São Paulo, terça-feira, 23 de novembro de 2004

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RETOMADA

Situação é boa para novos investimentos, mas juros e gargalos atrapalham

Indústria reduz e melhora qualidade de suas dívidas

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

A indústria brasileira está preparada para um novo ciclo de investimentos na economia. A conclusão faz parte de um estudo realizado pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) com base nos dados de balanço de setembro de 105 grandes empresas industriais em comparação ao mesmo mês de 2003.
Segundo o estudo, o endividamento geral (a relação entre o endividamento oneroso líquido e o capital próprio) acusou um recuo significativo. O nível de endividamento caiu de 0,61 (setembro de 2003) para 0,44, em setembro deste ano. Se for excluída a Petrobras, a queda é ainda maior: de 0,74 para 0,48 entre os dois períodos. A dívida, hoje, corresponde a menos da metade do patrimônio.
De acordo com o estudo do Iedi, as maiores quedas no nível de endividamento foram registradas nos seguintes setores: alimentos (de 1,27 para 0,55); siderurgia (de 1 para 0,62); editora (de 0,61 para 0,43); bebidas e fumo (de 0,75 para 0,39); e químico (de 0,98 para 0,60). As maiores altas foram as seguintes: metalurgia (de 1,57 para 1,81); utilidades domésticas (de 0,52 para 1,33) e equipamentos elétricos (de 0,26 para 0,70).
O economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor do Iedi, chama a atenção para uma melhora significativa na qualidade da dívida das empresas. Segundo o estudo, também caiu bastante o endividamento de curto prazo no total dos empréstimos obtidos pelas empresas.
Considerando os dados para o total das 105 empresas pesquisadas, com e sem Petrobrás, a participação dos empréstimos de curto prazo no total passa respectivamente de 38% para 29% e de 47% para 36%. Ou seja, de acordo com Gomes de Almeida, as empresas, além de reduzirem o endividamento, também alongaram o perfil da dívida. "A restrição financeira que existia para as empresas voltarem a investir acabou", diz o diretor do Iedi.
O grande problema, no entanto, é que a decisão de investir das empresas não depende apenas da redução de endividamento. São outros motivos que impedem as empresas, hoje, de contrair novas dívidas para voltarem a investir.
Segundo Gomes de Almeida, os principais fatores que as empresas levam em conta, hoje, na decisão de voltar a investir são: infra-estrutura e taxas de juros.
Ninguém vai investir se não tiver garantias de que não irá enfrentar problemas de gargalos em portos, ferrovias ou estradas ou ainda crise de energia.
Além do problema de infra-estrutura, outro fantasma que assusta o empresariado é a política monetária do Banco Central.
De acordo com Gomes de Almeida, diante dos constantes aumentos de juros, a indústria teme fazer novos investimentos e ter sua produção encalhada por falta de demanda. "É por isso que achamos temerária essa política do Banco Central", diz.

Alta rentabilidade
O trabalho do Iedi mostra também outra importante conclusão: a rentabilidade das empresas em 2004 será alta e comparável ao de 2003, ano considerado excepcional para a indústria. Trata-se, segundo o economista do Iedi, de um fato raro, desde o Plano Real: dois anos de rentabilidade excelente da indústria.
A rentabilidade (lucro da atividade sobre a receita líquida) subiu, sem incluir a Petrobras, de 18,6% no acumulado janeiro/setembro de 2003 para 22,7% no mesmo período deste ano. Já com a Petrobras, a rentabilidade manteve-se no mesmo patamar: 15% em 2003 e 14,7% em 2004.
Já se for levado em conta a rentabilidade anualizada sobre o patrimônio líquido, o estudo do Iedi mostra uma queda de 28% (2003) para 25,4% deste ano, com o total da amostra. Sem a Petrobras, o índice sobe de 20,8% para 23,2%.
Gomes de Almeida diz que esses resultados foram registrados mesmo sem ter havido uma apreciação cambial em 2004 como a de 2003. Neste ano não houve grande influência do "fator cambial" (valorização do Real que reduziu o custo nominal das dívidas em moeda estrangeira). "A origem do resultado deste ano foi mais genuíno por ter sido obtido da produção", diz o diretor do Iedi. "Não podemos desperdiçar esta oportunidade", completou.


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