São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004

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Aversão a risco cresce, diz relatório

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os recordes sucessivos do petróleo começam a provocar um aumento da aversão a risco nos mercados internacionais, o que pode trazer conseqüências negativas para as economias emergentes, como a saída de recursos em direção aos Estados Unidos e à Europa.
Analistas de Wall Street ouvidos pela Folha dizem que os sinais ainda não são claros, mas que esse temor ganha corpo nas principais praças financeiras internacionais.
Ontem, o banco de investimento norte-americano Lehman Brothers divulgou relatório intitulado "Apetite a risco deteriora: implicações". No texto, a instituição informa que, pela primeira vez desde agosto passado, o índice desenvolvido pelo banco para aferir risco "entrou no território de aversão". Como conseqüência, o banco recomendou a redução automática de investimentos nas moedas húngara, turca e brasileira.
"Esse é um risco possível [de o cenário de aversão a risco se confirmar]. Sinal disso é que, na semana passada, houve queda das ações e busca por títulos do Tesouro americano", disse Ricardo Amorim, diretor de pesquisas do banco WestLB em Nova York.
Amorim ressalta, no entanto, que ainda não se pode falar em "fuga para qualidade", movimento que ocorre quando investidores estrangeiros retiram seus recursos de países mais arriscados (como o Brasil) para transferi-los para economias mais seguras, como a dos Estados Unidos e a de países europeus.

Atividade global
Segundo ele, dois fatores provocaram esse medo nos investidores e analistas, os dois relacionados ao petróleo. Em primeiro lugar, a alta do produto poderia levar a uma redução mais forte do que o inicialmente imaginado no nível da atividade econômica global. O impacto negativo para as economias emergentes, como a do Brasil, seria uma redução de suas exportações.
Além desse aspecto negativo em si, haveria o desdobramento sobre os produtos básicos (commodities), que cairiam de preço nos mercados internacionais com a redução da demanda mundial, prejudicando ainda mais os países em desenvolvimento, muito dependentes da venda dessas mercadorias pouco industrializadas.

Efeito positivo
Para Drauzio Giacomelli, economista do JP Morgan em Nova York, os efeitos da alta do petróleo para as economias emergentes ainda são positivos. Em sua avaliação, a alta do produto ajudou a frear um pouco o crescimento americano, reduzindo eventuais pressões inflacionárias e levando, assim, o Fed (banco central americano) a precisar aumentar menos os juros.
Como na Europa e no Japão os juros também estão baixos, os investidores buscaram investimentos mais rentáveis nas economias emergentes. Sinal disso é que os juros dos papéis do Tesouro americano têm caído. "O medo é que o petróleo deixe de ser apenas um freio para a inflação e acabe reduzindo demais o nível da atividade econômica global. Historicamente, o crescimento mundial sempre foi mais importante para as economias emergentes do que juros baixos nos EUA", disse.

Cenário desfavorável
Para o economista do ABN Amro para mercados emergentes, Arturo Porzecansky, "o cenário econômico mundial não é favorável para ninguém". Mas ele não acredita que haverá fuga de capitais das economias emergentes. Em sua opinião, se a economia mundial crescer menos, os países centrais manterão seus juros baixos. "Os saldos comerciais das economias emergentes estão muito bons. Não acredito que serão tão afetados. E o investidor que desejar rentabilidade melhor, manterá seus recursos nesses países", disse.


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