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São Paulo, segunda-feira, 24 de fevereiro de 2003

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AGRICULTURA

Programa do governo tem R$ 4,2 bilhões para financiar pequeno produtor; bancos dão preferência a grandes

Famílias recebem só 19% do crédito agrícola


DA REPORTAGEM LOCAL

O Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), uma das prioridades do governo Lula, deve receber, para a safra 2002/2003, R$ 4,2 bilhões para financiar pequenos agricultores. Isso representa 19% do total de crédito agrícola do país para o período. O Pronaf é de competência do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Segundo João Guadagnin, do Pronaf, os juros para quem toma empréstimos do programa são menores do que aqueles cobrados para médios e grandes agricultores. Enquanto nas linhas de financiamento oficial para a agricultura comercial os juros são de 8,75% ao ano, no Pronaf a taxa é de 4%.
Para Luciano de Carvalho, assessor do departamento econômico da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), entretanto, a solução não é tirar dinheiro da agricultura comercial para dar à familiar, o que comprometeria o abastecimento e a exportação.

Desafio
Fernando Homem de Melo, professor de economia rural da USP, faz a mesma avaliação. Segundo ele, o principal desafio a ser enfrentado pelo governo é conciliar a necessidade de ampliação de crédito para a agricultura familiar, via Pronaf, sem prejudicar a concessão de linhas de financiamento para os médios e grandes produtores.
Os últimos dados disponíveis do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a agricultura familiar representa 85,2% dos estabelecimentos rurais. Os mais de 4 milhões de estabelecimentos de agricultura familiar, no entanto, são responsáveis por apenas 37,9% do valor bruto da produção.

Política bancária
O consultor agrícola Carlos Cogo, que tem entre seus clientes alguns bancos comerciais, afirma que o interesse dos bancos no crédito rural tem crescido, porém ainda há aqueles que preferem deixar o dinheiro congelado no BC por não terem tradição no mercado agrícola.
Na avaliação do consultor Carlos Cogo, quando investem, os bancos preferem conceder financiamentos a grandes produtores. Nesta safra, o Banco do Brasil vai investir R$ 13 bilhões, ante os R$ 10,6 bilhões da safra passada.
Para Biramar Nunes, do departamento de agronegócios do Banco do Brasil, a concessão de financiamentos do banco tem crescido cerca de 20% ao ano. Para a safra 2003/2004, o BB espera alocar entre R$ 18 bilhões e R$ 19 bilhões.
O Unibanco, que destinou no ano passado R$ 798 milhões ao crédito agrícola, prefere conceder financiamento a empresas e cooperativas.
Segundo Ângelo Vasconcellos, diretor de câmbio e agribusiness, o banco concede menos crédito para os produtores porque sua rede não é muito ramificada.
O rigor do banco na hora de conceder o crédito, afirma, mantém o nível de inadimplência baixo. Com isso, diz, não compensa deixar o dinheiro parado sem rentabilidade.

Diversificação
O Bradesco, o maior banco privado do país, adota uma linha diferente. Décio Tenerello, vice-presidente-executivo, diz que a política de crédito rural do banco é voltada para todos os tipos de produtor.
No ano passado, a parcela dos depósitos à vista que o banco destinou ao financiamento agrícola foi de 30%, cinco pontos percentuais acima do exigido. Isso significa quase R$ 4 bilhões.
Para conceder um financiamento, o Bradesco exige que o produtor rural faça um cadastro no banco e comprove, com documentos, que tenha uma área que possa ser destinada ao cultivo. O banco também faz uma análise do crédito do produtor e normalmente exige a safra como garantia.
Os bancos Itaú e Banespa informaram que não havia ninguém responsável pelo setor de agronegócio para comentar a política dos bancos.

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