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GUERRA DA CERVEJA
Reunião da acionista da Kaiser foi com o Credit Suisse
Heineken tem encontro com o banco da Brahma
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
Enquanto funcionários da
Brahma espalhavam anteontem
que a Kaiser seria vendida para a
cervejaria holandesa Heineken,
diretores internacionais da Heineken mantinham um encontro,
no Rio, com diretores do banco
Credit Suisse, responsável por administrar parte do controle financeiro da Brahma no exterior.
O significado desse encontro é
simples, segundo a Folha apurou.
Interessa à Brahma que a Heineken de fato aumente sua participação acionária na Kaiser -hoje,
os holandeses têm apenas 14%.
Mas o mais importante para a
Brahma é que essa entrada da
Heineken na Kaiser seja de forma
amigável. Isso ajudaria a pôr fim à
mais recente guerra das cervejas,
iniciada no ano passado com o
anúncio da criação da AmBev,
reunindo Brahma, Antarctica e
Skol.
O encontro entre o Credit Suisse
e o vice-presidente da Heineken,
Anthony Ruys, e o diretor de assuntos jurídicos da empresa, Lewis Willing, estava agendado desde o mês passado.
Correspondência
Uma correspondência interna
da Heineken, datada de fevereiro,
contém o seguinte item para a
agenda do dia 22 de março: "Presentation by Credit Suisse on preliminary valuation Kaiser (based
on limited info)". Em português:
"Apresentação do Credit Suisse
sobre avaliação preliminar da
Kaiser (baseada em informações
limitadas)".
A Folha telefonou ontem para
um dos representantes do Credit
Suisse na reunião, Luiz Muniz. Ele
apenas confirmou o encontro,
mas disse que não poderia dar informações sobre o seu conteúdo.
A Heineken, por meio de seu
porta-voz na Holanda, confirma
que seus diretores estão em visita
ao Brasil, algo que ocorre todos os
anos, já que a empresa tem uma
participação acionária na Kaiser.
Aumento de capital
Sobre o possível aumento de capital da Heineken na Kaiser, a empresa holandesa nega que essa hipótese esteja em discussão.
O Credit Suisse é o banco que
administra a parte financeira de
um braço da Brahma no exterior,
a Tinsel Investiments Inc., com
sede em Nassau, nas Bahamas
-um paraíso fiscal.
A Tinsel detém 35,95% do capital acionário da Brahma. Não são
conhecidos seus sócios. Dois suíços aparecem como diretores: Josef Dörig e Marcel Zgraggen.
Segundo o presidente da Brahma, Marcel Telles, a Tinsel é "um
fundo de investidores europeus"
administrado pelo "Credit Suisse".
Acionistas
O Credit Suisse também é a instituição financeira que comprou o
banco Garantia, do qual o empresário Jorge Paulo Lemann era um
dos principais acionistas. Hoje,
Lemann é dono de 21,30% da
Brahma e tem o posto de "international advisor" (conselheiro internacional) no Credit Suisse
mundial.
Na correspondência interna da
Heineken a que a Folha teve acesso, na qual consta o encontro da
empresa com o Credit Suisse, há
também uma anotação manuscrita com duas palavras, sugerindo um outro encontro: "Lehman?
Telles?". No caso, "Lehman" seria
Jorge Paulo Lemann e "Telles" seria Marcel Telles, presidente da
Brahma. A Folha não conseguiu
confirmar se houve encontro entre eles e os holandeses.
O planejamento inicial da Heineken era que o seu presidente
mundial, Kersten Vursteen, viesse agora ao Brasil. Mas isso foi desaconselhado pelo pessoal da empresa no Brasil e ele desistiu, mandando apenas o vice-presidente.
O trecho da correspondência a
que a Folha teve acesso, que desaconselha Vursteen a vir ao Brasil,
agora é explícito com relação à intenção dos holandeses de manter
contatos com outras cervejarias
que não a Kaiser. Eis o trecho:
"Apesar de eu achar que você
possa querer aproveitar esta
oportunidade para se encontrar
com pessoas de outras cervejarias
no Brasil, eu recomendo fortemente que você não inclua isso no
programa neste momento, pois
seria muito delicado".
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