São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 2006

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Paraguai pressiona para renegociar Itaipu

Declaração de chanceler brasileiro, que considerou desnecessária a revisão de tratado, causou irritação ao governo vizinho

Tema pautará visita de Celso Amorim a Assunção; paraguaios reclamam do cálculo da dívida do país com a Eletrobrás

Sandro Pereyra/Efe
Representantes da OMC durante a cerimônia em comemoração pelos 20 anos da Rodada Uruguai, ontem em Montevidéu


FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois da Bolívia, agora é a vez de o Paraguai pressionar pela revisão de um acordo energético. Com forte respaldo da imprensa local, o governo do presidente Nicanor Duarte vem pedindo a mais abrangente revisão do Tratado de Itaipu desde a sua assinatura, em 1973. O Brasil tem dito que não está disposto a rever o acordo.
O principal ponto que o Paraguai quer renegociar se refere ao cálculo da dívida do país com a Eletrobrás, que financiou a construção da usina. De acordo com a imprensa paraguaia, o montante hoje é de US$ 19 bilhões, dos quais US$ 4,3 bilhões são de juros, cujo cálculo o governo Duarte quer revisar.
O tema tem ganhado cada vez mais espaço na imprensa do país e será o principal assunto que o Paraguai quer tratar durante a visita do chanceler Celso Amorim, que chegaria ontem à noite a Assunção.
"Com Amorim, vamos iniciar conversações para encontrar uma solução favorável a ambos os países com respeito à dívida de Itaipu", disse ontem o chanceler paraguaio, Rubén Ramírez, segundo a agência de notícias France Presse.
Ramirez afirmou que ainda não foi encontrado um mecanismo para a redução da dívida e disse que os dois países "estão fazendo trabalhos técnicos preliminares" e que "só falta a aprovação e a vontade nesse sentido do governo brasileiro".
Antes de chegar ao Paraguai, Amorim concedeu uma entrevista ao jornal "ABC Color", publicada ontem, na qual afirmou que o Brasil considera "desnecessária" a revisão do tratado, em vigor há 33 anos.
De acordo com ele, o governo brasileiro está disposto a negociar apenas "esquemas de pagamento de dívida e de pagamento de energia".
A entrevista de Amorim causou irritação no governo Duarte, segundo fontes diplomáticas paraguaias ouvidas pela Folha, segundo as quais havia a expectativa de uma posição mais flexível.
As declarações de Amorim, que foram a manchete do "ABC Color", também provocaram um duro editorial do jornal paraguaio mais importante do país. "Com uma dívida criada, manipulada e alentada pelos brasileiros de US$ 20 bilhões, não é difícil temer que, em poucos anos mais, o Brasil pretenda anexar o nosso país ou tê-lo como um Estado livre associado, como fazem os EUA com Porto Rico."
Apesar da pressão paraguaia, a renegociação do Tratado de Itaipu ficou de fora do comunicado conjunto que deve ser divulgado hoje, segundo rascunho obtido pela Folha. "[Os chanceleres] reafirmaram a importância vital da Itaipu Binacional para o desenvolvimento de ambos os países e, ao mesmo tempo, reiteraram seu compromisso de concluir o mais rápido possível as negociações em curso, com vistas a uma solução justa e adequada."
De acordo com a Itaipu, a usina produziu no ano passado 87,9 milhões de MWh, o suficiente para suprir 86% do consumo anual do Estado de São Paulo. Do lado paraguaio, é responsável pelo suprimento de 93% do consumo energético.


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