São Paulo, terça-feira, 23 de novembro de 2004

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FINANÇAS

Defesa diz que vai recorrer

CVM pune ex-dirigente do Banco Mercantil de SP

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-presidente do Banco Mercantil de São Paulo Gastão Augusto Bueno Vidigal foi multado em R$ 200 mil, ontem, pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), por irregularidades contábeis na instituição entre 1996 e 99.
Cinco ex-executivos e oito ex-membros do Conselho de Administração receberam multas com valores de R$ 100 mil e de R$ 50 mil. O total de multas aplicadas somou R$ 1,1 milhão; 23 ex-diretores foram absolvidos. O banco foi comprado pelo Bradesco, em janeiro de 2002.
O advogado de defesa Nelson Eizirik disse, após o resultado do julgamento, que contestará o resultado no Conselho do Sistema Financeiro Nacional, conhecido como Conselhinho, que julga recursos contra sentenças aplicadas pelo Banco Central e pela CVM.
A G.E.Bê Vidigal -empresa-mãe que controlava o Banco Mercantil e outras empresas do grupo Finasa- foi inocentada por não ter havido prejuízos a terceiros.
O BC já havia punido o ex-dirigente do Mercantil pelo mesmo motivo, em fevereiro de 2002, inabilitando-o para dirigir instituição financeira por dez anos. Vidigal recorreu ao Conselhinho, que converteu a inabilitação em multa de R$ 100 mil, há três meses.
A comissão de inquérito da CVM concluiu que o banco criou um lucro artificial de R$ 420,6 milhões usando procedimentos contábeis proibidos à época.
Entre as operações descritas, está a compra de títulos da dívida externa brasileira pela agência do Mercantil em Grand Cayman, entre dezembro de 1996 e junho de 98. Os papéis foram comprados com deságio e revendidos pelo valor de face (sem deságio) a outra empresa do grupo, a Brasmetal International, que os revendeu em igual condição ao Mercantil. Esse negócio, segundo a CVM, aumentou o lucro do banco em R$ 121 milhões (valor da época).
A comissão de inquérito listou sete tipos de procedimentos contábeis, que, na avaliação dos técnicos, inflaram o lucro do banco naquele período, como trocas de ações entre empresas do grupo, que teriam produzido um resultado artificial de R$ 57 milhões.

Tápias
Os ex-gestores do Mercantil tiveram uma testemunha de peso a defendê-los: o ex-ministro do Desenvolvimento (governo FHC) e ex-vice-presidente do Bradesco Alcides Tápias. Em síntese, Tápias disse que o fundador do Mercantil, Gastão Eduardo Vidigal (morto em agosto de 2001 e pai do ex-presidente punido pela CVM) foi um gestor extremamente conservador e autoritário, tanto que o banco tinha uma das mais baixas rentabilidades entre as instituições financeiras nos anos 90.
Afirmou que o Bradesco comprou o Mercantil com ágio de R$ 550 milhões e que continua feliz com a aquisição. Disse ainda que os acionistas minoritários receberam o que pediam e que o governo não gastou "nenhum centavo" para socorrer o banco. "Passados quase três anos, não há lesados."


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