São Paulo, Segunda-feira, 23 de Agosto de 1999
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REESTRUTURAÇÃO
Novos fundos de investimento chegam ao mercado em busca de oportunidades de negócios
Crise favorece a compra de empresas

ISABEL CLEMENTE
da Sucursal do Rio

A atual onda de desconfiança na economia brasileira está favorecendo uma indústria financeira ainda incipiente mas em plena ascensão no país: fundos de investimentos que compram participações em empresas para vender depois.
Esses fundos são geridos por administradoras de recursos ou bancos de investimento e ficam nas empresas por um prazo de cinco a dez anos. Pelo menos cinco fundos estão no mercado com alguns milhões de reais em busca de oportunidades.
O objetivo desses fundos é entrar de sócio em empresas, ajudá-las a se reestruturar (participando da gestão) e, ao fim do tempo previsto, vender o negócio para um sócio estratégico, quando a operação deverá render algum lucro para os cotistas.
A crise está estimulando a formação dessa indústria no Brasil porque, acreditando que ela seja passageira, os investidores têm a chance de comprar negócios "baratos", explica Maria Amalia Coutrim, diretora do CVC/Opportunity, que tem o Citibank como parceiro e já atraiu R$ 2 bilhões para o país dessa forma.
De 97 para cá, o CVC/Opportunity comprou seis empresas, entre elas o Metrô do Rio, a Telemig Celular e a Tele Centro Sul.
O Opportunity está lançando dois novos fundos: o CVC/Opportunity 2, para empresas de infra-estrutura, Internet e saúde, e o NG-9, cuja missão será a recuperação de marcas.
O grupo pretende captar R$ 500 milhões no país e US$ 500 milhões no exterior para entrar em novos negócios. O investimento só acontece quando todos os cotistas aprovam o destino dos seus recursos, diz Maria Amalia.
No mercado, esses fundos são chamados de "private equity" (expressão em inglês para ação privada). Os cotistas são formados por fundos de pensão, empresas de participações, como a BNDESpar, e até pessoas físicas.
O diretor-executivo dessa área do banco Santander, José Eduardo Martins, concorda com a tese de que a crise ajuda a "vender" as oportunidades de investimentos temporários no país.
O Santander lançou um fundo de "private equity" local em setembro de 98, pouco antes da crise de outubro, que afundou o país numa entressafra de investimentos externos.
O fundo tem R$ 200 milhões para investir em empresas, poderá ser majoritário ou não, e deverá tirar seus escolhidos dos ramos de serviços (o que inclui saúde), varejo e entretenimento. Segundo Martins, o fundo está perto de fechar seu primeiro projeto.
O precursor dessa estratégia de investimento no país é o banco Garantia, cujos sócios fundaram o GP Investimentos -hoje independente-, que responde pelos poucos casos de sucesso de "private equity" no Brasil, entre os quais a compra e a posterior venda da Multicanal (empresa de TV a cabo) para a Globo Cabo, em dezembro de 97.
O banco Bozano, Simonsen tem fundos voltados para empresas de médio porte, mas prefere não interferir na gestão. Para isso, seleciona empresários com nome no mercado, diz Marcos Rechtman, diretor-executivo da área.
O Bozano tem um fundo de R$ 40 milhões investidos em seis empresas e prepara o lançamento de um novo, também de R$ 40 milhões, cujas apostas estão voltadas para as seguintes áreas: serviços, Internet, esporte e consolidação empresarial (ou fusões).
O Pactual Electra, uma empresa do banco Pactual e do fundo inglês Electra Fleming, tem US$ 100 milhões à espera de bons negócios. O Pactual Electra está no controle compartilhado da Flumitrens, companhia fluminense de transporte ferroviário urbano, privatizada em 98.


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