JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em uma tentativa de reaver a confiança de parte dos investidores, abalada após o anúncio do acordo com a Interbrew, a AmBev anunciou ontem um programa de recompra de ações estimado em R$ 500 milhões. O objetivo não-declarado é "alavancar" os preços dos papéis preferenciais.
A empresa pretende recomprar nos próximos 60 dias (período inicial do programa) 1,408 bilhão de ações preferenciais, o que representaria 6,58% desses papéis em poder do mercado.
Entre o dia 2 (data prévia ao anúncio do negócio com a Interbrew) e o último dia 15, os papéis preferenciais chegaram a recuar 31,8% -de R$ 762 por lote de mil ações para R$ 520. A despeito da recuperação na última semana, os papéis ainda acumulam uma perda de 27,17%. Ontem, as preferenciais subiram até 2,4%, mas perderam fôlego. No final do dia, fecharam cotadas a R$ 555 -variação positiva de 0,18%.
Caminho inverso percorreram as ações ordinárias. Antes do acordo com a Interbrew, o lote era comercializado a R$ 869,99. Ontem, fecharam em R$ 940. Isso ocorreu porque os portadores de ações ordinárias têm direito ao "tag along", dispositivo que prevê que poderão receber por seus papéis até 80% do valor do ágio pago pela Interbrew para assumir o controle acionário da AmBev. O benefício não é obrigatório para os preferencialistas. Resultado: nos primeiros dias, muitos acionistas se desfizeram das preferenciais e buscaram o que restava de ordinárias no mercado.
"A AmBev tentará dar uma "puxada" para cima nos preços dos papéis. Houve uma certa pressão do mercado para que ela promovesse essa recompra", diz Basílio Ramalho, analista do Unibanco.
Por "pressão" entenda-se as queixas de preferencialistas, como a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), que detém 9,9% dos papéis preferenciais. A Previ viu o valor de mercado de seus papéis encolher R$ 400 milhões em dez dias.


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