São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2000


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MERCADO FINANCEIRO
Moeda norte-americana pode cair ainda mais, avalia mercado
Bancos vendem dólar, e real tem o maior valor em 9 meses

LEONARDO SOUZA
da Reportagem Local

O valor do dólar está sendo derrubado devido à expectativa dos bancos de que o real estará ainda mais forte no próximo mês. Ontem, a cotação da moeda norte-americana chegou a R$ 1,72, mesmo patamar de maio de 1999.
As instituições financeiras avaliam que vai aumentar a entrada de capitais no país em abril -maior a oferta de divisas estrangeiras, menor o seu preço.
Os bancos preferem agora fazer menos compras antecipadas de dólar -no mercado futuro. Acham que o dólar tende a se desvalorizar em relação ao real.
No jargão financeiro, isto significa que instituições financeiras estão se desfazendo de parte de suas posições "compradas" no mercado futuro de dólar.
Quando um banco confirma a compra de dólar para daqui a dois meses (no mercado futuro) e, no final desse período, a cotação da moeda dos EUA fica mais baixa do que o valor pago por ela antecipadamente, o prejuízo é certo.
Prova da venda da moeda dos EUA é a diminuição do número de contratos futuros de compra de dólar em poder das instituições financeiras.
De acordo com a BM&F (Bolsa Mercadorias & Futuros), no dia 18 de janeiro as instituições financeiras detinham 75,119 mil contratos de compra, o que equivalia a 63,83% desse tipo de documento no mercado.
Na quarta-feira, bancos, corretoras e distribuidoras de valores reduziram suas posições para 60,056 mil contratos de compra, o equivalente a 51,96%.
As demais posições estão nas mãos de investidores institucionais, como fundos de pensão, e de residentes no exterior.
Apesar das expectativas positivas para março, o saldo cambial até o dia 16 ficou negativo em US$ 419 milhões, de acordo com dados da Tendências Consultoria levantados junto ao BC (Banco Central).
Um dos fatores que explicam o fluxo negativo é a redução do custo do dinheiro no mercado doméstico. Como o preço dos empréstimos em reais caiu, muitas empresas podem ter preferido quitar suas dívidas em dólar para obter crédito no país e, assim, fugir do risco da oscilação cambial.
"O mercado espera que haja mais captações externas de recursos a partir do próximo mês, o que deve pressionar o dólar ainda mais para baixo", disse Ricardo Amorim, economista do BankBoston.
Segundo ele, a pergunta que os profissionais do mercado fazem agora é se o dólar cairá abaixo de R$ 1,70, o que não seria bom para impulsionar as exportações. "Muitos acham que o BC vai intervir no mercado e que por isso dólar não ficará abaixo desse nível", disse. "Mas acho que a autoridade monetária (o BC) talvez deixe o real se valorizar mais", diz Amorim.
Medida que contribuiu para derrubar mais o dólar foi o aumento na margem de alavancagem dos bancos, anunciada ontem (leia texto abaixo).
"Haverá maior oferta de recursos atrelados ao dólar no mercado, o que ajuda a tornar o real mais forte", disse Erivelto Rodrigues, sócio-diretor da consultoria Austin Asis.


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