São Paulo, quarta-feira, 24 de outubro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARROS

Carlos Ghosn, presidente da Nissan, impulsiona desempenho da montadora e se torna exemplo de liderança no país

Brasileiro vira "herói" entre empresários japoneses

JAMES BROOKE
DO "THE NEW YORK TIMES"

Com as atenções concentradas na indústria automobilística japonesa, com a abertura hoje do Salão do Automóvel de Tóquio, o homem sob os holofotes será o presidente da Nissan Motor Company, Carlos Ghosn, o executivo estrangeiro que os japoneses adoram amar.
Dois anos atrás, no último salão do automóvel, os que compareceram ouviram Ghosn -nascido no Brasil, educado na França e com experiência de trabalho nos Estados Unidos- declarar que salvaria a Nissan, a terceira maior montadora de automóveis do Japão, da falência. Na semana passada, ele anunciou alguns resultados preliminares: os lucros operacionais do semestre subiram 39%, para o recorde de US$ 11,5 bilhões, e a dívida da empresa caiu US$ 1,25 bilhão.
"Fizemos enorme progresso", declarou Ghosn na noite de segunda-feira em discurso a executivos da indústria automobilística de todo o mundo. Relembrando o ceticismo inicial quanto aos seus planos de recuperação, ele disse que "muita gente acreditava, então, que eu fosse ambicioso demais, e estou certo de que alguns pensavam -talvez até esperassem- que nos daríamos mal".
Em lugar disso, Ghosn se transformou em um herói empresarial, deixando marcas tão profundas no relacionamento dos japoneses com executivos estrangeiros quanto as que deixou na Nissan.
"Ele se tornou um herói nacional", disse Nobuo Tanaka, vice-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica, Industrial e Comercial do governo japonês. "Ele representa o investimento estrangeiro no Japão e a mudança na cultura corporativa. É exatamente aquilo o que precisamos para mudar a cultura das empresas aqui".
A economia do Japão, a segunda maior do mundo, está enfrentando problemas há uma década, e o consenso entre os economistas é de que ela vai encolher 1% neste ano. Com muitas empresas no país congeladas devido a impasses internos, cada vez mais os japoneses acreditam que é preciso estrangeiros para agitar as coisas.
Por décadas, o país foi encarado como pouco receptivo e muito desconfiado de controle e de executivos estrangeiros dirigindo empresas japonesas. Mas hoje, mais e mais japoneses parecem dispostos a trabalhar para patrões vindos de outros países.
Em pesquisa feita no terceiro trimestre pela Associação Japonesa de Gestão Empresarial, uma organização privada, 80% dos diretores de empresas japoneses se disseram receptivos à idéia de ter um estrangeiro no comando.
Ghosn, 47, veio ao Japão em 1999 quando a montadora de automóveis francesa Renault SA adquiriu uma participação acionária de 36,8% na Nissan e assumiu o controle executivo do grupo. Engenheiro de origens libanesas e incapaz de falar japonês, Ghosn decretou imediatamente que todas as reuniões de alto nível na empresa seriam em inglês.
Os custos foram reduzidos com um corte de cerca de 30% no número de fornecedores de componentes. Cinco das fábricas da Nissan foram fechadas e cerca de 14% de seus funcionários -20 mil trabalhadores- foram demitidos. Contra as expectativas, a Nissan, sob o comando de Ghosn, fez tudo isso sem greves, protestos ou boicotes.

Lucro sobe
Agora, suas fábricas estão operando com cerca de 75% da capacidade instalada, contra 50% anteriormente, e a empresa gasta cerca de 25% a menos do que no passado com projetos e nas alterações de design e engenharia de cada veículo novo. Sua margem de lucro operacional subiu para 6,2% no semestre passado, e 18 de seus modelos dão lucro hoje contra apenas quatro que eram lucrativos em 1999.
O estilo administrativo de Ghosn parece estar conquistando adesões também nos Estados Unidos. No começo do mês, os trabalhadores da Nissan em Smyrna, Texas, votaram contra a sindicalização, rejeitando o esforço do United Auto Workers, o sindicato dos trabalhadores da indústria automobilística dos EUA.
Ainda que a Nissan esteja se preparando para lançar oito modelos novos ou reformulados no salão, nem tudo são rosas para o grupo, que está atrás da Toyota e da Honda em vendas. As vendas se sustentaram no Japão mas caíram na Europa, e nos EUA durante o primeiro semestre do ano fiscal japonês, encerrado em 30 de setembro. As vendas de carros e caminhões caíram em 3,8% em relação ao mesmo período em 2000.
Ghosn diz que ao ganhar mais dinheiro vendendo menos carros, a Nissan estará pronta para o segundo estágio do que os jornais japoneses chamam de "recuperação em V".
A despeito de uma queda de 5,7% em suas vendas americanas no primeiro semestre fiscal, os dirigentes da Nissan dizem acreditar que os novos modelos vão estimular as vendas.


Tradução de Paulo Migliacci



Texto Anterior: Mercosul: Brasil e Argentina não chegam a acordo sobre redução de tarifas
Próximo Texto: Mercado financeiro: Indefinição argentina cansa investidores
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.