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AGRICULTURA
Programa do governo tem R$ 4,2 bilhões para financiar pequeno produtor; bancos dão preferência a grandes
Famílias recebem só 19% do crédito agrícola
DA REPORTAGEM LOCAL
O Pronaf (Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura
Familiar), uma das prioridades
do governo Lula, deve receber,
para a safra 2002/2003, R$ 4,2 bilhões para financiar pequenos
agricultores. Isso representa 19%
do total de crédito agrícola do país
para o período. O Pronaf é de
competência do Ministério do
Desenvolvimento Agrário.
Segundo João Guadagnin, do
Pronaf, os juros para quem toma
empréstimos do programa são
menores do que aqueles cobrados
para médios e grandes agricultores. Enquanto nas linhas de financiamento oficial para a agricultura comercial os juros são de 8,75%
ao ano, no Pronaf a taxa é de 4%.
Para Luciano de Carvalho, assessor do departamento econômico da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), entretanto, a solução não é tirar dinheiro
da agricultura comercial para dar
à familiar, o que comprometeria o
abastecimento e a exportação.
Desafio
Fernando Homem de Melo,
professor de economia rural da
USP, faz a mesma avaliação. Segundo ele, o principal desafio a
ser enfrentado pelo governo é
conciliar a necessidade de ampliação de crédito para a agricultura
familiar, via Pronaf, sem prejudicar a concessão de linhas de financiamento para os médios e grandes produtores.
Os últimos dados disponíveis
do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) mostram
que a agricultura familiar representa 85,2% dos estabelecimentos
rurais. Os mais de 4 milhões de estabelecimentos de agricultura familiar, no entanto, são responsáveis por apenas 37,9% do valor
bruto da produção.
Política bancária
O consultor agrícola Carlos Cogo, que tem entre seus clientes alguns bancos comerciais, afirma
que o interesse dos bancos no crédito rural tem crescido, porém
ainda há aqueles que preferem
deixar o dinheiro congelado no
BC por não terem tradição no
mercado agrícola.
Na avaliação do consultor Carlos Cogo, quando investem, os
bancos preferem conceder financiamentos a grandes produtores.
Nesta safra, o Banco do Brasil vai
investir R$ 13 bilhões, ante os R$
10,6 bilhões da safra passada.
Para Biramar Nunes, do departamento de agronegócios do Banco do Brasil, a concessão de financiamentos do banco tem crescido
cerca de 20% ao ano. Para a safra
2003/2004, o BB espera alocar entre R$ 18 bilhões e R$ 19 bilhões.
O Unibanco, que destinou no
ano passado R$ 798 milhões ao
crédito agrícola, prefere conceder
financiamento a empresas e cooperativas.
Segundo Ângelo Vasconcellos,
diretor de câmbio e agribusiness,
o banco concede menos crédito
para os produtores porque sua rede não é muito ramificada.
O rigor do banco na hora de
conceder o crédito, afirma, mantém o nível de inadimplência baixo. Com isso, diz, não compensa
deixar o dinheiro parado sem
rentabilidade.
Diversificação
O Bradesco, o maior banco privado do país, adota uma linha diferente. Décio Tenerello, vice-presidente-executivo, diz que a política de crédito rural do banco é
voltada para todos os tipos de
produtor.
No ano passado, a parcela dos
depósitos à vista que o banco destinou ao financiamento agrícola
foi de 30%, cinco pontos percentuais acima do exigido. Isso significa quase R$ 4 bilhões.
Para conceder um financiamento, o Bradesco exige que o produtor rural faça um cadastro no banco e comprove, com documentos,
que tenha uma área que possa ser
destinada ao cultivo. O banco
também faz uma análise do crédito do produtor e normalmente
exige a safra como garantia.
Os bancos Itaú e Banespa informaram que não havia ninguém
responsável pelo setor de agronegócio para comentar a política
dos bancos.
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