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LUÍS NASSIF
Factóides da economia
Do ex-ministro Mailson da Nóbrega, em artigo publicado domingo em "O Estado
de S. Paulo", reconhecendo relação causal entre redução do déficit externo e mudança da política cambial: "No atual governo, o maior (déficit externo) foi
o de 1998 (4,2% do PIB). No Brasil, déficits dessa magnitude
somente são manejáveis em períodos de normalidade nos fluxos de recursos externos. Em crises como as da Ásia (1997), Rússia (1998), de nós mesmos
(1999), da Argentina (2001) e dos mercados globais de capitais
(2002), impõe-se ajustar o déficit à nova realidade. É o que o
Brasil fez com a adoção do regime de câmbio flutuante e muito
sacrifício. O déficit caiu mais de 50%. De US$ 33,5 bilhões, em
1998, deve chegar a US$ 15 bilhões em 2002".
De Mailson da Nóbrega, no segundo semestre de 1998, quando
já tinha ocorrido a crise da Ásia,
da Rússia e a do Brasil já estava
em curso, não reconhecendo nenhuma relação causal entre déficit externo e câmbio fixo: "Ao
longo da atual crise, a opinião
pública tem sido bombardeada
por duas correntes de opinião.
(...) A primeira corrente (...) se
trata de uma coalizão em que
habitam a esquerda atrasada, a
direita populista, empresários
saudosos do passado, políticos
de todos os quadrantes e colunistas que perfilam algumas de
suas idéias, especialmente a de
que a origem dos nossos problemas estaria na política cambial.
(...) Tem colunista prognosticando a volta de megassuperávits comerciais, igualzinho às
épocas passadas. (...) Felizmente, há também a crítica séria,
(...) (para quem) o remédio correto proposto é o ajuste fiscal
forte e duradouro, e não medidas artificiais para eliminar os
desequilíbrios do balanço de pagamentos".
De Mailson da Nóbrega, no
mesmo artigo de domingo passado -no qual admitiu que foi
a flexibilização do câmbio que
reduziu a vulnerabilidade externa-, agora dizendo que não
há relação causal entre vulnerabilidade externa e política cambial e desancando "analistas da
mídia" que dizem o contrário
(já nem sei mais qual é o contrário do contrário do que Mailson
diz): "Diz-se que a vulnerabilidade externa seria mera consequência da política cambial do
primeiro governo de FHC (os juros altos e os problemas fiscais
também). (...) A política cambial não é a causa da rigidez orçamentária que inibe a realização de uma ampla reforma tributária e, portanto, a plena desoneração tributária nas exportações. Nem dos excessivos encargos sobre os salários, do anacronismo da legislação trabalhista, da baixa escolaridade da
força de trabalho, do crônico favorecimento dos não-pobres nos
gastos públicos em educação ou
de outras mazelas".
De Mailson, em artigo em "O
Estado de S. Paulo" de 2 de julho, sobre os efeitos dos juros na
dívida pública: "Informações recentes do Tesouro desmistificam
o (...) factóide. A dívida pública
mobiliária federal passou de R$
61 bilhões em 30/6/1994 para R$
624 bilhões em 31/12/ 2001 (...).
Acontece que R$ 298 bilhões são
explicados pela federalização
das dívidas dos Estados e municípios, e R$ 128 bilhões, pelos
"esqueletos", que incluem R$ 40
bilhões de reestruturação de
bancos federais".
Da coluna de 14 de junho, sobre o trabalho do STN mencionado por Mailson, confirmando
que deixou de considerar os juros que incidiram sobre os esqueletos antes e depois da sua
federalização: "No Tesouro, o
coordenador-geral das Operações Financeiras e Leilões, Paulo
Valle, admite que "a gente mesmo reconhece essa crítica", a de
que não se considerou o impacto dos juros sobre os esqueletos".
De Gustavo Franco, em artigo
em "O Estado de S. Paulo" de 15
de setembro, dois meses depois
de a STN ter admitido que não
computou os juros que incidiram sobre os esqueletos: "A Secretaria do Tesouro Nacional
divulgou, há algumas semanas,
alguns números de importância
transcendental para os debates
sobre os rumos econômicos da
nação (...). Os números do Tesouro (...) servem para uma
análise fria com o propósito de
desmascarar essas teorias (de
que a política de juros foi a responsável pela explosão da dívida pública)".
E-mail - lnassif@uol.com.br
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