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LUÍS NASSIF
A retomada
do projeto nacional
Já está em discussão no centro mais recôndito do Planalto o embrião da montagem
de uma proposta de projeto nacional que tire o governo Lula
do imobilismo atual. O presidente já foi conquistado para a
proposta.
O projeto se sustenta em dois
pontos centrais. O primeiro, na
constatação de que não há retorno ao velho modelo de economia fechada. Posto que a globalização é inevitável, o caminho a seguir é definir a estratégia mais adequada para o país
-que passa pela melhoria da
competitividade interna, pela
criação de um ambiente econômico favorável e pela inserção
planejada da empresa brasileira na economia global. Em suma, substituir a integração financeira, que colocou o país na
atual sinuca de bico, pela integração comercial e produtiva.
A essa idéia se casa uma segunda, de integração latino-americana, de maneira a criar
maior sinergia e competitividade na região, para enfrentar a
competição global.
Essa segunda idéia foi esboçada já no governo passado, na
integração física do Mercosul
-um fórum constituído por
ministros do Planejamento de
diversos países da região, que
não teve a mesma visibilidade
das reuniões comerciais. Depois, ganhou dimensão política
quando a atual diretoria do
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) decidiu avançar no discurso de ampliar o papel do
banco, conferindo-lhe dimensão continental.
São curiosos os caminhos percorridos pelas idéias até virarem bandeira política.
A idéia da integração competitiva foi exposta em meados
dos anos 80 por um grupo de
economistas do BNDES, da Eletrobrás e da Petrobras, liderados por Júlio Mourão. O ponto
central é que o Brasil havia
atingido a maturidade industrial, a partir dos grandes superávits comerciais de 1985, conseqüência do programa de investimentos da era Geisel. O desafio, agora, consistia em uma
abertura gradativa e planejada
da economia, de maneira a induzir as empresas brasileiras a
buscar parcerias e tecnologia
internacionais e definir padrões
globais de competitividade.
Esse modelo acabou torpedeado pela esquerda acadêmica -que tinha como idéia-chave a moratória para enfrentar a
dívida- e pela direita financeira -que tinha como proposta única a recessão, para pagar
a dívida.
A idéia foi retomada no governo Collor e resultou no mais
consistente programa econômico dos anos 90, com redução
gradativa das tarifas de importação, ao mesmo tempo em que
se lançavam as bases para a
melhoria da competitividade
das empresas brasileiras -por
meio da criação do Programa
Nacional de Qualidade e Produtividade.
Esse movimento resistiu ao
governo Itamar e foi sufocado
pela apreciação do real, em julho de 1994. De lá para cá, o
projeto nacional foi substituído
por um pensamento raso, simplificador, do grupo de economistas que dominou o embate
ideológico a partir da mística
dos pacotes econômicos.
Agora, é a própria esquerda,
modernizada, que começa a se
articular em torno de pontos
concretos para a montagem de
um projeto nacional. Diferentemente da pesada politização
dos anos 80 e 90, as idéias defendidas agora são projeto de
país, não mais bandeira ideológica.
Que tem consistência, tem. Se
vai caminhar, só Deus sabe.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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