São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2000


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GUERRA DA CERVEJA
Reunião da acionista da Kaiser foi com o Credit Suisse
Heineken tem encontro com o banco da Brahma

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

Enquanto funcionários da Brahma espalhavam anteontem que a Kaiser seria vendida para a cervejaria holandesa Heineken, diretores internacionais da Heineken mantinham um encontro, no Rio, com diretores do banco Credit Suisse, responsável por administrar parte do controle financeiro da Brahma no exterior.
O significado desse encontro é simples, segundo a Folha apurou. Interessa à Brahma que a Heineken de fato aumente sua participação acionária na Kaiser -hoje, os holandeses têm apenas 14%.
Mas o mais importante para a Brahma é que essa entrada da Heineken na Kaiser seja de forma amigável. Isso ajudaria a pôr fim à mais recente guerra das cervejas, iniciada no ano passado com o anúncio da criação da AmBev, reunindo Brahma, Antarctica e Skol.
O encontro entre o Credit Suisse e o vice-presidente da Heineken, Anthony Ruys, e o diretor de assuntos jurídicos da empresa, Lewis Willing, estava agendado desde o mês passado.

Correspondência
Uma correspondência interna da Heineken, datada de fevereiro, contém o seguinte item para a agenda do dia 22 de março: "Presentation by Credit Suisse on preliminary valuation Kaiser (based on limited info)". Em português: "Apresentação do Credit Suisse sobre avaliação preliminar da Kaiser (baseada em informações limitadas)".
A Folha telefonou ontem para um dos representantes do Credit Suisse na reunião, Luiz Muniz. Ele apenas confirmou o encontro, mas disse que não poderia dar informações sobre o seu conteúdo.
A Heineken, por meio de seu porta-voz na Holanda, confirma que seus diretores estão em visita ao Brasil, algo que ocorre todos os anos, já que a empresa tem uma participação acionária na Kaiser.

Aumento de capital
Sobre o possível aumento de capital da Heineken na Kaiser, a empresa holandesa nega que essa hipótese esteja em discussão.
O Credit Suisse é o banco que administra a parte financeira de um braço da Brahma no exterior, a Tinsel Investiments Inc., com sede em Nassau, nas Bahamas -um paraíso fiscal.
A Tinsel detém 35,95% do capital acionário da Brahma. Não são conhecidos seus sócios. Dois suíços aparecem como diretores: Josef Dörig e Marcel Zgraggen.
Segundo o presidente da Brahma, Marcel Telles, a Tinsel é "um fundo de investidores europeus" administrado pelo "Credit Suisse".

Acionistas
O Credit Suisse também é a instituição financeira que comprou o banco Garantia, do qual o empresário Jorge Paulo Lemann era um dos principais acionistas. Hoje, Lemann é dono de 21,30% da Brahma e tem o posto de "international advisor" (conselheiro internacional) no Credit Suisse mundial.
Na correspondência interna da Heineken a que a Folha teve acesso, na qual consta o encontro da empresa com o Credit Suisse, há também uma anotação manuscrita com duas palavras, sugerindo um outro encontro: "Lehman? Telles?". No caso, "Lehman" seria Jorge Paulo Lemann e "Telles" seria Marcel Telles, presidente da Brahma. A Folha não conseguiu confirmar se houve encontro entre eles e os holandeses.
O planejamento inicial da Heineken era que o seu presidente mundial, Kersten Vursteen, viesse agora ao Brasil. Mas isso foi desaconselhado pelo pessoal da empresa no Brasil e ele desistiu, mandando apenas o vice-presidente.
O trecho da correspondência a que a Folha teve acesso, que desaconselha Vursteen a vir ao Brasil, agora é explícito com relação à intenção dos holandeses de manter contatos com outras cervejarias que não a Kaiser. Eis o trecho:
"Apesar de eu achar que você possa querer aproveitar esta oportunidade para se encontrar com pessoas de outras cervejarias no Brasil, eu recomendo fortemente que você não inclua isso no programa neste momento, pois seria muito delicado".



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