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São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Copom decide manter a taxa Selic em 26,5% ao ano, mas tendência de alta foi ao menos abandonada

Para BC, ainda não é hora de reduzir juros

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central sinalizou ontem que ainda é cedo para que os juros básicos da economia sejam reduzidos, mas já diz que não voltará, pelo menos por enquanto, a elevá-los. Em sua reunião mensal, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) decidiu manter a taxa Selic em 26,5% ao ano.
Como já era esperado pelo mercado, o Copom decidiu abandonar o chamado "viés de alta", que indica a tendência da taxa de juros. Formalmente, apenas o Copom pode, em reuniões realizadas a cada mês, alterar os juros. Exceções são abertas quando o próprio Copom adota o viés, que permite que o presidente do BC mexa na taxa sem a necessidade de um novo encontro do comitê, ou por meio da convocação de uma reunião extraordinária.
No mês passado, o Copom adotou o viés de alta, diante do receio de eventual alta do dólar ou da inflação. O instrumento não chegou a ser utilizado, e os juros se mantiveram em 26,5% ao ano. Nos cinco meses anteriores, o BC já havia elevado a taxa Selic em 8,5 pontos percentuais -estava em 18% ao ano no início de outubro.
Em nota divulgada no início da tarde, o Copom informou que os juros foram mantidos em seu nível mais elevado desde 1999 por causa da "resistência a uma queda mais acentuada dos índices de inflação". Ainda assim, reconhece-se que "melhoraram as perspectivas", o que justificou o abandono do viés.
Desde a reunião anterior do Copom, em março, um clima de otimismo tomou conta dos mercados, levando ao recuo do dólar e da taxa de risco-país (que mede a confiança dos investidores estrangeiros nos títulos da dívida externa do Brasil). Em tese, isso colaboraria para o controle da inflação.
Para este ano, a meta do BC é fazer com que a alta dos preços, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fique em, no máximo, 8,5%. Somente entre janeiro e março, porém, a inflação ficou acumulada em 5,13% -mais da metade da meta fixada para o ano todo.
Com a decisão de ontem, entende-se que, para o BC, as perspectivas para a economia brasileira são boas, como mostra o comportamento recente de alguns indicadores. Ainda assim, não há sinais concretos de que a alta inflação do início do ano vá perder força nos próximos meses. Daí a cautela.
A taxa Selic fixada pelo BC serve de referência para as operações de crédito feitas pelos bancos. Portanto se a Selic sobe os juros cobrados nos empréstimos concedidos a empresas e pessoas físicas também sobem. Em média, as empresas pagam 50% ao ano para obter empréstimos, enquanto as pessoas físicas pagam cerca de 200% no cheque especial.
O raciocínio do BC é que, com o crédito mais caro, as pessoas são levadas a consumir menos. Num cenário de desaquecimento econômico, fica difícil para as empresas reajustarem seus preços.
Outro efeito das altas taxas de juros é sentido no câmbio. Com juros elevados, os investidores são estimulados a abandonar o dólar para investir seu dinheiro em aplicações de renda fixa, que se tornam mais rentáveis. Com isso, a tendência é que a cotação da moeda norte-americana caia.
Para alguns analistas, é isso que tem ocorrido nas últimas semanas: investidores estrangeiros aplicam seu capital no Brasil em busca da alta rentabilidade da renda fixa. Graças a esse ingresso forte de recursos (a maioria de curto prazo), o dólar cai.


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