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ARTIGO
O fim da bolha, o governo Bush e os porcos com asas
PAUL KRUGMAN
Parece que os autores de
"Dow 36.000" (lembram-se
desse livro?) talvez tenham aumentado seu título em um dígito.
Nossa esperança é que o dígito
adicional seja o três, e não um dos
zeros.
A alta dos mercados acabou
mesmo. Se ajustarmos o índice
Standard & Poor's 500 (indicador
muito melhor do que o excessivamente alardeado Dow Jones) pela
inflação do período, ele está agora
abaixo do nível de 1996, quando
Alan Greenspan fez seu discurso
sobre "exuberância irracional".
Assim, o que deveriam estar fazendo os líderes responsáveis pela
economia -Greenspan, George
W. Bush e aquele cara lá do Departamento do Tesouro de cujo nome
não me lembro?
Um bom primeiro passo seria
que parassem de tentar convencer
o mercado a subir por meio de elogios ao vigor dos fundamentos
econômicos. Para começar, isso já
soa a desespero. Além disso, as
avaliações das ações estão até altas
demais, dados os lucros das empresas. O mais importante é que
os fundamentos não são tão favoráveis quanto eles dizem.
As dúvidas quanto à governança
corporativa crescem, em vez de
desaparecer. Os governos estaduais e locais atravessam uma crise fiscal desesperada. Mesmo antes da súbita queda nos mercados,
os dados apontavam não para um
boom, mas para uma "recuperação sem empregos", na qual a economia cresceria lentamente demais para reduzir de maneira considerável o desemprego.
De fato, o relatório de apoio ao
recente depoimento de Greenspan
ao Congresso não projetava redução significativa para o desemprego este ano, e a redução prevista
para o ano que vem também não
era muito grande. Diante da queda
acentuada dos mercados, é preciso que consideremos a hipótese de
que até mesmo essas projeções
mornas são de um otimismo exagerado.
Dadas as perspectivas econômicas desagradáveis, será que
Greenspan não deveria pensar em
um novo corte nas taxas de juros?
É verdade que elas já estão muito
baixas. Mas, se aprendemos alguma coisa com a experiência do Japão, é que quando surge o risco de
uma armadilha deflacionária (cenário que ainda não se tornou
provável, mas deixou de ser tão
improvável quanto parecia há alguns meses) não faz sentido "economizar" munição na forma de
potenciais cortes de juros para o
futuro. O momento de enfrentar a
deflação é antes que ela conquiste
um espaço na psicologia nacional.
É verdade que o Fed preocupa-se com a possibilidade de que novo corte cause pânico nos mercados. Mas agora que o pânico dos
mercados surgiu espontaneamente, não há nada mais a perder.
E o restante do governo? A reforma corporativa é essencial; se não
for possível reassegurar os investidores de que estão sendo tratados
de maneira equânime, eles tirarão
seu dinheiro do mercado e irão
embora. Mas não podemos contar
que a reforma ofereça estímulo
imediato à economia. A confiança,
quando perdida, não pode ser restaurada em um momento. O que
mais poderia o governo fazer?
Ignoremos as questões políticas
e tentemos estudar a situação com
objetividade. De um lado, graças
em parte ao final da alta nas Bolsas, a perspectiva de longo prazo
para o Orçamento federal se agravou a um ponto que supera as expectativas até mesmo dos maiores
pessimistas (a exemplo do autor).
Em termos realistas, teremos de
encarar uma década de déficits,
que um dia virão a representar
problemas sérios para o seguro social e o Medicare.
Por outro lado, com a recuperação ainda cambaleando, não é hora de austeridade fiscal. Aliás, o
governo federal deveria estar injetando ainda mais dinheiro na economia do que vem fazendo.
A resposta óbvia a esse suposto
dilema é afrouxar as rédeas agora,
mas estar preparado para retomá-las assim que a economia se tiver
recuperado plenamente. Por
exemplo, o governo Bush poderia
agir com rapidez para auxiliar os
governos estaduais em crise, evitando cortes severos (e depressivos) em programas essenciais. Enquanto isso, para atenuar as preocupações quanto à posição fiscal
de longo prazo, os futuros cortes
de impostos podem ter sua execução adiada.
E depois que o governo tomar
essas medidas responsáveis, veremos milhares de porcos voando
pelos céus de Washington.
Basta que entendamos as coisas
da seguinte maneira. Os planos
econômicos do governo Bush não
mudaram significativamente desde o final de 1999, quando foram
introduzidos como maneira de
bloquear a tentativa de Steven
Forbes de conquistar a candidatura republicana. No momento em
que o projeto para um corte de impostos, que acabou se tornando
lei, foi divulgado, "Dow 36.000"
estava no topo das listas de livros
mais vendidos. O ambiente econômico mudou completamente
de lá para cá, mas os planos da administração continuam exatamente os mesmos.
Nossos problemas econômicos
são reais, mas de forma alguma
catastróficos. O que me assusta é a
absoluta inflexibilidade das pessoas que deveriam resolvê-los.
Paul Krugman, economista e professor na Universidade Princeton (EUA), é colunista do "The New York Times".
Tradução de Paulo Migliacci
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