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LUÍS NASSIF
O rábula do Planalto
Em Brasília há um profissional bastante requisitado, que é
o sujeito de formação jurídica
capaz de enfiar gatos em tubas.
No Congresso é dos profissionais mais valorizados. Prova
disso foi a lei que prorrogou os
incentivos da Zona Franca de
Manaus. Foi feito um acordo
entre a bancada paulista e a
dos políticos que viviam da Suframa. Na hora de formalizar o
acordo em um projeto de lei,
vírgulas habilidosas mudaram
o sentido do que foi combinado.
Nos últimos tempos, uma sucessão de casos parecidos tem
brotado de medidas provisórias que emanam do Planalto.
Recentemente, a revista "Veja"
revelou a tentativa de ressuscitar, pela décima vez, a validade dos títulos públicos emitidos
por Campos Salles no início do
século.
A última ofensiva dos advogados tem sido invocar medida
provisória que saiu da Casa Civil, teve dez dias de validade,
até ser cassada, depois que se
descobriu que na prática ressuscitaria o valor desses títulos.
Aqueles dez dias em que esse
monstrengo veio ao mundo
serviram de álibi para se tentar
derrubar toda a legislação e
criar um passivo fiscal da ordem de US$ 50 bilhões.
Houve a denúncia, com a informação de que Fernando
Henrique Cardoso havia revogado a MP assim que foi informado do seu conteúdo. Mas o
misterioso rábula do Planalto
não foi identificado.
Agora, tem-se o repeteco na
medida provisória que instituiu o regime automotivo para
o Nordeste. Nas reuniões interministeriais que decidiram pelos incentivos, ficou claro que a
MP serviria apenas para as indústrias automobilísticas que
apresentassem projetos para o
Nordeste.
Na MP que saiu da Casa Civil, permitiu-se a todas as empresas que meramente apresentassem projetos até 31 de
dezembro ter direito a 33% de
abatimento do IPI até o ano
2010.
Assim como na Suframa,
meia dúzia de espertalhões registrariam projetos variados e
depois negociariam os direitos
com empresas reais que quisessem se beneficiar dos incentivos.
Alertado, FHC tirou o gato
da tuba. A questão que não foi
respondida é: se o gato estava
na tuba, é porque alguém o colocou lá. Não será difícil apurar a identidade do rábula. A
reunião interministerial incumbiu alguém de redigir a
MP. Se não se identificar rapidamente quem foi o autor do
contrabando, a suspeita não
poupará ninguém.
Coisas da ideologia
Identificado como um neoliberal racional, avesso a intervenções do Estado e da política
na economia, o economista
Paulo Guedes não escapa da
irracionalidade quando entra
a política no meio. Membro do
PFL -partido do senador Antonio Carlos Magalhães-, em
seu último artigo na revista
"Exame" Guedes vai contra todos seus princípios liberais e
defende a concessão de incentivos fiscais à Ford, com base
em um argumento que não faz
justiça à lógica de um eminente filho de Chicago.
Seu argumento é que os incentivos corresponderão a
abatimentos de impostos que
não seriam pagos se a fábrica
não existisse. Portanto não haveria nenhuma perda fiscal.
A Ford se propõe a fabricar
250 mil automóveis por ano,
dos quais 200 mil destinados
ao mercado interno. A não ser
na hipótese inviável de que,
junto com a unidade, ela fabricaria 200 mil novos consumidores, esse lote de carros será
retirado da fatia da concorrência. Portanto serão substituídos 200 mil carros que pagam
100% de IPI por 200 mil carros
que pagam 70% de IPI.
IPI
Em um momento em que a
reforma tributária tem como
foco central desonerar os investimentos e as exportações,
não tem a menor lógica a tentativa da Receita Federal de
voltar a cobrar Imposto sobre
Produtos Industrializados sobre compra de máquinas e
equipamentos.
É um retrocesso sem tamanho, que colide frontalmente
contra o objetivo anunciado
do segundo governo FHC, de
estimular o desenvolvimento e
o emprego.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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