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Argentino vê moeda única como ímã
DENISE CHRISPIM MARIN
da Sucursal de Brasília
A insistência do governo argentino em antecipar a criação de
uma moeda única para o Mercosul
segue uma ambição simples de um
dos principais sócios do bloco: a
de que a unificação monetária
possa servir como um ímã para
atrair investimentos.
A idéia foi exposta à Folha pelo
secretário de Planejamento Estratégico da Argentina, Jorge Castro.
Na semana passada, ele fez uma
peregrinação pelos gabinetes das
principais autoridades brasileiras,
entre os quais o do presidente Fernando Henrique Cardoso e o do
ministro Pedro Malan (Fazenda).
A mesma vantagem, entretanto,
figura entre aquelas enumeradas
em um estudo elaborado em abril
do ano passado pelo economista
Fabio Giambiagi, gerente de macroeconomia da área de planejamento do Departamento Econômico do BNDES.
O texto "Uma Proposta de Unificação Monetária dos Países do
Mercosul" está em revisão pelo
autor. Mas foi sobre ele que Castro
e um grupo de economistas -entre eles Giambiagi- se debruçaram para debater a viabilidade de
uma moeda única no Mercosul na
semana passada, em Brasília.
No trabalho, Giambiagi propõe
que, dentro de 14 anos, a moeda
única passe a circular definitivamente entre os países do bloco.
O processo de unificação, de
acordo com o economista, poderia começar em 2002, quando haveria o anúncio do tratado. Dois
anos depois, seria adotado um
cronograma de harmonização
macroeconômica (como o Tratado de Maastricht adotado pela
União Européia) até 2008. Somente nesse ano os ministros da Fazenda dos quatro países definiriam quem entraria no sistema.
Em 2009, a moeda comum seria
introduzida, mas apenas como referência monetária para ser usada
em balanços. Dois anos depois começaria a circulação do papel-moeda do Mercosul, em substituição às moedas de cada país.
Estas seriam eliminadas em 2012.
Durante sua passagem pelo Brasil, Castro evitou comentar o cronograma. Em sua avaliação, o
anúncio formal do compromisso
do Mercosul de chegar à unificação monetária é suficiente para
que os investidores entendam de
uma vez por todas dois pontos: 1)
os países do bloco, especialmente
Brasil e Argentina, estão dispostos
a manter a estabilidade econômica
a qualquer custo; e 2) também estão dispostos a consolidar suas
instituições financeiras e aprofundar suas reformas internas.
O anúncio, claro, ocorreria sob a
presidência temporária argentina
do Mercosul, durante a Reunião
de Cúpula de junho.
Em seu estudo, Giambiagi vai
um pouco mais longe e afirma que
a proposta se insere no projeto
geopolítico da região. Fortaleceria
o bloco, que alcançaria o reconhecimento como "potência média
em nível mundial".
"A existência do Mercosul como
mera união aduaneira pode ser insuficiente para fazer valer o peso
econômico da região nos foros internacionais", afirma.
Para Giambiagi, a idéia não é fictícia nem longínqua, como entendem os negociadores brasileiros.
No estudo, ele reconhece entraves,
mas afirma que a estabilização na
região e o fato de o Mercosul se
tornar uma área de livre comércio
completa no ano 2000 favorecem a
tese da unificação monetária.
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