São Paulo, terça, 24 de fevereiro de 1998

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Argentino vê moeda única como ímã

DENISE CHRISPIM MARIN
da Sucursal de Brasília

A insistência do governo argentino em antecipar a criação de uma moeda única para o Mercosul segue uma ambição simples de um dos principais sócios do bloco: a de que a unificação monetária possa servir como um ímã para atrair investimentos.
A idéia foi exposta à Folha pelo secretário de Planejamento Estratégico da Argentina, Jorge Castro. Na semana passada, ele fez uma peregrinação pelos gabinetes das principais autoridades brasileiras, entre os quais o do presidente Fernando Henrique Cardoso e o do ministro Pedro Malan (Fazenda).
A mesma vantagem, entretanto, figura entre aquelas enumeradas em um estudo elaborado em abril do ano passado pelo economista Fabio Giambiagi, gerente de macroeconomia da área de planejamento do Departamento Econômico do BNDES.
O texto "Uma Proposta de Unificação Monetária dos Países do Mercosul" está em revisão pelo autor. Mas foi sobre ele que Castro e um grupo de economistas -entre eles Giambiagi- se debruçaram para debater a viabilidade de uma moeda única no Mercosul na semana passada, em Brasília.
No trabalho, Giambiagi propõe que, dentro de 14 anos, a moeda única passe a circular definitivamente entre os países do bloco.
O processo de unificação, de acordo com o economista, poderia começar em 2002, quando haveria o anúncio do tratado. Dois anos depois, seria adotado um cronograma de harmonização macroeconômica (como o Tratado de Maastricht adotado pela União Européia) até 2008. Somente nesse ano os ministros da Fazenda dos quatro países definiriam quem entraria no sistema.
Em 2009, a moeda comum seria introduzida, mas apenas como referência monetária para ser usada em balanços. Dois anos depois começaria a circulação do papel-moeda do Mercosul, em substituição às moedas de cada país. Estas seriam eliminadas em 2012.
Durante sua passagem pelo Brasil, Castro evitou comentar o cronograma. Em sua avaliação, o anúncio formal do compromisso do Mercosul de chegar à unificação monetária é suficiente para que os investidores entendam de uma vez por todas dois pontos: 1) os países do bloco, especialmente Brasil e Argentina, estão dispostos a manter a estabilidade econômica a qualquer custo; e 2) também estão dispostos a consolidar suas instituições financeiras e aprofundar suas reformas internas.
O anúncio, claro, ocorreria sob a presidência temporária argentina do Mercosul, durante a Reunião de Cúpula de junho.
Em seu estudo, Giambiagi vai um pouco mais longe e afirma que a proposta se insere no projeto geopolítico da região. Fortaleceria o bloco, que alcançaria o reconhecimento como "potência média em nível mundial".
"A existência do Mercosul como mera união aduaneira pode ser insuficiente para fazer valer o peso econômico da região nos foros internacionais", afirma.
Para Giambiagi, a idéia não é fictícia nem longínqua, como entendem os negociadores brasileiros. No estudo, ele reconhece entraves, mas afirma que a estabilização na região e o fato de o Mercosul se tornar uma área de livre comércio completa no ano 2000 favorecem a tese da unificação monetária.



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