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VINICIUS TORRES FREIRE
Mundos e fundos no pacote luliano
Plano Lula 2 começa a tomar rosto, mas falta explicar
mudanças de regras e a conta da redução dos impostos
A "NOVA POLÍTICA econômica"
do presidente Lula parece ter
agora um "retrato falado", um
esboço em que se pode notar o formato de nariz, olhos e boca. Mas, por
enquanto, o retrato ainda aparece
com a língua de fora. A língua de fora
deve-se ao tamanho da conta, que
não se sabe bem quem vai pagar.
"Retrato falado" sugere crime,
mas não é disso que se trata -por
ora, ao menos. Há muito desconto
de imposto para empresas ("renúncia fiscal"). Se bem-feitos e capazes
de estimular novos empreendimentos relevantes, pode ser boa coisa.
Mas isenção fiscal, por vezes, redunda apenas em aumento localizado de
rentabilidade para algumas empresas, que embolsam o ganho, com
piora da situação das contas públicas
e escasso impacto na expansão ou na
produtividade econômica.
A medida mais inovadora, para
não dizer mesmo espantosa, é a intenção do governo de usar cerca de
R$ 10 bilhões dos R$ 20 bilhões que
"sobram" no caixa do FGTS para pagar parte das prestações da casa própria de famílias com renda até R$
1.750. O subsídio seria de 50% a 66%
do valor da prestação. Tais famílias
em geral não pegariam mesmo financiamentos. Não têm como pagá-lo. Mas o dinheiro não vai voltar para
o FGTS? Vai ser mesmo "dado"?
Outros R$ 5 bilhões que "sobram"
no FGTS iriam para um fundo de investimento em saneamento. Mas
quem faria as obras? Estatais, Estados e municípios não podem fazer
mais dívida. Empresas privadas?
Mas as novas regras para o setor estão paradas no Congresso. E como
seria o negócio? Seria um fundo de
empréstimos para as empresas?
Quanto aos descontos de impostos, um deles viria na forma de antecipação de uso de créditos de tributos (como a Cofins) para empresa
que invista em obras e novos negócios (as empresas vão pagar menos
imposto, em suma). Outro desconto
é a ampliação do prazo de recolhimento de outras contribuições sociais (em vez de mensalmente, poderiam sem recolhidas por trimestre.
Quanto mais tempo o dinheiro fica
no caixa, mais a empresa ganha, por
precisar de menos capital de giro ou
aplicar em juros, por exemplo).
Mais compras de máquinas e equipamentos industriais (investimento
produtivo) seriam isentas de impostos. Outra isenção em estudo, desconto quase total de impostos federais, deve ir para fundos de investimento em infra-estrutura.
As isenções para novos negócios
em infra-estrutura e o "Bolsa-casa"
podem ter impacto fiscal nulo e redundar em melhoria social e produtiva. Mas o diabo está nos detalhes, e os detalhes ora também estão escondidos ou indefinidos.
O governo quer também aumentar a capacidade de investimento
da Eletrobrás, a estatal que fornece
e transporta 60% da energia elétrica do país. Por norma legal, a estatal sofre vários impedimentos para
tomar empréstimos (no BNDES,
no exterior) e investir (o que investe entra na conta do déficit). Petrobras e Eletrobrás são responsáveis
por um quarto do superávit primário do governo federal. Como vai ficar a conta do déficit?
O retrato falado do plano Lula 2
está com uma cara boa, por ora. É
preciso saber se o esboço vai virar
uma carantonha quando passar
pela calculadora.
vinit@uol.com.br
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