|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
O tiro da Conceição
Em sua coluna de ontem,
Clóvis Rossi entendeu corretamente que os ataques da
economista Maria da Conceição Tavares a Marcos Lisboa,
assessor de Antonio Palocci Filho, no fundo disfarçavam a gana da professora contra o próprio cerne da política econômica.
O discurso da Fazenda, da
manutenção dos dois objetivos
únicos -obtenção de superávits fiscais cada vez maiores e
combate à inflação-, só tem
uma diferença em relação ao
governo Fernando Henrique
Cardoso. Como as consequências de decisões econômicas levam tempo para aparecer, no
início do jogo era a palavra de
um lado contra o outro, com a
discussão sendo arbitrada por
uma mídia incapaz de diferenciar o peso intelectual de um
Delfim Netto ou José Serra do de
um Mailson da Nóbrega ou
Gustavo Franco.
Agora já se tem a resposta para a polêmica: o desastre consumado que estagnou a economia
brasileira e quase a levou para o
fundo no ano passado. A chamada "herança FHC" que os líderes petistas vêm apregoando,
corretamente.
Por tudo isso, a maneira como
está sendo tratada a questão
cambial -permitindo a apreciação do real e a volta do fluxo
dos capitais de curto prazo-
pelo ministro Palocci e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles -alegando que
o nível do câmbio não interessa
ao governo-, equivale à sapiência do pensamento de Pedro Malan elevada ao quadrado. Malan tinha a característica
de não prever adequadamente o
futuro; Palocci e Meirelles, a incapacidade de ler o passado.
Indicadores sociais
Quanto ao tema dos indicadores sociais, a professora exorbitou nas críticas, especialmente
nos deploráveis ataques pessoais. Mas seus receios têm razão de ser. Critica-se muito a
vinculação orçamentária. Se
não houvesse, nos últimos anos
a maior parte dos recursos para
saúde e educação teria sido utilizada para ampliar a margem
de endividamento irresponsável
do governo. Mas o país tem que
dispor de indicadores e de foco
nas ações sociais.
Marcos Lisboa é um pesquisador sério. Pertence à geração dos
novos especialistas em políticas
sociais, que tem no funcionário
do Ipea Ricardo Paes de Barros
seu guru maior. Essa geração
aprendeu a trabalhar com indicadores de avaliação de programas sociais, ponto fundamental
para a definição de políticas sociais.
Há que estabelecer critérios de
aferição para definir qual a
mais eficaz. E também escolher
os grupos a serem trabalhados,
para evitar a sobreposição de
ajuda de diversos planos, assim
como a dispersão de recursos.
O estudo produzido pelo Ministério da Fazenda não explicitou, mas os trabalhos de Paes de
Barros e Lisboa concluem que
programas tipo Bolsa Escola são
muito mais eficazes na erradicação da miséria do que programas tipo Fome Zero.
A preocupação da professora
-além de poder desabafar contra a política econômica- é
que por trás dessa tentativa de
focalizar as ações sociais possa
se esconder a intenção de desmontar a rede de proteção social que o país armou nos últimos anos -parte relevante,
aliás, no governo FHC, não
mencionada explicitamente pela professora.
Tem razão nos seus receios?
Pelo histórico das políticas públicas, tem. Mas, sem indicador,
como trabalhar com eficiência?
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Imposto de renda: Prazo de entrega não será ampliado Próximo Texto: Distensão: Dólar cai para R$ 3, menor valor desde agosto de 2002 Índice
|