São Paulo, segunda-feira, 23 de agosto de 2004

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POLÍTICA COMERCIAL

Candidato democrata pode criar mais obstáculos para a implantação do bloco do que George W. Bush

Alca será mais difícil com Kerry, diz estudo

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Nos seus quatro anos de governo, prestes a terminar, George Walker Bush não conseguiu tirar do pântano as negociações para a criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Logo, se ele perder a eleição de novembro para o democrata John Kerry, as negociações comerciais avançarão mais facilmente, certo?
Errado, de acordo com as conclusões a que induz um estudo do CSIS (sigla em inglês para Centro de Estudos Estratégicos Internacionais), um instituto de pesquisas conservador com sede em Washington.
O trabalho, divulgado na última sexta-feira, não diz, com todas as letras, que Kerry terá mais dificuldades que Bush para fechar a negociação da Alca.
No entanto a conclusão só pode ser essa, a partir de dois pontos de vista: o de Sidney Weintraub, diretor do Programa Americas do CSIS, e o do brasileiro Mario Marconini, diretor-executivo do Cebri (Centro Brasileiro para Relações Internacionais, com sede no Rio de Janeiro).
Weintraub lembra que o senador Kerry já anunciou que, uma vez eleito, "conduzirá uma revisão, durante 120 dias, dos acordos comerciais atuais e em negociação, e não está claro se ele tenciona suspender as negociações em andamento enquanto durar a revisão", diz.
Se Kerry optar, como parece algo lógico, por suspender as negociações durante o processo de revisão, também o ano de 2005 estará, a rigor, perdido para a Alca.
O ano seguinte será, no Brasil, o da sucessão presidencial. Ano eleitoral é sempre ruim para concessões comerciais, em qualquer país. Tão ruim que o pesquisador norte-americano já antecipa que "haverá pouco progresso em temas comerciais hemisféricos até depois das eleições presidenciais e congressuais nos EUA, em novembro".

As divergências
O ponto levantado por Marconini é potencialmente mais relevante para antever dificuldades maiores com Kerry do que com Bush.
O especialista brasileiro lembra que o candidato democrata defende a inclusão de direitos trabalhistas e ambientais nos acordos comerciais, até mesmo na Alca.
Pergunta Marconini: "Poderá um governo Kerry "viver" sem seus amigos sindicalistas e ambientalistas? Muito provavelmente, a resposta é não".
Se é assim, as já grandes dificuldades na negociação da Alca ganharão dois novos pontos de divergência. O governo brasileiro historicamente rejeita a inclusão de cláusulas trabalhistas e ambientais em acordos comerciais, alegando que se trata de protecionismo disfarçado.
O governo norte-americano poderia embargar exportações brasileiras de móveis, por exemplo, alegando que foram fabricados usando madeira de árvores que deveriam ser preservadas.
Mas o Brasil não estará isolado na resistência a esse tipo de cláusula nem mesmo estará na liderança da resistência. Países como Peru e México são ainda mais vigorosamente contrários a uma vinculação entre comércio e meio ambiente ou regras trabalhistas.
O trabalho do CSIS faz parte do programa "Observatório da Eleição-2004", que tenta jogar luz sobre as posições dos dois candidatos a respeito da América Latina.


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