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CARROS
Carlos Ghosn, presidente da Nissan, impulsiona desempenho da montadora e se torna exemplo de liderança no país
Brasileiro vira "herói" entre empresários japoneses
JAMES BROOKE
DO "THE NEW YORK TIMES"
Com as atenções concentradas
na indústria automobilística japonesa, com a abertura hoje do Salão do Automóvel de Tóquio, o
homem sob os holofotes será o
presidente da Nissan Motor
Company, Carlos Ghosn, o executivo estrangeiro que os japoneses
adoram amar.
Dois anos atrás, no último salão
do automóvel, os que compareceram ouviram Ghosn -nascido
no Brasil, educado na França e
com experiência de trabalho nos
Estados Unidos- declarar que
salvaria a Nissan, a terceira maior
montadora de automóveis do Japão, da falência. Na semana passada, ele anunciou alguns resultados preliminares: os lucros operacionais do semestre subiram 39%,
para o recorde de US$ 11,5 bilhões, e a dívida da empresa caiu
US$ 1,25 bilhão.
"Fizemos enorme progresso",
declarou Ghosn na noite de segunda-feira em discurso a executivos da indústria automobilística
de todo o mundo. Relembrando o
ceticismo inicial quanto aos seus
planos de recuperação, ele disse
que "muita gente acreditava, então, que eu fosse ambicioso demais, e estou certo de que alguns
pensavam -talvez até esperassem- que nos daríamos mal".
Em lugar disso, Ghosn se transformou em um herói empresarial,
deixando marcas tão profundas
no relacionamento dos japoneses
com executivos estrangeiros
quanto as que deixou na Nissan.
"Ele se tornou um herói nacional", disse Nobuo Tanaka, vice-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica, Industrial e Comercial do governo japonês. "Ele
representa o investimento estrangeiro no Japão e a mudança na
cultura corporativa. É exatamente
aquilo o que precisamos para mudar a cultura das empresas aqui".
A economia do Japão, a segunda maior do mundo, está enfrentando problemas há uma década,
e o consenso entre os economistas
é de que ela vai encolher 1% neste
ano. Com muitas empresas no
país congeladas devido a impasses internos, cada vez mais os japoneses acreditam que é preciso
estrangeiros para agitar as coisas.
Por décadas, o país foi encarado
como pouco receptivo e muito
desconfiado de controle e de executivos estrangeiros dirigindo
empresas japonesas. Mas hoje,
mais e mais japoneses parecem
dispostos a trabalhar para patrões
vindos de outros países.
Em pesquisa feita no terceiro
trimestre pela Associação Japonesa de Gestão Empresarial, uma
organização privada, 80% dos diretores de empresas japoneses se
disseram receptivos à idéia de ter
um estrangeiro no comando.
Ghosn, 47, veio ao Japão em
1999 quando a montadora de automóveis francesa Renault SA adquiriu uma participação acionária de 36,8% na Nissan e assumiu
o controle executivo do grupo.
Engenheiro de origens libanesas e
incapaz de falar japonês, Ghosn
decretou imediatamente que todas as reuniões de alto nível na
empresa seriam em inglês.
Os custos foram reduzidos com
um corte de cerca de 30% no número de fornecedores de componentes. Cinco das fábricas da Nissan foram fechadas e cerca de 14%
de seus funcionários -20 mil trabalhadores- foram demitidos.
Contra as expectativas, a Nissan,
sob o comando de Ghosn, fez tudo isso sem greves, protestos ou
boicotes.
Lucro sobe
Agora, suas fábricas estão operando com cerca de 75% da capacidade instalada, contra 50% anteriormente, e a empresa gasta
cerca de 25% a menos do que no
passado com projetos e nas alterações de design e engenharia de
cada veículo novo. Sua margem
de lucro operacional subiu para
6,2% no semestre passado, e 18 de
seus modelos dão lucro hoje contra apenas quatro que eram lucrativos em 1999.
O estilo administrativo de
Ghosn parece estar conquistando
adesões também nos Estados
Unidos. No começo do mês, os
trabalhadores da Nissan em
Smyrna, Texas, votaram contra a
sindicalização, rejeitando o esforço do United Auto Workers, o
sindicato dos trabalhadores da
indústria automobilística dos
EUA.
Ainda que a Nissan esteja se
preparando para lançar oito modelos novos ou reformulados no
salão, nem tudo são rosas para o
grupo, que está atrás da Toyota e
da Honda em vendas. As vendas
se sustentaram no Japão mas caíram na Europa, e nos EUA durante o primeiro semestre do ano
fiscal japonês, encerrado em 30
de setembro. As vendas de carros
e caminhões caíram em 3,8% em
relação ao mesmo período em
2000.
Ghosn diz que ao ganhar mais
dinheiro vendendo menos carros, a Nissan estará pronta para o
segundo estágio do que os jornais
japoneses chamam de "recuperação em V".
A despeito de uma queda de
5,7% em suas vendas americanas
no primeiro semestre fiscal, os dirigentes da Nissan dizem acreditar que os novos modelos vão estimular as vendas.
Tradução de Paulo Migliacci
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