São Paulo, sexta-feira, 23 de outubro de 2009

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China deve bater previsão de crescimento do governo

Economia do país asiático avança 8,9% no 3º trimestre ante igual período de 2008

Com gigantesco aumento no crédito, meta de PIB 8% maior em 2009 será ultrapassada, segundo a maioria dos analistas


RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A economia da China cresceu 8,9% no terceiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado -a expansão anual entre janeiro e setembro foi de 7,7%. A meta do governo é de 8% em 2009, número que deve ser superado segundo boa parte das previsões de bancos e economistas.
O PIB chinês cresceu 6,1% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2008 e 7,9% no segundo trimestre.
O governo chinês usou o controle sobre os bancos -todos os maiores são estatais- para estimular um gigantesco aumento no crédito. Nos primeiros nove meses de 2009, o crédito chegou a 8,65 trilhões de yuans (US$ 1,26 trilhão, ou 3,3 vezes o orçamento total do PAC brasileiro entre 2007 e 2010), 149% mais crédito que no mesmo período do ano passado.
Boa parte do crédito foi concedida a empresas estatais e governos provinciais e locais para obras de infraestrutura, de portos e rodovias a aeroportos e trens de alta velocidade.
O consumo crescente de matérias-primas para saciar essas obras, especialmente minério de ferro, tem reflexo imediato nas exportações brasileiras para o gigante asiático.
Mas o governo começou a dar pistas de que diminuirá um pouco o excesso de crédito para começar a "esfriar" a economia chinesa. Vários economistas têm alertado para os riscos de bolhas no setor imobiliário e de ações, o aumento de créditos podres, que podem jamais ser devolvidos aos bancos, além do aumento do excesso de capacidade em setores da economia.
O Conselho de Estado, o gabinete chinês, divulgou comunicado na quarta-feira em que diz que uma das prioridades da política macroeconômica chinesa nos próximos meses é "equilibrar as tarefas de assegurar um estável e relativamente rápido crescimento econômico, ajustando a estrutura econômica e regular as perspectivas inflacionárias".
Em 2008, o PIB cresceu 9%, após quatro anos consecutivos de expansão acima de 10%.

Desaceleração moderada
Em artigo publicado no jornal britânico "Financial Times", Qin Xiao, presidente do sexto maior banco chinês, o China Merchants Bank, escreveu que o governo não deveria temer uma "desaceleração moderada" na economia.
O presidente do banco estatal argumenta que o país precisa de um urgente aperto na liberação de crédito para evitar bolhas no setor imobiliário.
Mas o ritmo do crédito ainda foi acelerado em setembro, quando foram emprestados 517 bilhões de yuans (US$ 76 bilhões). Em agosto, o crédito havia sido de 410 bilhões.
Segundo o economista Ben Simpfendorfer, que trabalha no Royal Bank of Scotland em Hong Kong, vários desequilíbrios persistem, "como a fraqueza no investimento privado e o excesso de liquidez".
"O setor privado ainda precisa se recuperar de vez e boa parte do crédito dos bancos foi canalizada para as Bolsas e a especulação imobiliária, em vez da economia real", disse Simpfendorfer à Folha.
"Tirando as grandes companhias estatais, as pequenas e médias empresas têm acesso difícil ao crédito", afirmou.
As vendas no varejo aumentaram 15,1% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período de 2008, mas o número não traduz fielmente o consumo privado, pois compras governamentais são incluídas.
No mês passado, o governo chinês já havia divulgado que cerca de 80% dos 20 milhões de migrantes rurais que perderam o emprego no ano passado tinham se reempregado.
Os setores que mais demitiram em 2008 foram os voltados à exportação e o da construção civil.
A queda nas exportações chinesas, que estavam se retraindo a um ritmo de 25% em relação a 2008, foi atenuada para -17% em setembro.


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