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São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2003

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RECEITA HETERODOXA

Fundo diz que esses pontos são entraves ao crescimento

FMI propõe ao país redução dos juros e do compulsório

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

As altas taxas de juros, o elevado "spread" bancário e o atual patamar de depósito compulsório são os nós estruturais do crescimento do Brasil na avaliação de Jorge Márquez-Ruarte, diretor-adjunto do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Ruarte, que chefiou a missão do Fundo ao Brasil no mês passado, criticou os elevados níveis de "spread" bancário no Brasil (diferença entre a taxa paga pelos bancos para captar recursos e o retorno com as aplicações).
"O "spread" é alto demais para padrões internacionais. É quase dez vezes superior aos registrados em países em desenvolvimento como o Brasil. O crescimento está voltando, mas ainda não dá para saber de quanto ele será. O desafio é fazer com que ele seja constante", disse Ruarte ontem durante seminário realizado pela Câmara de Comércio Brasil-EUA, em Nova York.
Para operações prefixadas, o "spread" médio é de 45,96% ao ano, segundo os dados mais atualizados do BC.
As taxas de juro real no Brasil também foram alvo das críticas de Ruarte. "As taxas são terrivelmente altas. Isso é um grande obstáculo para o crescimento", afirmou. Para ele, o Banco Central terá que contar com a ajuda de todos os setores do governo para conseguir reduzir as taxas de juro real. "O BC tem conseguido baixar a taxa de juro nominal nos últimos meses, mas a principal questão é que a taxa de juro real tem sido elevada no Brasil nos últimos anos e acredito que ela deva permanecer alta", diz.
Enquanto a taxa Selic (básica de juros) está fixada em 20% ao ano pelo BC, a taxa de juros real projetada para os próximos 12 meses é de 12,7%, segundo a consultoria Global Invest, levando em conta a perspectiva de inflação futura.
Na cartilha de Ruarte, a má distribuição de renda é outro ponto que deve ser combatido se o Brasil quiser assegurar um crescimento sustentado: "A classe média ainda é a principal beneficiada dos repasses da arrecadação de impostos. Os mais pobres têm pouco acesso a esses benefícios".

Contra-ataque
Presente no mesmo seminário, Joaquim Levy, secretário do Tesouro Nacional, rebateu as críticas. "Ainda não é o momento adequado para reduzir o compulsório. Há bastante liquidez nos bancos. No futuro, a redução dos compulsórios pode ser um passo importante para diminuir o "spread", mas, hoje, a prioridade do governo é o avanço das reformas [previdenciária e tributária]", disse.
Levy afirmou ainda que a economia brasileira dá outros sinais de que está em recuperação e de que a confiança dos mercados no Brasil está de volta. Um desses indicadores, segundo ele, seria a mudança no perfil da dívida pública brasileira. "A parte da dívida indexada a dólar está em queda e tem crescido a participação de papéis prefixados", afirmou. Para Levy, esses movimentos sinalizam que os investidores estão confiantes da retomada do crescimento do país.
Diante desse cenário, considerado como positivo, um acordo com o FMI pode ser desejável, mas não é mais fundamental, segundo ele. "O FMI continua a ser um parceiro importante, mas não estamos mais em crise. Já é tempo de nós pensarmos na nossa relação com o Fundo de uma forma diferente", declarou Levy.
O mesmo ponto de vista foi partilhado pelo ministro do Planejamento, Guido Mantega: "O Brasil precisa hoje muito menos do FMI do que no final do ano passado, quando havia um problema de administração da dívida pública. O país já tem condições de caminhar com suas próprias pernas".


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