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Aversão a risco cresce, diz relatório
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os recordes sucessivos do petróleo começam a provocar um
aumento da aversão a risco nos
mercados internacionais, o que
pode trazer conseqüências negativas para as economias emergentes, como a saída de recursos em
direção aos Estados Unidos e à
Europa.
Analistas de Wall Street ouvidos
pela Folha dizem que os sinais
ainda não são claros, mas que esse
temor ganha corpo nas principais
praças financeiras internacionais.
Ontem, o banco de investimento norte-americano Lehman Brothers divulgou relatório intitulado
"Apetite a risco deteriora: implicações". No texto, a instituição informa que, pela primeira vez desde agosto passado, o índice desenvolvido pelo banco para aferir
risco "entrou no território de
aversão". Como conseqüência, o
banco recomendou a redução automática de investimentos nas
moedas húngara, turca e brasileira.
"Esse é um risco possível [de o
cenário de aversão a risco se confirmar]. Sinal disso é que, na semana passada, houve queda das
ações e busca por títulos do Tesouro americano", disse Ricardo
Amorim, diretor de pesquisas do
banco WestLB em Nova York.
Amorim ressalta, no entanto,
que ainda não se pode falar em
"fuga para qualidade", movimento que ocorre quando investidores estrangeiros retiram seus recursos de países mais arriscados
(como o Brasil) para transferi-los
para economias mais seguras, como a dos Estados Unidos e a de
países europeus.
Atividade global
Segundo ele, dois fatores provocaram esse medo nos investidores
e analistas, os dois relacionados
ao petróleo. Em primeiro lugar, a
alta do produto poderia levar a
uma redução mais forte do que o
inicialmente imaginado no nível
da atividade econômica global. O
impacto negativo para as economias emergentes, como a do Brasil, seria uma redução de suas exportações.
Além desse aspecto negativo em
si, haveria o desdobramento sobre os produtos básicos (commodities), que cairiam de preço nos
mercados internacionais com a
redução da demanda mundial,
prejudicando ainda mais os países em desenvolvimento, muito
dependentes da venda dessas
mercadorias pouco industrializadas.
Efeito positivo
Para Drauzio Giacomelli, economista do JP Morgan em Nova
York, os efeitos da alta do petróleo para as economias emergentes
ainda são positivos. Em sua avaliação, a alta do produto ajudou a
frear um pouco o crescimento
americano, reduzindo eventuais
pressões inflacionárias e levando,
assim, o Fed (banco central americano) a precisar aumentar menos os juros.
Como na Europa e no Japão os
juros também estão baixos, os investidores buscaram investimentos mais rentáveis nas economias
emergentes. Sinal disso é que os
juros dos papéis do Tesouro americano têm caído. "O medo é que
o petróleo deixe de ser apenas um
freio para a inflação e acabe reduzindo demais o nível da atividade
econômica global. Historicamente, o crescimento mundial sempre
foi mais importante para as economias emergentes do que juros
baixos nos EUA", disse.
Cenário desfavorável
Para o economista do ABN Amro para mercados emergentes,
Arturo Porzecansky, "o cenário
econômico mundial não é favorável para ninguém". Mas ele não
acredita que haverá fuga de capitais das economias emergentes.
Em sua opinião, se a economia
mundial crescer menos, os países
centrais manterão seus juros baixos. "Os saldos comerciais das
economias emergentes estão
muito bons. Não acredito que serão tão afetados. E o investidor
que desejar rentabilidade melhor,
manterá seus recursos nesses países", disse.
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