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LUÍS NASSIF
FGTS, saneamento e mercado
Há que ter cuidado na proposta de uso do FGTS para
o trabalhador poder aplicar em
ações de companhias de capital
aberto. A proposta apresentada
por entidades paulistas propõe
1% dos 8% -o que equivale a
12,5% da receita anual do
FGTS. O 1% é calculado sobre a
receita total. Segundo os cálculos dos proponentes, equivaleria
a R$ 2 bilhões/ano.
Ocorre que a receita líquida
do FGTS (arrecadação menos liberação) mal chega aos R$ 4 bilhões. Há excesso de prioridades
para pouco dinheiro. Mas uma
prioridade fundamental é a
questão do saneamento e da habitação -justamente os dois setores para onde o FGTS tem que
destinar seus recursos.
Nos últimos anos praticamente não foi liberado recurso para
saneamento em razão de uma
norma torta do FMI, tratando
como déficit público investimentos no setor em empresas estaduais. Com isso, o déficit de
saneamento se ampliou.
Uma maneira de casar as
duas prioridades -saneamento e fortalecimento do mercado
de capitais- seria promover o
já proposto "encontro de contas" entre União, Estados e municípios, que permitisse transformar as estaduais de saneamento em empresas públicas, de
capital aberto e pulverizado por
fundos de investimentos compostos pelo dinheiro dos trabalhadores -a partir do reconhecimento das dívidas dos Estados
e municípios com o FGTS.
Os trabalhadores não desviariam dinheiro do FGTS, mas
utilizariam títulos da dívida,
emitidos tendo como lastro as
empresas privatizáveis, só podendo ser utilizados para a privatização.
O conceito de empresa pública
se contrapõe ao da empresa estatal e ao da empresa privada
de dono. Já existe experiência
acumulada no país para constituir fundos de investimento, que
investiriam em empresas que
fossem aceitas pelo novo mercado da Bolsa de Valores de São
Paulo -que inclui regras severas de governança corporativa
aos seus integrantes.
Escola Base e Chesf
Nesta semana, os antigos donos da Escola Base venceram a
ação contra o Estado, ganhando
indenização de R$ 250 mil pelo
que passaram na época. O episódio ocorreu em 1994, uma
acusação falsa de mãe de aluno
que acabou batendo em um delegado imprudente, criando um
clamor que levou um desembargador a decretar a prisão de dois
casais ligados à escola.
Segundo o livro "O Caso Escola Base", de A. Ribeiro, minha
intervenção rompeu com a unanimidade em torno do episódio
e encorajou o desembargador a
libertar os inocentes.
Se o caso fosse hoje, eu não teria podido cumprir a contento
com minha missão jornalística.
Depois de ter sido condenado a
três meses de prisão -por tachar de "aventura" a tentativa
de uma empreiteira de, por
atrasos de pagamento de uma
parcela, pleitear do governo
uma indenização várias vezes
superior ao valor total da
obra-, não teria mais o menor
parâmetro sobre como me conduzir no episódio.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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