São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004

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SOBRE A MESA

Variedades mais caras representam quase 20% do mercado da bebida nos EUA, de US$ 5 bilhões em 2003

Empresas buscam vender chá como novo estilo de vida

ELIZABETH OLSON
DO "INDEPENDENT"

Se você amava chá uma década atrás, podia comprar sacos de chá Lipton em uma caixa vermelha e amarela no supermercado. Ou, se desejasse algo diferente, poderia escolher o Constant Comment, de sabor mais pronunciado, da Bigelow, ou um chá Twinings.
Hoje, porém, os consumidores de chá escolhem entre centenas de variedades de chás verdes, chás pretos exóticos e talvez até mesmo chás vermelhos e chás brancos -e é possível que tenham acumulado estoques de algumas dessas especialidades.
O chá se tornou tão popular que começou a ser chamado de "novo café". Ainda que o chá não deva ultrapassar o café como bebida quente preferida dos Estados Unidos, em curto prazo, suas vendas estão disparando, e as distribuidoras de café começam a prestar atenção. No ano passado, os consumidores norte-americanos gastaram US$ 5 bilhões em chá, cinco vezes mais que na década passada, mas ainda bem abaixo dos US$ 20 bilhões gastos em café, de acordo com números do setor.
Boa parte do chá vendido é das variedades mais caras. Bem mais de cem empresas nos EUA vendem chá no momento, on-line, por reembolso postal ou no varejo, aproveitando a disposição dos consumidores de pagar preços elevados por chás de grife, cujas vendas subiram para o recorde de US$ 923 milhões no ano passado. Isso equivale a quase 20% das vendas totais de chá.
A imagem conservadora do chá -damas saboreando a bebida refinadamente, em xícaras de porcelana- foi abalada, sem nenhuma cerimônia, pela Starbucks, quem diria. Em 1999, a cadeia de cafés começou a oferecer chás da Tazo, uma subsidiária da Starbucks e da Kraft Foods, sob o slogan "a reencarnação do chá". Logo, as lojas da rede começaram a oferecer muitas das marcas mais tradicionais, como Lipton, Twinings e Bigelow, e até mesmo chás da Celestial Seasonings, distribuidora de chás de ervas e parte do Hain Celestial Group.
A Tazo e a Republic of Tea são duas das marcas mais conhecidas entre as que aproveitam a nova tendência.
As companhias de chá dizem que recursos fantasiosos de marketing visam atingir a proporção estimada em 30% da população adulta identificada pelos pesquisadores como disposta a pagar mais caro pelo que entendem como produtos mais saudáveis.
Uma dessas pessoas é Sharon Bower, diretora associada do centro de formação de empreendedores na Escola John Cook de Administração de Empresas, parte da Universidade de St. Louis. Ela começou a beber chá da Republic of Tea há seis ou sete anos.
"Gosto da bebida, emocionalmente", disse. "O mundo é desgastante, e não acredito em café como maneira de me acalmar. Gosto de me sentar com meu chá, é uma espécie de ritual, que me coloca em estado de espírito diferente", afirmou.
Osvaldo Ortega Chinea, que bebe chás da Adagio Teas, uma distribuidora on-line, diz que a bebida tem "fragrância variada e um sabor mais sutil" que o café e o ajuda a relaxar depois do trabalho como professor em uma escola de segundo grau em Nova Orleans.
Os fabricantes de chás especiais também apontam para conexões entre a produção orgânica e a conservação de recursos naturais. A Republic of Tea e outros distribuidores empregam saquinhos de chá produzidos sem alvejantes e desprovidos de fios, grampos e etiquetas. Marcas como a Tazo convidam os usuários a reciclar as embalagens. A consciência social é parte da atração. A Tazo ajuda comunidades rurais em Darjeeling, Índia, e a Republic of Tea doa fundos a uma fundação de combate ao câncer de mama e a um grupo ambiental.
Os consumidores de chá podem estar pagando mais, mas os distribuidores de chá de alta qualidade alegam que o produto que recebem é superior. Os puristas promovem o chá a granel, dizendo que o gosto é melhor, e muitos dos distribuidores usam seus sites para informar aos consumidores sobre as melhores maneiras de preparar o chá.


Tradução de Paulo Migliacci


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