LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A empresa norte-americana Qualcomm disse ontem que venderá (ou poderá até fechar) a operadora de telefonia fixa brasileira Vésper. A empresa atende hoje a 500 mil assinantes em 17 Estados, incluindo São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia.
Pelas regras da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), caso a Qualcomm não consiga vender a Vésper, os assinantes de seus serviços simplesmente deixarão de ser atendidos. Isso porque a Vésper possui uma autorização do governo para operar, e não uma concessão -o que obrigaria o Estado a dar uma solução.
A decisão da Qualcomm veio a público com a divulgação do seu balanço trimestral de janeiro a março deste ano. O grupo desistiu da Vésper depois que a Anatel negou permissão para que a operadora atuasse em telefonia celular na faixa de 1.900 MHz. Recentemente, a Bell South, outra operadora dos EUA, também decidiu sair do país, repassando a credores sua participação na BCP.
"Ficamos desapontados com a decisão do órgão regulador brasileiro [Anatel" de negar plena mobilidade de serviços à Vésper", afirmou Irwin Jacobs, presidente da Qualcomm. Segundo ele, o grupo já iniciou o processo de desinvestimento na Vésper e tentará recuperar ao máximo o que já foi aplicado. Não há garantia, porém, de que consiga comprador.
A Vésper deu um prejuízo de US$ 160 milhões para a Qualcomm no trimestre encerrado em março. O grupo, no entanto, teve um excelente desempenho. Faturou US$ 1 bilhão, 50% acima do registrado no mesmo período do ano passado. Lucrou US$ 103 milhões, 135% acima dos ganhos entre janeiro e março de 2002.

CDMA versus GSM
Os ganhos da Qualcomm ocorreram principalmente com a venda de equipamentos de tecnologia CDMA para telefonia celular (o grupo detém a patente). Operadoras de vários países, como o Brasil, adquiriram sistemas atualizados dessa tecnologia.
O CDMA é concorrente da tecnologia européia GSM, que estreou no Brasil no ano passado. A Anatel definiu que as novas operadoras de telefonia celular (como Oi e TIM) só podem usar a frequência de 1.800 MHz, na qual somente o GSM tem condições de funcionar no Brasil.
A Vésper travou nos últimos meses uma queda-de-braço com a Anatel para tentar convencê-la a liberar a frequência de 1.900 MHz, o que permitiria o uso do CDMA. Chegou a ameaçar encerrar suas atividades. A Anatel resistiu às pressões e vetou definitivamente a frequência de 1.900 MHz.
A Vésper esperava usar o CDMA nas três autorizações que comprou para operar celulares. Nada impede que ela use o GSM. Em vez disso, a Qualcomm decidiu cumprir a palavra e vender ou mesmo fechar a Vésper, de que detém mais de 80% do capital.


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