São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIAGEM A NY

Presidente afirma nos EUA que brasileiros devem deixar de ser "moles"

Lula diz que Brasil deve ser mais duro em negociação

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem em Nova York para uma platéia de investidores e empresários norte-americanos que o Brasil deve deixar de reclamar da agressividade dos EUA nas negociações comerciais.
"Em vez de reclamar de que os negociadores americanos são duros, nós é que temos que deixar de ser moles e passarmos a jogar no mesmo nível", disse Lula.
Ao declarar que o país deu "um salto de qualidade" na política externa sob seu governo, Lula afirmou que o Brasil "resolveu deixar de ser mais um país no mundo e se tornar um ator no mundo globalizado".
O presidente disse que, no passado, "agíamos como uma nação insignificante". Lula afirmou que essa nova atitude já rendeu resultados no avanço da integração na América do Sul, ao afirmar que toda a região, até o fim do ano, será "participante" do Mercosul.
O presidente afirmou que o país negociou a Alca de modo "realista, flexível e equilibrado" e reafirmou a defesa da redução dos subsídios agrícolas nos países ricos.
Lula e seus principais ministros fizeram ontem uma série de promessas a 450 investidores internacionais reunidos em Nova York. Entre elas, a criação de uma "sala de situação" especial para agilizar a constituição de novos negócios estrangeiros no país e a transformação de portos e aeroportos em zonas livres de impostos para a realização de investimentos.
Lula prometeu ainda incluir, até o final de 2006, todos os cerca de 44 milhões de miseráveis do país em programas de distribuição de renda, atrair US$ 20 bilhões ao ano em investimentos diretos nos próximos anos e aportes na área de infra-estrutura de US$ 100 bilhões nos próximos quatro anos.
A iniciativa do seminário foi aplaudida pelos investidores, mas muitos reforçaram dúvidas e restrições pendentes para deslanchar negócios no país.
Durante palestra no hotel Waldorf Astoria pela manhã, Lula e os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda), Guido Mantega (Planejamento) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) apresentaram números favoráveis da economia brasileira e pediram confiança no país.
"Não estamos em meio a uma pequena aventura ou reinventando a roda, mas apenas administrando melhor os recursos brasileiros, que são muito poucos", disse Lula, em português, com tradução simultânea.
"Estamos fazendo o sacrifício de pagar o preço de dar ao Brasil a oportunidade de um crescimento sustentável e contínuo, com uma política social mais ousada."
O economista do banco HSBC Paulo Vieira da Cunha disse que "o discurso do presidente foi um pouco mal dirigido" porque "o mercado esperava um discurso olhando para a frente". Ele avaliou que as palavras de Lula se centraram demais nas conquistas econômicas do governo.
Mesmo estando hospedado no hotel em que ocorreu o seminário, Lula atrasou sua aparição e o início do evento em 32 minutos.
Isso impediu que, ao final do painel da manhã, os investidores pudessem fazer perguntas a ele e a seus ministros, como previsto.

Sem perguntas
Obrigado a deixar a sala para o início de outro evento, Lula prometeu, então, que as perguntas poderiam ocorrer durante o almoço. Isso também acabou não acontecendo e causou frustração entre vários empresários.
A "sala de situação" para investidores anunciada por Lula será criada dentro do Palácio do Planalto e compreenderá "todas as repartições" envolvidas na criação de negócios.
"Quem quer investir hoje no Brasil acaba saindo do país com um pacote de problemas e acaba não investindo nada", disse.
"Queremos permitir que esses meninos aqui [apontando seus ministros] e os meninos aí [os investidores] façam seu trabalho."
Em seus comentários, Palocci apresentou uma série de dados macroeconômicos positivos e afirmou que a prioridade de sua pasta agora é aprovar "uma ampla agenda microeconômica".
"A grande pergunta dos investidores é se vamos progredir nas reformas econômicas, apesar dos custos políticos elevados. Vamos perseverar", afirmou.
Em seu discurso após o almoço com empresários e investidores, Lula reafirmou que o governo continuará no caminho da estabilidade fiscal e monetária e que as decisões políticas para implementar essa opção foram difíceis.
"Se dependesse do medo político, não teria feito a reforma da Previdência", declarou. "Porque me confrontei direto com a minha origem política, que é o movimento sindical", disse.


Texto Anterior: Luís Nassif: A retomada do projeto nacional
Próximo Texto: Presidente vê país em ciclo de crescimento
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.