São Paulo, quarta-feira, 24 de outubro de 2007

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Juro dos bancos deve parar de cair, diz BC

Taxa média cobrada do consumidor recuou em setembro, mas no início deste mês voltou a subir, aponta levantamento

Para especialista, quedas dependerão da redução do "spread", diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa que cobram

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os juros dos financiamentos bancários atingiram o nível mais baixo em sete anos no mês passado, mas a decisão do Banco Central em interromper o processo de queda da taxa Selic pode reverter essa tendência, dificultando o acesso de empresas e pessoas físicas a empréstimos mais baratos.
Levantamento feito pelo BC mostra que, entre agosto e setembro, os juros médios cobrados pelos bancos caíram de 35,7% ao ano para 35,5%, o menor valor já registrado desde que a pesquisa começou a ser feita, em junho de 2000. Foi o oitavo mês consecutivo de queda nessa taxa.
Mas a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) da semana passada deve alterar esse quadro. Na ocasião, os diretores do BC decidiram "fazer uma pausa" nos cortes da Selic que vinham sendo feitos desde 2005.
A taxa Selic serve de parâmetro para o custo que os bancos têm para captar dinheiro no mercado -para, posteriormente, emprestá-lo a seus clientes. Por isso, a manutenção da taxa tende a favorecer a estabilidade dos juros bancários. "Movimentos de queda na taxa [cobrada pelos bancos] como se vinha observando não devem se repetir", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Nos primeiros nove meses de 2007, o custo médio de um empréstimo caiu 4,3 pontos percentuais.
Neste começo de mês, dados preliminares do BC já apontam uma ligeira alta nos juros bancários. Nas operações fechadas entre os dias 1º e 10, a taxa média ficou em 35,7% ao ano, 0,2 ponto percentual acima do valor apurado em setembro. A alta maior foi nos empréstimos a empresas, cuja taxa subiu de 23,2% ao ano para 23,5%. Para pessoas físicas, passou 46,3% ao ano para 46,4%.
Para Ana Paula Higa, economista-sênior da Febraban, "os juros devem passar por uma acomodação" devido à interrupção da seqüência de quedas da Selic, e o barateamento do crédito a partir de agora vai depender da redução do chamado "spread" bancário.
"Spread" é o nome dado à diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa cobrada nos empréstimos. "Essa é uma questão que depende de vários fatores, como o nível de inadimplência, que é um dos que mais pesam sobre o "spread'", afirma Higa. No mês passado, segundo o BC, 7,1% dos empréstimos bancários estavam com parcelas atrasadas por pelo menos 90 dias -a proporção estava em 7,5% em janeiro.
Se a inadimplência é alta, os bancos podem ser levados a cobrar juros mais altos em seus empréstimos, para compensar perdas em eventuais calotes. A argumentação apresentada pelas instituições financeiras é alvo de críticas por parte de alguns analistas. "Cada hora os bancos alegam uma coisa diferente, mas a inadimplência está caindo, e a renda está crescendo. Só que como o crédito está em expansão e eles estão ganhando muito dinheiro, parece que estão acomodados com a situação", diz Emerson Kapaz, consultor do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo.
Já Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças), diz que os juros bancários devem mesmo ficar estáveis no curto prazo, mas cita a compra do ABN Amro pelo Santander como evento que pode elevar a competição no setor, o que, no futuro, pode se traduzir em juros mais baixos. "A tendência é que se tenha uma concorrência maior. O Santander vai querer crescer no mercado de crédito, e os outros vão ter que se mexer para manter suas posições", afirma.


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