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agrofolha
Custos podem dificultar maior qualidade no café
Processo de melhoria ocorre no momento em que o setor está com preços achatados
Setor conclui que qualidade significa custos maiores para produtor e indústria, mas consumidor terá de pagar mais pelo produto
MAURO ZAFALON
ENVIADO ESPECIAL A CAMAÇARI
As indústrias querem elevar
a qualidade do café consumido
no país. Para obter um café ainda melhor, são necessários o
envolvimento da produção no
campo, a melhora no processo
de industrialização e a aceitação do consumidor final. O engajamento de produtor e indústrias em projetos sustentáveis
também é recomendável.
Maior qualidade, no entanto,
pode significar custo maior em
toda a cadeia: produção, indústrias e consumo. Estariam todos afinados para esse desafio?
Essa é uma das questões que foram colocadas em evento que
reuniu indústrias, produtores,
exportadores e fornecedores de
equipamentos para o setor, na
semana passada, na Bahia.
Os números atualizados do
setor indicam que a tarefa não
será fácil. Desde o início do Plano Real, a inflação subiu 211%
em São Paulo e o café em pó teve aumento de 49,9% nas gôndolas dos supermercados.
Ou seja, enquanto os custos
aumentam, a renda cai no setor. Os dados são da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas), da USP.
Esse descasamento de preços
ocorreu no período em que a
indústria já vem elevando a
qualidade do café, com a adoção de um selo de qualidade.
Nesse mesmo período, porém,
houve grande concentração no
setor, tirando o poder de fogo
das empresas menores.
A adoção do selo de qualidade pelas indústrias faz com que
diminuam as empresas que,
além de café, oferecem "algo
mais" em suas embalagens, como palha de café, paus moídos e
outras misturas indesejáveis.
Do lado do produtor, a situação não é menos difícil. O preço
do café não acompanhou a evolução dos custos, forçando a
saída de muitos do setor. Os
preços do café estão estáveis há
quatro anos, segundo Nelson
Barrizzelli, da USP.
Quem não produzir pelo menos 40 sacas de café por hectare
não consegue fechar as contas.
E muitos produtores estão nessa situação, já que a média nacional é de 19 sacas por hectare.
Gigante na corda bamba
Há melhora na qualidade e
aumento na oferta de café de
qualidade, mas é preciso saber
até onde o consumidor está disposto a pagar por esse produto.
"O consumidor ainda está chegando muito devagar. Ainda é
preciso muito trabalho para
orientá-lo", diz Massimo Locatelli, da italiana Lavazza.
Eduardo Sampaio, da UTZ
Certified, diz que os consumidores, inclusive os da Europa,
já não estão tão dispostos a pagar por novos custos no café.
O produtor João Lopes Araújo, presente ao evento e com 36
anos no setor, reconhece a necessidade de melhorar a qualidade do café ao consumidor.
"Mas o programa cria custos. E
o retorno disso? Somos um gigante na corda bamba [referência ao fato de o país ser o maior
produtor mundial]."
Almir José da Silva Filho,
presidente da Abic (associação
que que reúne as indústrias e
que promoveu o 17º Encafé na
Bahia), diz que já está cansado
de ouvir que "nós [indústrias]
ficamos com os lucros e eles
[produtores] com o esforço".
Segundo Silva Filho, indústria e produtores devem caminhar juntos e fazer parcerias.
O problema é ainda maior
para as pequenas . A concentração de grandes grupos coloca-as em uma situação de "salve-se
quem puder". Apesar desse cenário, as pequenas são as que
têm as maiores oportunidades
de aproveitar parte dos 1,52 milhão de pontos de venda de café
no país, segundo Barrizzelli.
O jornalista MAURO ZAFALON
viajou a convite da Abic
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