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RECEITA HETERODOXA
Fundo diz que esses pontos são entraves ao crescimento
FMI propõe ao país redução
dos juros e do compulsório
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
As altas taxas de juros, o elevado
"spread" bancário e o atual patamar de depósito compulsório são
os nós estruturais do crescimento
do Brasil na avaliação de Jorge
Márquez-Ruarte, diretor-adjunto
do Departamento do Hemisfério
Ocidental do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Ruarte, que chefiou a missão do
Fundo ao Brasil no mês passado,
criticou os elevados níveis de
"spread" bancário no Brasil (diferença entre a taxa paga pelos bancos para captar recursos e o retorno com as aplicações).
"O "spread" é alto demais para
padrões internacionais. É quase
dez vezes superior aos registrados
em países em desenvolvimento
como o Brasil. O crescimento está
voltando, mas ainda não dá para
saber de quanto ele será. O desafio
é fazer com que ele seja constante", disse Ruarte ontem durante
seminário realizado pela Câmara
de Comércio Brasil-EUA, em Nova York.
Para operações prefixadas, o
"spread" médio é de 45,96% ao
ano, segundo os dados mais atualizados do BC.
As taxas de juro real no Brasil
também foram alvo das críticas
de Ruarte. "As taxas são terrivelmente altas. Isso é um grande
obstáculo para o crescimento",
afirmou. Para ele, o Banco Central
terá que contar com a ajuda de todos os setores do governo para
conseguir reduzir as taxas de juro
real. "O BC tem conseguido baixar a taxa de juro nominal nos últimos meses, mas a principal
questão é que a taxa de juro real
tem sido elevada no Brasil nos últimos anos e acredito que ela deva
permanecer alta", diz.
Enquanto a taxa Selic (básica de
juros) está fixada em 20% ao ano
pelo BC, a taxa de juros real projetada para os próximos 12 meses é
de 12,7%, segundo a consultoria
Global Invest, levando em conta a
perspectiva de inflação futura.
Na cartilha de Ruarte, a má distribuição de renda é outro ponto
que deve ser combatido se o Brasil
quiser assegurar um crescimento
sustentado: "A classe média ainda
é a principal beneficiada dos repasses da arrecadação de impostos. Os mais pobres têm pouco
acesso a esses benefícios".
Contra-ataque
Presente no mesmo seminário,
Joaquim Levy, secretário do Tesouro Nacional, rebateu as críticas. "Ainda não é o momento
adequado para reduzir o compulsório. Há bastante liquidez nos
bancos. No futuro, a redução dos
compulsórios pode ser um passo
importante para diminuir o
"spread", mas, hoje, a prioridade
do governo é o avanço das reformas [previdenciária e tributária]", disse.
Levy afirmou ainda que a economia brasileira dá outros sinais
de que está em recuperação e de
que a confiança dos mercados no
Brasil está de volta. Um desses indicadores, segundo ele, seria a
mudança no perfil da dívida pública brasileira. "A parte da dívida
indexada a dólar está em queda e
tem crescido a participação de papéis prefixados", afirmou. Para
Levy, esses movimentos sinalizam que os investidores estão
confiantes da retomada do crescimento do país.
Diante desse cenário, considerado como positivo, um acordo
com o FMI pode ser desejável,
mas não é mais fundamental, segundo ele. "O FMI continua a ser
um parceiro importante, mas não
estamos mais em crise. Já é tempo
de nós pensarmos na nossa relação com o Fundo de uma forma
diferente", declarou Levy.
O mesmo ponto de vista foi partilhado pelo ministro do Planejamento, Guido Mantega: "O Brasil
precisa hoje muito menos do FMI
do que no final do ano passado,
quando havia um problema de
administração da dívida pública.
O país já tem condições de caminhar com suas próprias pernas".
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