São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 2002

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LUÍS NASSIF

Factóides da economia

Do ex-ministro Mailson da Nóbrega, em artigo publicado domingo em "O Estado de S. Paulo", reconhecendo relação causal entre redução do déficit externo e mudança da política cambial: "No atual governo, o maior (déficit externo) foi o de 1998 (4,2% do PIB). No Brasil, déficits dessa magnitude somente são manejáveis em períodos de normalidade nos fluxos de recursos externos. Em crises como as da Ásia (1997), Rússia (1998), de nós mesmos (1999), da Argentina (2001) e dos mercados globais de capitais (2002), impõe-se ajustar o déficit à nova realidade. É o que o Brasil fez com a adoção do regime de câmbio flutuante e muito sacrifício. O déficit caiu mais de 50%. De US$ 33,5 bilhões, em 1998, deve chegar a US$ 15 bilhões em 2002".
De Mailson da Nóbrega, no segundo semestre de 1998, quando já tinha ocorrido a crise da Ásia, da Rússia e a do Brasil já estava em curso, não reconhecendo nenhuma relação causal entre déficit externo e câmbio fixo: "Ao longo da atual crise, a opinião pública tem sido bombardeada por duas correntes de opinião. (...) A primeira corrente (...) se trata de uma coalizão em que habitam a esquerda atrasada, a direita populista, empresários saudosos do passado, políticos de todos os quadrantes e colunistas que perfilam algumas de suas idéias, especialmente a de que a origem dos nossos problemas estaria na política cambial. (...) Tem colunista prognosticando a volta de megassuperávits comerciais, igualzinho às épocas passadas. (...) Felizmente, há também a crítica séria, (...) (para quem) o remédio correto proposto é o ajuste fiscal forte e duradouro, e não medidas artificiais para eliminar os desequilíbrios do balanço de pagamentos".
De Mailson da Nóbrega, no mesmo artigo de domingo passado -no qual admitiu que foi a flexibilização do câmbio que reduziu a vulnerabilidade externa-, agora dizendo que não há relação causal entre vulnerabilidade externa e política cambial e desancando "analistas da mídia" que dizem o contrário (já nem sei mais qual é o contrário do contrário do que Mailson diz): "Diz-se que a vulnerabilidade externa seria mera consequência da política cambial do primeiro governo de FHC (os juros altos e os problemas fiscais também). (...) A política cambial não é a causa da rigidez orçamentária que inibe a realização de uma ampla reforma tributária e, portanto, a plena desoneração tributária nas exportações. Nem dos excessivos encargos sobre os salários, do anacronismo da legislação trabalhista, da baixa escolaridade da força de trabalho, do crônico favorecimento dos não-pobres nos gastos públicos em educação ou de outras mazelas".
De Mailson, em artigo em "O Estado de S. Paulo" de 2 de julho, sobre os efeitos dos juros na dívida pública: "Informações recentes do Tesouro desmistificam o (...) factóide. A dívida pública mobiliária federal passou de R$ 61 bilhões em 30/6/1994 para R$ 624 bilhões em 31/12/ 2001 (...). Acontece que R$ 298 bilhões são explicados pela federalização das dívidas dos Estados e municípios, e R$ 128 bilhões, pelos "esqueletos", que incluem R$ 40 bilhões de reestruturação de bancos federais".
Da coluna de 14 de junho, sobre o trabalho do STN mencionado por Mailson, confirmando que deixou de considerar os juros que incidiram sobre os esqueletos antes e depois da sua federalização: "No Tesouro, o coordenador-geral das Operações Financeiras e Leilões, Paulo Valle, admite que "a gente mesmo reconhece essa crítica", a de que não se considerou o impacto dos juros sobre os esqueletos".
De Gustavo Franco, em artigo em "O Estado de S. Paulo" de 15 de setembro, dois meses depois de a STN ter admitido que não computou os juros que incidiram sobre os esqueletos: "A Secretaria do Tesouro Nacional divulgou, há algumas semanas, alguns números de importância transcendental para os debates sobre os rumos econômicos da nação (...). Os números do Tesouro (...) servem para uma análise fria com o propósito de desmascarar essas teorias (de que a política de juros foi a responsável pela explosão da dívida pública)".

E-mail - lnassif@uol.com.br


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