesquisas conservador com sede em
Washington.
O trabalho, divulgado na última
sexta-feira, não diz, com todas as
letras, que Kerry terá mais dificuldades que Bush para fechar a negociação da Alca.
No entanto a conclusão só pode
ser essa, a partir de dois pontos de
vista: o de Sidney Weintraub, diretor do Programa Americas do
CSIS, e o do brasileiro Mario Marconini, diretor-executivo do Cebri (Centro Brasileiro para Relações Internacionais, com sede no
Rio de Janeiro).
Weintraub lembra que o senador Kerry já anunciou que, uma
vez eleito, "conduzirá uma revisão, durante 120 dias, dos acordos
comerciais atuais e em negociação, e não está claro se ele tenciona suspender as negociações em
andamento enquanto durar a revisão", diz.
Se Kerry optar, como parece algo lógico, por suspender as negociações durante o processo de revisão, também o ano de 2005 estará, a rigor, perdido para a Alca.
O ano seguinte será, no Brasil, o
da sucessão presidencial. Ano
eleitoral é sempre ruim para concessões comerciais, em qualquer
país. Tão ruim que o pesquisador
norte-americano já antecipa que
"haverá pouco progresso em temas comerciais hemisféricos até
depois das eleições presidenciais e
congressuais nos EUA, em novembro".
As divergências
O ponto levantado por Marconini é potencialmente mais relevante para antever dificuldades
maiores com Kerry do que com
Bush.
O especialista brasileiro lembra
que o candidato democrata defende a inclusão de direitos trabalhistas e ambientais nos acordos
comerciais, até mesmo na Alca.
Pergunta Marconini: "Poderá
um governo Kerry "viver" sem
seus amigos sindicalistas e ambientalistas? Muito provavelmente, a resposta é não".
Se é assim, as já grandes dificuldades na negociação da Alca ganharão dois novos pontos de divergência. O governo brasileiro
historicamente rejeita a inclusão
de cláusulas trabalhistas e ambientais em acordos comerciais,
alegando que se trata de protecionismo disfarçado.
O governo norte-americano poderia embargar exportações brasileiras de móveis, por exemplo,
alegando que foram fabricados
usando madeira de árvores que
deveriam ser preservadas.
Mas o Brasil não estará isolado
na resistência a esse tipo de cláusula nem mesmo estará na liderança da resistência. Países como
Peru e México são ainda mais vigorosamente contrários a uma
vinculação entre comércio e meio
ambiente ou regras trabalhistas.
O trabalho do CSIS faz parte do
programa "Observatório da Eleição-2004", que tenta jogar luz sobre as posições dos dois candidatos a respeito da América Latina.
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