|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RECEITA ORTODOXA
Copom decide manter a taxa Selic em 26,5% ao ano, mas tendência de alta foi ao menos abandonada
Para BC, ainda não é hora de reduzir juros
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central sinalizou ontem que ainda é cedo para que os
juros básicos da economia sejam
reduzidos, mas já diz que não voltará, pelo menos por enquanto, a
elevá-los. Em sua reunião mensal,
o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) decidiu manter a
taxa Selic em 26,5% ao ano.
Como já era esperado pelo mercado, o Copom decidiu abandonar o chamado "viés de alta", que
indica a tendência da taxa de juros. Formalmente, apenas o Copom pode, em reuniões realizadas a cada mês, alterar os juros.
Exceções são abertas quando o
próprio Copom adota o viés, que
permite que o presidente do BC
mexa na taxa sem a necessidade
de um novo encontro do comitê,
ou por meio da convocação de
uma reunião extraordinária.
No mês passado, o Copom adotou o viés de alta, diante do receio
de eventual alta do dólar ou da inflação. O instrumento não chegou
a ser utilizado, e os juros se mantiveram em 26,5% ao ano. Nos cinco meses anteriores, o BC já havia
elevado a taxa Selic em 8,5 pontos
percentuais -estava em 18% ao
ano no início de outubro.
Em nota divulgada no início da
tarde, o Copom informou que os
juros foram mantidos em seu nível mais elevado desde 1999 por
causa da "resistência a uma queda
mais acentuada dos índices de inflação". Ainda assim, reconhece-se que "melhoraram as perspectivas", o que justificou o abandono
do viés.
Desde a reunião anterior do Copom, em março, um clima de otimismo tomou conta dos mercados, levando ao recuo do dólar e
da taxa de risco-país (que mede a
confiança dos investidores estrangeiros nos títulos da dívida
externa do Brasil). Em tese, isso
colaboraria para o controle da inflação.
Para este ano, a meta do BC é fazer com que a alta dos preços, medida pelo IPCA (Índice de Preços
ao Consumidor Amplo) fique em,
no máximo, 8,5%. Somente entre
janeiro e março, porém, a inflação
ficou acumulada em 5,13%
-mais da metade da meta fixada
para o ano todo.
Com a decisão de ontem, entende-se que, para o BC, as perspectivas para a economia brasileira são
boas, como mostra o comportamento recente de alguns indicadores. Ainda assim, não há sinais
concretos de que a alta inflação do
início do ano vá perder força nos
próximos meses. Daí a cautela.
A taxa Selic fixada pelo BC serve
de referência para as operações de
crédito feitas pelos bancos. Portanto se a Selic sobe os juros cobrados nos empréstimos concedidos a empresas e pessoas físicas
também sobem. Em média, as
empresas pagam 50% ao ano para
obter empréstimos, enquanto as
pessoas físicas pagam cerca de
200% no cheque especial.
O raciocínio do BC é que, com o
crédito mais caro, as pessoas são
levadas a consumir menos. Num
cenário de desaquecimento econômico, fica difícil para as empresas reajustarem seus preços.
Outro efeito das altas taxas de
juros é sentido no câmbio. Com
juros elevados, os investidores são
estimulados a abandonar o dólar
para investir seu dinheiro em
aplicações de renda fixa, que se
tornam mais rentáveis. Com isso,
a tendência é que a cotação da
moeda norte-americana caia.
Para alguns analistas, é isso que
tem ocorrido nas últimas semanas: investidores estrangeiros
aplicam seu capital no Brasil em
busca da alta rentabilidade da
renda fixa. Graças a esse ingresso
forte de recursos (a maioria de
curto prazo), o dólar cai.
Texto Anterior: Visita: Caminho para a credibilidade é longo, diz Snow Próximo Texto: Taxa poderá cair no 2º semestre, diz indústria Índice
|