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OPINIÃO ECONÔMICA
Small is Beautifull
BENJAMIN STEINBRUCH
Quantos empregos adicionais, afinal, são necessários para dar trabalho a toda a
população brasileira economicamente ativa? Oito milhões? Dez
milhões? Quinze milhões?
A discussão em torno dessas
perguntas está na ordem do dia
na campanha eleitoral. O candidato José Serra diz que vai criar 8
milhões de empregos em quatro
anos de governo, se for eleito. Luiz
Inácio Lula da Silva não quer fixar um número, mas garante que
pode fazer muito mais nessa área
porque tem a palavra "trabalhadores" até no nome do partido.
É muito bom que o debate
avance para esse tema. Crescimento econômico e criação de
empregos devem ser obsessões para qualquer candidato à Presidência da República. Mas, francamente, é desnecessária essa discussão sobre o número de empregos. O Brasil precisa de milhões e
milhões de postos de trabalho, e
isso os brasileiros sabem melhor
do que qualquer economista, porque sentem o problema na carne
há anos.
A discussão que importa, sobre
como esses empregos serão criados, não está tendo prioridade.
Pensei nisso ao ler nas últimas semanas exemplos de iniciativas tomadas pelo mundo e que seriam
úteis para o Brasil neste momento.
Nem sempre precisamos de megainvestimentos para criar empregos. Muitas vezes pequenos
negócios são até mais úteis, por
ter efeito imediato.
O economista e filósofo inglês
E.F. Schumacher escreveu, em
1973, o livro "Small is Beautifull",
traduzido para o português com o
título "O Negócio é ser Pequeno".
Ele achava que os países, principalmente os pobres, deveriam caminhar para desenvolver projetos
voltados para as reais necessidades do ser humano, o que implicaria nem sempre adotar as tecnologias mais avançadas e ter como
objetivo básico o emprego de
grande quantidade de mão-de-obra, e não o aumento da produção por homem-hora.
No mês passado, a revista "BusinessWeek" lembrou que, se
Schumacher estivesse vivo, para
escrever a sequência de seu trabalho, certamente o chamaria de
"Small is Profitable" (o pequeno é
lucrativo). Cerca de dois terços da
população mundial tem hoje renda de US$ 1.500 ou menos. Nessas
condições, as maiores oportunidades de sucesso empresarial concentram-se em focar a produção
em itens de preços baixos, de tecnologia intermediária, simples de
usar e adequados às tradições das
populações dos variados países
em desenvolvimento.
Na era da informática e da alta
tecnologia, as pesquisas feitas em
grandes multinacionais, segundo
a revista americana, estão voltadas para desenvolver telefones
baratos, computadores simples e
uma parafernália de produtos demandados pelo Terceiro Mundo,
porque essas empresas descobriram a importância dos mercados
de baixa renda.
A reportagem da "BusinessWeek" conta histórias interessantes: uma grande empresa desenvolveu pequenos saquinhos de
xampu que custam de US$ 0,02 a
US$ 0,04 e com esse produto já fatura US$ 2,4 bilhões por ano na
Índia. Outra criou um rádio cuja
bateria é carregada por uma manivela e já vendeu 3 milhões de
unidades em mercados africanos
nos quais não há luz elétrica e a
população não tem renda para
trocar regularmente as baterias
convencionais.
No Brasil, também há pelo menos um caso exemplar. A Facit
descobriu que nesses mesmos
mercados africanos há uma forte
demanda de máquinas de escrever mecânicas, porque falta energia elétrica e a baixa renda da população não permite a compra de
computadores. Segundo reportagem do jornal "Valor", a empresa
brasileira, dona de uma prestigiosa marca no passado, está superando velhos problemas financeiros por conta das exportações dessas máquinas, que começaram
em 1999, com receitas de US$ 50
mil, e neste ano devem atingir
US$ 2 milhões.
Casos como esses mostram que
a "tecnologia intermediária" de
que falava Schumacher, que custa
muito menos do que as de grande
escala, pode ser colocada a serviço
da produção, da exportação e da
criação de empregos. Por isso, o
debate genérico sobre números de
emprego me parece secundário
demais para o momento atual da
crise brasileira. Muito mais útil é
partir para a discussão de soluções práticas que possam abrir
postos de trabalho sem exigir,
principalmente do setor público,
megainvestimentos em um país
carente de recursos financeiros.
Benjamin Steinbruch, 49, empresário, é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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